João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

São João, sem dança nem fogueira

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

São João, sem dança nem fogueira

João José Leal

Meus pais me deram os prenomes de João e José. Porém, não nasci em 19 de março, dia de São José, padroeiro dos carpinteiros, que trabalham nas alturas para construir o telhado das nossas casas, abrigo das nossas famílias. Para a gente humilde e sofrida do sertão nordestino, São José é também o santo da abençoada chuva, tão escassa naquela maltratada região do nosso país.

Acreditam os nordestinos que, quando chove no dia de São José, como aconteceu neste ano, não haverá falta d’água e o verde voltará a se espalhar pela vegetação sertaneja. Ciência meteorológica ou crença supersticiosa, a verdade é que a água voltou a correr no leito dos rios. Os açudes encheram, alguns até sangraram. As plantações crescem pela terra quase sempre seca e ardente qual “fogueira de São João”, como cantou Luiz Gonzaga, na sua bela e conhecida canção.

E por falar em São João, também não nasci no dia de hoje, 24 de junho, data em que a igreja católica reverencia o santo que teria batizado a Jesus Cristo. Para história bíblica, o Batista foi decapitado por ordem do rei Herodes Antipas, a pedido de sua sobrinha e enteada, a bela Salomé. Assim, teria sido um dos primeiros mártires do cristianismo.

São João, sem dúvida, é um santo popular. Para começar, deu nome a inúmeras cidades brasileiras, como é o caso de São João da Barra, do Meriti, del-Rei, do norte, do sul, do leste e do oeste. É, também, o caso da nossa vizinha São João Batista, nome dado ao arraial fundado nas barrancas do rio Tijucas, nas primeiras décadas do já distante século 19. Não são apenas os nomes das muitas cidades joanenses.

No Brasil, a imagem de São João está no centro dos festejos do mês de junho. Antiga tradição da cultura popular brasileira, nem sempre prestigiada, as festas juninas estão associadas à ideia da vida simples da gente da lavoura. A culinária, a música, a dança, o traje caipira, o cenário das ingênuas e piegas apresentações teatrais, as superstições, tudo está claramente ligado à nossa cultura rural e sertaneja.

Aqui no Sul, as festas de São João estão perdendo espaço no calendário de eventos do mês de junho. Em nome da proteção ambiental e da segurança coletiva, poucas fogueiras são acesas, rojões e busca-pés sumiram das noites de São João. Neste ano, infelizmente, a tradição que vinha se perdendo na fumaça do progresso, sofreu mais um duro golpe.

Por causa da Covid-19 e do seu mensageiro da doença e da morte, esse terrível vírus coroado que nos deixa em pânico, as festas de sumiram do mapa. Neste 24 de junho, casamentos caipira não serão realizados, quadrilhas não serão dançadas e fogueiras não serão acesas.

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