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Viver é envelhecer a cada manhã

Quando jovens, nosso olhar está sempre voltado para a frente. Nossos projetos miram o futuro e desconhecem fronteiras temporais. Nossa vontade, sempre irrequieta, ousada, muitas vezes, fantasiosas, ignora barreiras. Enfim, nossa fértil imaginação vive cheia de sonhos, viaja além do horizonte que nos cerca e voa alto, acima das nuvens. Mas, tudo muda, com o […]

Quando jovens, nosso olhar está sempre voltado para a frente. Nossos projetos miram o futuro e desconhecem fronteiras temporais. Nossa vontade, sempre irrequieta, ousada, muitas vezes, fantasiosas, ignora barreiras. Enfim, nossa fértil imaginação vive cheia de sonhos, viaja além do horizonte que nos cerca e voa alto, acima das nuvens. Mas, tudo muda, com o tempo que passa rápido. E, quando nos damos conta, percebemos que já não somos jovens e que uma nova geração se formou para ocupar o nosso espaço.

A verdade, certa, é que a velhice chega, inexoravelmente, pois viver é envelhecer a cada dia que amanhece. E, então, passamos a fazer o balanço da nossa vida passada, contabilizando os projetos concretizados e os muitos que ficaram apenas no plano das intenções, perdidos no passado sem volta. Envelhecer é sentir que a nossa vontade perdeu o ímpeto, a ousadia e que futuro se restringe ao presente, quando muito, ao curto prazo, porque o nosso tempo corre veloz.

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Envelhecer é perder a capacidade física para caminhar rápido e correr em velocidade, quase a voar; para saltar muros, cercas e subir escadas sem contar degraus; para escalar montanhas, até o ponto mais elevado, sem perder o fôlego e sem pensar em recuar. Enfim, é sentir que a nossa imaginação perdeu o entusiasmo da juventude e que os sonhos já não têm asas para voar.

Então, chegada a velhice, vivemos boa parte do tempo a lembrar o passado, os fatos que marcaram as nossas vidas, as coisas que fizemos de bom, as vitórias que nos causaram prazer intenso. Ficamos a viajar através do tempo, em direção ao passado, a lembrar as boas ações e os momentos felizes, porque diz a canção popular, “recordar é viver”. E eu acrescento, é sonhar com a nossa vida passada, já que o futuro não nos pertence mais.

Lembrar o passado é, também, uma incursão no baú da tristeza, onde ficaram escondidas as nossas derrotas, os nossos atos inconfessáveis, as nossas fraquezas diante de que exigiam decisões corajosas e delas fugimos ou não conseguimos superá-las. Pessoalmente, sinto que recordar as nossas vitórias e, mesmo, os nossos fracassos, ajuda a enfrentar a solidão e a superar os momentos de ociosidade que a velhice traz consigo.

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Admiro os idosos que consideram a velhice uma terceira idade cheia de prazeres. E, mais ainda, os otimistas que dizem ser a “melhor idade”. Sem mágoa, sem rancor, sem ressentimento de qualquer espécie, penso que envelhecer é administrar perdas que aparecem por todos os lados.

Porém, não posso reclamar da minha vida. Hoje, completo 78 anos de idade com cabeça para pensar, com saúde física sustentada por muitas pílulas, com apetite para comer e com pernas para caminhar pelas ruas desta cidade, que adotei para constituir minha família.