Redução de participantes do Catarinense é horizonte possível para a FCF

Objetivo da medida é melhorar nível do campeonato e dificultar acessos de clubes menos estruturados, mas questão é mais ampla

Redução de participantes do Catarinense é horizonte possível para a FCF

Objetivo da medida é melhorar nível do campeonato e dificultar acessos de clubes menos estruturados, mas questão é mais ampla

João Vítor Roberge

Começa a surgir um debate no futebol catarinense sobre uma suposta necessidade de se reduzir o campeonato estadual a 10 clubes novamente, como foi de 2000 a 2002 e de 2009 a 2020. Um dos argumentos de quem defende a ideia é de que o nível do campeonato e do futebol catarinense melhoraria com a redução. E na semana passada,- o presidente da Federação Catarinense de Futebol (FCF), Rubens Angelotti, afirmou à rádio Cidade em Dia, de Criciúma, que gostaria da redução, cuja discussão caberá muito mais aos clubes.

O debate é bom. Não há ligação direta entre a redução de clubes de uma competição e uma melhoria da qualidade técnica. Basta olhar a campeonatos estaduais e nacionais que têm menos de 10 equipes. A redução não é uma medida que, por si só, resolve uma questão mais profunda.

Se é sobre a crise do Atlético Catarinense, sua péssima campanha e seus erros cometidos ao estrear na elite, os olhos precisam se voltar muito mais à Série B estadual. Em 2023, oito de nove clubes se classificam às quartas de final. Ou seja, o penúltimo colocado numa primeira fase poderá subir à Série A, no que seria, provavelmente, um passo muito maior do que a perna.

Angelotti fala em aumentar as exigências estruturais para disputar a Série A do Catarinense. Mas as atuais já não são todas cumpridas. O Concórdia não podia jogar à noite porque não havia iluminação disponível no Domingos Machado de Lima. É necessário pensar no tipo de exigência que se quer fazer considerando a realidade dos clubes e a margem que estes têm para se adequarem. Uma exigência simples, como iluminação, foi deixada de lado a um participante. E também não adianta elaborar requisitos inalcançáveis num futebol tão empobrecido.

Simultaneamente, há problemas estruturais em clubes menores. O colapso do Próspera foi até mais meteórico do que sua ascensão. O Atlético, sem estádio em São José, era mais forte em Palhoça, mas jogou no Orlando Scarpelli. Até mesmo o Brusque enfrentou problemas no passado recente, e só conseguia adaptar o Augusto Bauer às exigências porque tinha um patrocínio-mecenato.

Há apenas cinco estádios de alto nível hoje. Mas de pouco adianta a ótima estrutura do Orlando Scarpelli se o Figueirense está despedaçado como está. O Joinville tem grande estrutura e a Arena à disposição, mas o que é o JEC nos últimos anos? O Criciúma vive um grande momento hoje, mas há dois anos foi rebaixado num campeonato de 12 clubes. O Avaí se classificou às quartas de 2022 no oitavo lugar, sofrendo risco de rebaixamento. Em 2020, a Chapecoense quase caiu e foi campeã (se classificando no antepenúltimo lugar) porque teve meses de paralisação para corrigir seus rumos.

Como os cinco grandes, que deveriam ser os carros-chefes do futebol catarinense, têm contribuído para o chamado “nível” do campeonato? Até que ponto o problema está nos clubes pequenos que lutam para permanecer na divisão mais alta e muitas vezes padecem no caminho, e até que ponto o problema está nos grandes, que se tornaram máquinas de decepções aos seus torcedores? O problema parece maior, mais profundo, estrutural do futebol brasileiro, envolvendo muito mais do que somente as finanças e administrações individuais dos clubes. Chega a bater na questão da continuidade dos estaduais como os conhecemos.

O campeonato com 12 clubes, apesar dos pontos negativos, possibilita uma abertura maior ao futebol do estado. Com seis ou sete equipes menores, que, atualmente, brigam por vaga em Série D, há mais margem para se manter na primeira divisão, se fortalecer e começar a crescer.

Talvez Hercílio Luz e Concórdia tivessem muito mais dificuldades para se manter na primeira divisão com 10 clubes. Ambos enfrentaram dificuldades em seus retornos, mas têm sido forças relevantes nas últimas temporadas. Talvez o Marcílio Dias, que tem torcida fiel, já tivesse sido rebaixado depois de 2019. Talvez estes três vivessem gangorras entre as Séries A e B, deixando uma consolidação (ainda que cíclica) no cenário estadual à beira do inviável.

Reduzir os clubes da Série A não resolve o problema técnico e não impede que clubes menores cheguem à elite sem preparo e sofram. O penúltimo colocado da primeira fase da Série B de 2023 poderá disputar a elite de 2024 se conseguir se desdobrar e vencer três confrontos de mata-mata, e isto independe de quantos times estarão na elite. Na Série A, a maioria das rodadas não vale absolutamente nada, porque 67% dos clubes vai às quartas de final. A fórmula pode ser rediscutida.

Se os clubes e a FCF acharem que é o melhor, então que seja reduzida a quantidade de participantes. Mas sem ilusões sobre seus efeitos reais a curto prazo. Há muitos fatores envolvidos, que vão dos trabalhos individuais dos clubes (especialmente os maiores) à maneira com que os estaduais são mantidos.


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