José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Prometeu acorrentado

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Prometeu acorrentado

José Francisco dos Santos

Desde que foi anunciado o resultado das eleições presidenciais no ano passado, enchi-me de esperanças, especialmente em relação aos rumos da Educação no país. Há muito vinha expondo, através desta coluna, meu quase desespero em relação ao estado calamitoso da formação de professores, dos interesses infames que dominam os sistemas educacionais, a começar pela Unesco, pelo gravíssimo desvio de finalidade, que tornou a escola um lugar de alteração de comportamento e não de formação intelectual.

Não vou retornar aos detalhes agora. A lista é muito longa. Assim que o presidente eleito anunciou o nome do novo ministro da Educação, eu o chamei de “Hércules”, na esperança de que ele fosse iniciar o trabalho hercúleo de levar nossa Educação de novo aos trilhos. Dei com os burros n’água e continuo a ver navios. Não consigo antever nenhuma mudança significativa nessa área. Então, recorro a outra imagem mitológica, a de Prometeu Acorrentado, da tragédia de Ésquilo.

Prometeu é o titã da mitologia que teria criado o ser humano e que roubou o fogo dos deuses, entregando-a a suas criaturas, que “se aqueceram e se iluminaram”, desenvolvendo artes e engenhos. Zeus, no entanto, extremamente irritado, mandou acorrentar Prometeu a uma montanha, infligindo-lhe um terrível castigo: um corvo comeria o seu fígado durante o dia. À noite, o fígado cresceria, para ser novamente devorado pelo corvo no dia seguinte, e assim através dos séculos.

Nossa Educação está envolta em densas trevas. A formação intelectual do brasileiro caiu tanto, que os haitianos, que fogem de um país miserável e destruído, ficam horrorizados quando frequentam nossas salas de aula. Perdemos a disciplina, valores éticos fundamentais, perdemos nos rankings internacionais para países miseráveis da África.

O ofício de professor há muito deixou de ser um desejo comum no meio dos estudantes. Muitos professores estão mais empenhados em incitar os estudantes a experiência sexuais variadas, a debocharem do Sagrado e a desconsiderarem qualquer autoridade que a ensinarem as disciplinas para as quais foram contratados. O ambiente cultural está infestado de materialismo, prazeres fúteis, dissipação do tempo. Como Prometeu, parece que a própria luz está acorrentada, restando-nos apenas sermos devorados lentamente pelos corvos.

Mas ainda acredito que a luz vencerá. Na mitologia, conta-se ainda que Prometeu foi libertado por Hércules e pelo centauro Quíron, que foi o grande educador dos heróis gregos. No meio dessa decadência, vejo que há muitos jovens que, como por um tipo de iluminação interior, percebem nitidamente que as coisas estão desencaminhadas e não querem compactuar com isso. Igualmente, há muitos de nós, pais e educadores, que também vemos com clareza que o caminho não é esse.

Cabe a nós mantermos o fogo de Prometeu aceso, para que uma nova geração tenha a possibilidade de corrigir os terríveis desvios em que nos metemos. A fúria de Zeus é difícil de ser aplacada, mas Prometeu, segundo a tragédia de Ésquilo, guardava o segredo de quando ele seria derrotado e substituído. Em nome dessa esperança, não se dobrou ao algoz. Que seja firme também nossa esperança. Sabemos que as portas do Tártaro não prevalecerão!

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