Justiça é uma palavra de
significado amplo, que pode ser usada em diversos contextos. Em qualquer
agrupamento humano minimamente organizado, a existência de regras que garantam
a coexistência é imprescindível, e a aplicação da Justiça é uma das atribuições
fundamentais do Estado. Mas para além do seu aspecto legal, a Justiça se
encontra na lista das virtudes cardeais, e é enquanto virtude que nos propomos
analisá-la. A virtude da Justiça diz respeito às nossas ações e se liga
diretamente ao nosso relacionamento com as outras pessoas.
Aristóteles diz que a Justiça
trata “daqueles atos que tendem a produzir e a preservar, para a sociedade
política, a felicidade e os elementos que a compõem”. Uma ação justa não é a mais
vantajosa para o agente, mas a que reforça o bem da comunidade na qual ele
vive. O homem injusto, por ser ganancioso, tenderá a buscar para si mais que a
medida que lhe convém, no caso das coisas agradáveis, e menos que a medida, no
caso das desagradáveis. Um senso apurado de Justiça nos leva a procurar essa
justa medida na nossa relação com as outras pessoas. Esse é, aliás o objetivo
de toda lei bem feita. A lei e o aparato coercitivo que ela envolve só existem
porque nem sempre todos buscam esse equilíbrio, e é preciso enquadrar e punir
os infratores, para o bem da sociedade.
Quanto mais virtuosas são as
pessoas, menos energia se demanda de quem tem o mister de dirigir a sociedade e
administrar a Justiça. No caso do Brasil, essa talvez seja a nossa pior faceta.
Não à toa nos surpreendemos com a prisão dos mensaleiros, o que em países mais
civilizados seria uma coisa tão óbvia que mal daria manchete para um dia. A
corrupção consome uma parte enorme do nosso PIB e dos nossos impostos, mas ela
não é privilégio dos que têm poder. Vejam a dificuldade que as empresas
enfrentam com o número cada vez mais elevado de funcionários que se utilizam de
todo tipo de artifícios para burlarem o dever do trabalho, a indisciplina no
trânsito, as constantes queixas de perturbação do sossego, os calotes
constantes no comércio, a quase impossibilidade de se cobrar uma dívida no
nosso sistema judiciário.
Não há aparato policial ou
judicial que possa dar jeito numa nação formada por gente indisciplinada e
cheia de vícios. O que precisamos desenvolver, urgentemente, é “a retidão de
espírito, pela qual fazemos o que devemos fazer, em qualquer situação”, que é o
modo como Tomás de Aquino define a virtude da Justiça. Que essa retidão corrija
nossos caminhos tão tortuosos.