Lideranças de Brusque e região analisam crise no governo Temer

Avaliação é que consequências atingirão prefeituras e economia nos municípios

Lideranças de Brusque e região analisam crise no governo Temer

Avaliação é que consequências atingirão prefeituras e economia nos municípios

A informação de que o presidente da República, Michel Temer (PMDB), foi gravado dando aval para comprar o silêncio do ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) abalou Brusque e região. Políticos e entidades avaliam que o país está à beira de mergulhar novamente numa crise político-econômica.

Ontem, nos últimos desdobramentos da delação de Joesley Batista, dono da JBS, os apartamentos do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), no Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF), foram visitados e documentos foram levados pela Polícia Federal. O gabinete dele no Senado também foi alvo de buscas.

Aécio, ainda ontem, foi afastado do cargo de senador por determinação do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também pediu a prisão do político mineiro, mas a solicitação foi negada.

A irmã de Aécio, Andrea Neves, foi presa ontem, acusada de pedir R$ 2 milhões em nome do senador ao empresário Joesley.  Segundo reportagem de Lauro Jardim, do jornal O Globo, ela foi filmada recebendo a propina.

Na mesma manhã, o procurador da república Ângelo Goulart Villela também foi preso, acusado de ter sido infiltrado pelo grupo JBS para receber informações sobre a Operação Greenfield, da Polícia Federal.

O deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), também afastado do mandato, foi filmado recebendo uma mala de dinheiro, após ter sido indicado por Temer para resolver questões de interesse da JBS, conforme O Globo.

Temer investigado
O presidente Michel Temer virou, oficialmente, investigado na Operação Lava-Jato, após o relator do processo no STF, Luiz Edson Fachin, ter autorizado a abertura de inquérito, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).

As delações de Joesley e de seu irmão, Wesley Batista, foram homologadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Temer emitiu nota, na qual negou ter pagado ou dado autorização para o pagamento de propina a Eduardo Cunha. O senador Aécio Neves disse “estar tranquilo” quanto à operação e à verdade sobre os fatos.

Ontem, pouco depois das 16h, o presidente fez um pronunciamento oficial. Ele disse que não renuncia ao mandato, como estava sendo cogitado em Brasília.

“Não renunciarei, sei o que fiz, sei da correção dos meus atos, exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”, afirmou, em pronunciamento no Palácio do Planalto. “Se foram rápidos nas gravações clandestinas, não podem tardar nas investigações”.

Temer disse que “o governo viveu nesta semana o seu melhor e pior momento”, citando os indicadores de inflação e geração de emprego, os quais “criaram esperança de dias melhores”.

Ele voltou a negar que tenha avalizado o pagamento de mesada a Eduardo Cunha em troca de seu silêncio, conteúdo que consta na delação de Joesley Batista, empresário dono da JBS.

“Ouvi o relato de um empresário que auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento nesta conversa. Em nenhum momento autorizei que pagassem quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém, porque não temo nenhuma delação. Nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome”, discursou. No áudio vazado, no entanto, deu aval para os pagamentos: “Tem que manter isso, viu?”, disse ele.

O ministro das Cidades, Bruno Araújo, do PSDB, entregou o cargo ontem, assim como Roberto Freire, do PPS, que estava na Cultura. A expectativa é que outros façam o mesmo.

Consequências devem afetar os municípios, dizem prefeitos

Os prefeitos Matias Kohler (PP), de Guabiruba, e José Luiz Colombi, o Nene (PDMB), estavam em Brasília, para a Marcha dos Prefeitos, quando o escândalo foi divulgado na quarta-feira, 17, à noite.

“Pode atrapalhar votações importantes, como a da redistribuição do ISS. Estamos pressionando os deputados para derrubar o veto no projeto”, afirma Nene.

De acordo com o prefeito, se o veto do projeto do ISS for derrubado pelos deputados, poderia render R$ 100 mil para Botuverá por ano, por exemplo. Para ele, o maior impacto das denúncias contra o presidente e os senadores é a insegurança política.

Kohler relata que o momento é delicado para as prefeituras. “Estamos apreensivos. As falas nesta manhã [ontem] vão nessa linha de que pode haver prejuízo”. Para o prefeito, tudo depende de como o Congresso Nacional irá reagir às delações.

Crise impacta economia, avaliam empresários de Brusque

Um dos maiores trunfos que Michel Temer tinha até a eclosão do escândalo eram os indicadores econômicos. A inflação foi controlada e a geração de empregos começava a dar sinais de melhora. Para o presidente da Associação Empresarial de Brusque (Acibr), Halisson Habitzreuter, a crise política terá efeitos negativos na economia.

“Ficamos preocupados com os rumos da economia, porque as reformas necessárias estavam sendo feitas”, afirma. Ele avalia que só agora, um ano depois da saída de Dilma Rousseff (PT) da presidência, é que o Brasil começava a, de fato, sair da crise.

O assunto deve fazer parte das conversas dos associados da Acibr. Para Habitzreuter, apesar do escândalo, enquanto estiver no cargo, Temer tem legitimidade para levar a cabo as reformas que já foram propostas.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Brusque, Michel Belli, avalia que os empresários, brasileiros e estrangeiros, voltarão a ficar temerosos a injetar dinheiro na economia, o que tem impacto em cascata na geração de empregos.

“Está provado que todos estão ligados, independentemente de partido político”, afirma Belli. Para ele, a notícia é “lastimável”.

Políticos e empresários avaliam possibilidade de impeachment

Ainda ontem, diversos pedidos de impeachment contra Michel Temer foram protocolados na Câmara dos Deputados. Para os políticos da região, é preciso respeitar a letra fria da lei e, se ela indicar crime de responsabilidade, o impedimento pode ocorrer.

O vice-prefeito de Brusque, Ari Vequi (PMDB), avalia que o momento político é delicado. “É lamentável para o país mais uma crise nesse momento”. Para ele, ainda é cedo para avaliar se haverá impeachment, mas é certo que será traumático para a nação.

O prefeito de Botuverá, Nene Colombi, defende que a lei seja respeitada. Se a denúncia resultar na comprovação do crime, o impeachment é a saída. O chefe do Executivo guabirubense, Matias Kohler, vai na mesma linha e defende que a legislação seja respeitada, seja o presidente ou qualquer outro cidadão.

O presidente da CDL de Brusque, Michel Belli, não acredita que chegará a ter impeachment, porém, defende a legalidade. Halisson Habitzreuter, da Acibr, diz que o impedimento será ruim para o país. 

O coordenador do Fórum de Entidades Sindicais de Brusque, João Decker, é a favor da deposição de Temer. “A justiça tem que ser feita doa a quem doer, o país não merece passar por isso”, diz. “Esse presidente não tem moral nenhuma nem para fazer as reformas”, completa.

A esperada renúncia de Temer, que não veio ontem, não foi surpresa para o deputado estadual Serafim Venzon (PSDB).

“Muita gente apostava na renúncia. Eu conheço bem o Michel Temer, fui deputado dez anos com ele. Ele é firme, é persistente, não é qualquer tormenta que faz ele desistir”.

Presidente do PMDB municipal avalia impacto

O presidente do PMDB de Brusque, Danilo Rezini, diz estar consternado com os escândalos no partido em Brasília. Para ele, a sucessão de delações tem como impacto a descrença da população na política. “É lamentável que novas situações aconteçam, principalmente envolvendo o presidente”.

Para Rezini, o fato de Temer ser peemedebista tende a respingar no PMDB de Brusque. “Respinga no PMDB como um todo, mas somos uma pequena parte, aqui em Brusque. E não temos vínculo com esses problemas”.

Deputado tucano diz que é preciso cautela na avaliação

O deputado estadual Serafim Venzon, do PSDB, avalia com cautela o resultado das revelações da JBS. “Este é um momento em que está todo mundo atirando e usando do expediente de delação premiada para beneficiar a si ou beneficiar a outros”, diz.

“Tem que haver uma investigação ampla para elucidar. Pode ser verdade, mas também pode ser uma armação”, analisa Venzon.

O deputado diz que é preciso investigar a fundo a delação da JBS, porque pode estar sendo armada “alguma arapuca” para o governo.

Venzon também disse que Temer poderia ter evitado esse crise se tivesse cumprido promessa feita por ele anteriormente, logo após ter sido gravado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero.

“Ele uma vez falou uma coisa que deixou de fazer, que era gravar todo mundo que viesse falar com ele. Porque senão dá margem para uma porção de safadeza, como pode ser essa”, disse.



Especialista analisa

Carlos Eduardo Sell, doutor em sociologia política

“Embora prognósticos ainda sejam prematuros, as acusações contra Aécio Neves, Michel Temer e, antes disso, ao próprio Lula, mostram a consolidação do Estado de Direito no Brasil. A lei é válida para todos. Sem a Lava-Jato este processo não seria possível. A curto prazo, a crise política vai piorar drasticamente e não está descartada a renúncia de Michel Temer ou sua cassação pelo TSE. Caso continue no governo, encontra-se politicamente morto e não tem condições de implementar sua agenda de reformas, base de sua sustenção política. O importante é não se deixar levar pelo engodo das eleições diretas que é inconstitucional e que só representa os interesses imediatos do PT e de Lula que quer se aproveitar da situação para conseguir foro privilegiado (fugir da cadeia). A ordem democrática deve ser mantida, apesar da crise”.

 

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