José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Mais 300 anos?

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

Mais 300 anos?

José Francisco dos Santos

Os jornais divulgaram, na semana passada, um relatório do Banco Mundial que estima em 260 anos o prazo para que o Brasil chegue ao patamar de plena alfabetização. Eles calcularam isso com base nas análises do desempenho dos estudantes brasileiros em testes internacionais. Ora, não é de hoje que o nosso desempenho intelectual é de causar horror. Estamos sempre nas últimas posições.

Quando o senador Cristóvão Buarque esteve em Brusque, no ano passado, para sua conferência magna sobre o bicentenário da independência, afirmou que o 7X1 que o Brasil levou da Alemanha na copa do mundo envergonhou o país inteiro. Mas levamos de 100X1 todos os dias para a Alemanha, em termos de Educação, e ninguém parece se envergonhar com isso. Na fala que fiz no mesmo evento, ressaltei que não basta ter escola para todo mundo, mas que é necessário e urgente rever drasticamente nossos métodos de ensino, nossa concepção de vida intelectual.

Para vislumbrar uma época de escola de qualidade não é preciso ir para a Alemanha: basta relembrar nosso próprio passado. Há 50 ou 60 anos, formavam-se pessoas muito mais gabaritadas em linguagem, ao final do ensino médio, que a maioria dos nossos cursos superiores em Letras de hoje. Aprendia-se latim e francês, e ler com desenvoltura numa língua estrangeira era o básico que se esperava de um pré-universitário. Hoje, nossos formados da universidade têm enorme dificuldade de entender e escrever na língua pátria. A leitura é quase nula. O nível do debate intelectual é rasteiro.

O que aconteceu nesse tempo? O português ficou mais difícil? Ou será que os métodos de alfabetização, as teorias pedagógicas e o afrouxamento disciplinar que dominaram as últimas décadas são a causa dessa decadência? Não tenho dúvida em marcar a segunda alternativa.

Quando ninguém sabia quem era Paulo Freire ou Emília Ferreiro, a alfabetização ia de vento em popa. A criança dominava os sinais linguísticos na segunda série, no máximo. A partir daí, era um chá de gramática, redação, exercícios, leitura. Não tinha como não aprender.

Para os defensores dos novos métodos e teorias, eu respondo com uma frase do Evangelho: “pelos frutos conhecereis a árvore”. Se essa nova pedagogia está produzindo frutos tão ruins, que nos mergulha num fosso de alfabetização do qual levaremos 260 anos para sair, não me parece uma árvore boa. Qualquer pessoa de bom senso pelo menos pararia e coçaria a cabeça para tentar entender o que está dando errado. Mas aqui há uma insistência cega nessas teorias e métodos e a Base Nacional Comum Curricular do Ministério do Emburrecimento as colocou como padrão para o país todo. Ora, se continuarmos com o mesmo pensamento pedagógico que fez decair tanto a qualidade da nossa Educação, estaremos cada vez piores, hoje, amanhã ou daqui a 300 anos. É hora de rever com seriedade nossos propósitos, nossas ideias e práticas pedagógicas. Estamos dando vexame para o mundo ano após ano. Que saudade do “Caminho Suave” e do “Barquinho Amarelo”!

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