Mais condições, menos compromisso: times de Botuverá sofrem com perda de interesse dos jovens
Disputa de espaço com a tecnologia dificulta trabalho do futebol amador
Apesar da força atual do futebol amador de Botuverá, muitos clubes da cidade relatam a dificuldade para engajar os jovens a assumirem o compromisso com os times nos dias de hoje. Várias equipes têm dificuldades para montar elencos para a disputa de campeonatos, enquanto outras já deixaram de existir pela falta de mobilização nas comunidades.
Por causa da dinâmica econômica, Botuverá teve uma população maior na metade do século passado do que possui atualmente, já que atividades econômicas fortes na cidade, como o cal e o fumo, foram perdendo força ao longo das décadas.
Além disso, com a evolução da tecnologia em escala mundial, os jovens passaram a ter mais opções de lazer, principalmente com celulares e computadores, que permitem conectar botuveraenses com pessoas de todos os lugares.
Neste sentido, o presidente do Águas Negras, Bernardino Vitorino, considera muito mais fácil para os jogadores irem até os jogos atualmente. Por outro lado, é muito mais difícil convencê-los a assumirem a responsabilidade.
“Hoje todo mundo tem carro, moto, antigamente era muito mais difícil. Mas também era muito mais simples para fazer time, as pessoas não tinham muito o que fazer. Agora é um pouco mais complicado, tem outras diversões. Chegamos a ter duas divisões em Botuverá, hoje isso decaiu”.
Ex-diretor do Ourífico, Ivo Barni destaca que a equipe, durante as décadas de 1960 e 1970, representava mais do que apenas um time, em uma época que o Ribeirão do Ouro nem pertencia ao município de Botuverá.
“O Ourífico não representava só um time de futebol, mas a integração das comunidades, principalmente de Brusque a Vidal Ramos. Tinha torneio praticamente toda semana. Íamos para torneios de caminhão no sábado à tarde, e o jogo era domingo. À noite tinha baile e a gente voltava só na segunda-feira de manhã. Depois do jogo tinha mais bebedeira, a gente dormia na casa das famílias”, conta.
Ex-presidente do Vila Nova do bairro Vargem Grande, Ilton Avi afirma que a mobilização no clube foi diminuindo ao longo dos anos gradativamente. Desde 2011, a equipe não disputa mais torneios por conta própria.
“Quanto mais para trás a gente pensar, mais mobilização da comunidade. Antes não tinha vaga para todo mundo ir nos caminhões, picapes, para jogar, ver ou se divertir. Hoje em dia, não temos nem pessoas para formar um time para jogar. Uma das coisas que está estragando o nosso amador é a falta de compromisso de participar”.
Ligação com os bairros
Ivo recorda que o Ourífico foi fundado em uma época em que a localidade era mais populosa do que atualmente, mas não tinha energia elétrica. O rádio “só tinha na venda”. O futebol nas tardes, então, era uma das poucas diversões no Ribeirão do Ouro.
“A atração da época eram as canchas de bocha à noite e o futebol à tarde. Os torneios eram as grandes atrações. Maior que o Ourífico, para nós que somos do Ribeirão do Ouro, só tinha o Barcelona. Aquilo marcou as pessoas, era ponto de confraternização”.
Tesoureiro do Grêmio, Rogério Comandolli lembra que as confusões nos jogos eram bem mais comuns no passado, mas que a ligação das pessoas com os times dos bairros já não é a mesma.
“Hoje, a diversão não é só o futebol, os jovens buscam outras coisas. A geração mais antiga não tinha tantas opções, por isso existia essa gana de jogar e a rivalidade. Mudou bastante. A ligação com os bairros era enorme, era muito competitivo. Não tinha uma convivência mais ampla, então tinha mais brigas. Era quase uma tradição jogar futebol, era um dos únicos lazeres coletivos da época”.
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