Os Curtas do Oscar
Piper – Descobrindo a vida
O Curta da Pixar que ganhou o Oscar de Melhor Curta em Animação desse ano foi o fofíssimo Piper, que conta a graciosa história de um passarinho que está em processo de aprendizagem. Um dos desafios que ele tem de enfrentar é conseguir se alimentar sozinho, mas a inocência da meiga ave faz com que ele passe por um trauma aquático (kkk). O curta passa uma linda mensagem sobre a importância de superarmos os nossos traumas e a vitalidade de nos reerguermos após os nossos erros, sempre lutando para descobrir ao máximo o que a vida tem de bom para oferecer.
Extremis
Indicado ao Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem, o documentário original da Netflix é extremamente emocionante. O curta mostra os últimos dias de vida de pessoas ligadas a máquinas nas UTI’s. Os desafios dos médicos e as decisões dos familiares entre desligar os aparelhos e evitar o sofrimento ou mantê-los vivos lutando por uma iminente derrota. É impossível terminá-lo de assisti-lo e não querer ir correndo dizer “eu te amo” para as pessoas que você ama. São 24 minutos que nos fazem pensar sobre a necessidade de vivermos o agora (o famoso carpe diem), porque de um momento para outro nós podemos não estar mais nesse mundo, ou estarmos, mas sem viver, somente existindo.
Os Capacetes Brancos
Vencedor do Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem, The White Helmets possui 40 minutos de duração, minutos estes que deveriam ser vistos por todos os seres humanos na face da Terra! O documentário, também disponível na Netflix, retrata a rotina dos Capacetes Brancos (C.B.), uma organização na Síria que surgiu em 2013 e conta com mais de 2900 civis trabalhando voluntariamente em 120 centros por todo o país. Sua principal função? Salvar vidas.
São pessoas comuns que lutam diariamente (sem folgas nem feriados) em missões de resgate. Sempre a postos para ajudar as vítimas dos bombardeios aéreos dos aviões russos e dos carros-bombas dos extremistas Islâmicos. Em meio às refeições, o som de aeronaves é a chamada da destruição. Não existem hospitais, nem farmácia da esquina, nem padaria do bairro, nem parques ou lugares pra passear, há somente escombros e corpos do povo sírio massacrado.
Os C.B. não protegem ou defendem seu país carregando uma arma, tirando vidas, realizando chacinas e derramando sangue, são pessoas que salvam sua amada terra amparando sobreviventes: “salvar uma vida é salvar toda a humanidade” nas palavras de um dos C.B.
O documentário é chocante, as cenas da realidade síria são desesperadoras: uma delas mostra um bebê, de somente uma semana de vida, sendo tirado dos escombros de um prédio bombardeado. É triste pensar que, da maneira como estão as coisas, ou o menino morrerá antes de conhecer os seus salvadores ou seus salvadores morrerão antes do menino aprender a dizer “obrigado”.
Após quatro anos de guerra, mais de 400 mil sírios foram mortos e milhões deixaram suas casas; no mesmo período 130 C.B. foram mortos (vítimas dos mais de 200 ataques aéreos diários) e 58 mil vidas foram salvas por eles. Números que representam o horroroso cotidiano dos indivíduos que lutam pelo bem da humanidade, sem ter perspectiva nenhuma de uma solução para esta guerra, mas que acordam todos os dias com esperança, persistência e trabalho duro.
Pedro Rabelo de Araújo Neto – 17 anos – calouro no curso de Relações internacionais na UFSC
Moonlight
Por enquanto, não há muito o que se possa fazer: Moonlight vai ser muito mais conhecido pela confusão do Oscar do que pelos méritos do filme em si. Mas, a gente nunca sabe: de repente o prêmio quase “roubado” sirva para que mais pessoas tenham curiosidade e vejam o filme. Com certeza, muita gente vai se surpreender.
O filme talvez seja o oposto de La La Land… e não estamos aqui falando em cores de pele. Enquanto o musical aposta na leveza exagerada, Moonlight não desvia das situações mais pesadas da vida do menino negro que tem que lidar com a decadência da mãe viciada em crack e com o bullying constante que sofre na escola, em uma Miami que lembra demais a América Latina. A figura paterna encontrada em um traficante local (Mahershala Ali, ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante e super bola da vez, estando também presente em Hidden Figures) e a descoberta confusa e silenciosa da sexualidade do menino são, ambos, retratados com uma simplicidade limpa, com um drama muito menos óbvio do que estamos acostumados a ver no padrão hollywoodiano.
Talvez essa visão “no filter”, aliada ao modo como a história é contada (lembrando que o filme também ganhou o prêmio de melhor roteiro adaptado), não atraia uma legião de apaixonados tão eufóricos como os do musical concorrente… mas acho que dá para apostar que seus fãs não o esquecerão tão facilmente…
Claudia Bia – editora do Like