Micro e pequenas empresas de Brusque se qualificam para atender mercado nacional
Esforço conjunto do Sindivest e da Ampebr visa popularizar a certificação ABVTEX
Esforço conjunto do Sindivest e da Ampebr visa popularizar a certificação ABVTEX
As grandes redes varejistas de roupas – como Renner, Marisa, C&A e outras – têm se voltado cada vez mais para os fornecedores brasileiros nos últimos anos. Cientes disso, as micro e pequenas empresas de Brusque e região buscam a profissionalização e a certificação de qualidade para aproveitar o bom momento e se inserir no competitivo mercado nacional.
A Associação das Micro e Pequenas Empresas de Brusque e Região (Ampebr) está capitaneando o trabalho com aos associados para a obtenção da certificação da Associação Brasileira do Varejo (ABVTEX). O Sindicato da Indústria do Vestuário de Brusque e Região (Sindivest) também conta com uma comissão em nível estadual para tratar especificamente deste assunto.
O selo é necessário para que qualquer empresa – independente de porte – possa vender ou produzir para os grandes magazines. Há muitas no município que já possuem a certificação, mas a novidade é o interesse de micro e pequenos empresários, inserindo-se no mercado brasileiro.
O advogado Luiz Henrique Eccel representa o Sindivest e a Ampebr em diversos comitês e grupos de discussão. Ele explica que a certificação ABVTEX é obrigatória e indispensável para todos os fornecedores dos grandes grandes magazines.
“Precisam passar pela certificação também os terceirizados, ou subcontratados, como estamparias e confecções”, explica o advogado, que também é o coordenador do núcleo da ABVTEX recém-criado pela Ampebr.
O presidente da associação, Ademir José Jorge, diz que o núcleo terá papel fundamental para explicar melhor o que é e qual é a importância da certificação ABVTEX aos associados. “São muitas normativas pedidas pela ABVTEX, é bem complexo. O núcleo vai colaborar com isso”, afirma.
Tudo legal
A ABVTEX foi criada por grandes varejistas com o objetivo de qualificar o setor e evitar denúncias de trabalho escravo ou reclamatórias trabalhistas. A linha de raciocínio é simples: todas as partes envolvidas devem estar de acordo com a legislação.
Eccel explica que a certificação não é sobre a qualidade do tecido ou da costura, mas da empresa e seus processos. Os técnicos da ABVTEX avaliam, por exemplo, se os funcionários estão todos registrados, assim como se a empresa está com o pagamento de impostos e obrigações trabalhistas em dia.
Essas normas devem ser seguidas não só pela contratada, mas também por terceirizados. Um exemplo claro e comum: a Renner contrata uma confecção, que então subcontrata uma estamparia. “Tanto a empresa quando os terceirizados devem ter o ABVTEX”, esclarece o presidente da Ampebr.
De acordo com o advogado Eccel, obter a certificação equivale a uma habilitação para fornecer para os grandes magazines. O selo acaba por abrir portas para micro e pequenas empresas – como confecções, estamparia, talharia e facções, bastante comuns em Brusque.
A empresária Rita Conti é proprietária da RC Conti, que produz para várias redes varejistas. A RC Conti é um exemplo de empresa que segue à risca as normas da ABVTEX.
Existe uma pessoa responsável apenas em fiscalizar o cumprimento das normas. O setor de Recursos Humanos também presta atenção especial neste aspecto, segundo Rita.
“É um conjunto de normas que assusta num primeiro momento, mas que no médio e longo prazo vale a pena”, diz a empresária.
A empresa possui ABVTEX desde a sua criação, em 2010. Segundo a empresária, existe um grupo de companhias já consolidadas com a certificação na cidade.
Mais avançados
Rita também é presidente do Sindivest. Ela ressalta que o sindicato já trabalha o selo ABVTEX com os associados. Segundo ela, as companhias mais antigas de Brusque que têm a certificação estão num estágio mais avançado de pedir algumas modificações no selo em alguns pontos considerados muito radicais.
A entidade faz parte, inclusive, da Comissão Multissindical de Normas de Santa Catarina. Criada em 2016 por oito sindicatos patronais do estado, representa cerca de 8,9 mil empresas.
O grupo reivindica mudanças e sugere melhorias nas regras impostas pela ABVTEX às indústrias têxteis e vestuaristas de Santa Catarina. Os integrantes participam de reuniões e tomadas de decisões na Abit, em São Paulo.
O diálogo com a ABVTEX, além da Comissão Multissindical, ocorre por meio do Comitê do Vestuário da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), do qual o advogado Luiz Henrique Eccel também faz parte. Segundo Rita, esse grupo é importante porque consegue modificar exageros, para que os novos tenham um caminho melhor.
Para a empresária e presidente do Sindivest, a iniciativa da Ampebr é benéfica para o setor, na medida em que mais empresas estão formalizadas. Rita avalia que a concorrência fica mais leal, pois os legalizados não têm como competir com ilegais.
Nos últimos anos, os grandes varejistas se voltaram, de novo, para o mercado interno. Antes, com o câmbio favorável, era mais barato pagar para confeccionar na China e outros países do Sudeste asiático para revender no Brasil. A crise inverteu a lógica.
Hoje, é mais vantajoso produzir dentro do Brasil e revender ao mercado interno, que aos poucos retoma o nível de consumo. Segundo a Abit, a produção do vestuário cresceu 3,5% em 2017 em relação a 2016, por exemplo.
Ainda de acordo com a Abit, o faturamento da indústria têxtil e da confecção teve resultado melhor em 2017. Cresceu 5,6% em relação ao ano anterior e chegou aos R$ 144 bilhões.
Os números favoráveis dão ânimo para que micro e pequenas empresas busquem a certificação ABVTEX para produzirem para empresas maiores.