Modo de fazer o tradicional cachorro-quente de festa brusquense pode virar patrimônio imaterial; confira as receitas
Alimento é visto como uma expressão cultural local
Alimento é visto como uma expressão cultural local
O tradicional “modo de fazer cachorro-quente de festa” de Brusque pode virar Patrimônio Cultural Imaterial da cidade. A iniciativa foi aprovada pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Natural e Artístico Cultural de Brusque, o Comupa. O processo de consulta pública está aberto até dia 5 de dezembro.
Para a aprovação, a equipe do conselho considerou que o modo de fazer o alimento envolve uma confecção peculiar. Destaca-se o uso da linguicinha no lugar de salsicha. “Isso também remete à memória, aos sentimentos e ao afeto da comunidade. É algo que as pessoas lembram com muito carinho”, aponta o historiador Álisson Sousa Castro, da Fundação Cultural de Brusque.
Ele conta que a ideia inicial era investigar tanto o cachorro-quente quanto o churrasco de festa brusquense. Neste segundo, contudo, foi verificado que muitas comunidades terceirizam o serviço com uma empresa de Gaspar, o que pesou na avaliação.
Já o cachorro-quente foi verificado como totalmente local.
“Eu, como sou de fora, pois me criei em Itajaí, uma das coisas que me chamou bastante a atenção foi justamente o uso da linguicinha no lugar da salsicha no cachorro-quente. Diante dessa constatação de que é algo típico daqui, por conta da influência da colonização alemã, vimos que é uma peculiaridade, por isso decidimos fazer o registro do cachorro-quente de festa”, explica.
Para fazer a investigação, duas comunidades foram observadas pelo corpo técnico do Comupa: a de Azambuja e de São Luís Gonzaga, no Centro. Nelas, a variação na receita observada ocorre no preparo da linguicinha, que pode ser assada ou cozida, e nos elementos do molho.
Em ambas as comunidades, o pão de cachorro-quente é adquirido na padaria Sassipan. O pão já vem cortado no meio e a embalagem vem totalmente lacrada.
Com relação à linguicinha, é utilizada a mista do Açougue Bruns. No preparo na comunidade São Luís Gonzaga, são assadas 50 por vez, pois é o que preenche uma travessa. Elas foram colocadas, juntamente com o molho, depois de assadas e cozidas por aproximadamente 4 horas.
Já na comunidade de Azambuja, são utilizadas aproximadamente 235 linguicinhas, que são fervidas, separadas e adicionadas à panela onde se cozinha o molho. Em ambos os processos, tanto o pão quanto a linguicinha são adquiridos de fornecedores cujo processo de fabricação a equipe não teve acesso.
Para o preparo do molho na comunidade São Luís Gonzaga, é necessário cortar 20 tomates, dez cebolas e cinco cenouras e triturar no processador. Depois de despejar na panela, é preciso adicionar um pouco de orégano. Então, é necessário ferver por aproximadamente 3 horas e 30 minutos.
Enquanto isso, as linguicinhas são assadas em uma travessa de metal untada com banha, que também é passada acima das linguicinhas. Depois de assada, deixa-se escorrer a gordura das linguicinhas, separando-as em outra travessa.
Depois disso, as linguicinhas são colocadas em uma panela e são cozidas mais um pouco com o molho. Para servir, é aberto o pão e adicionado o molho e a linguicinha
No preparo do molho da comunidade de Azambuja são utilizados como medida um balde de cebola e um balde de tomate picado para aproximadamente 500 linguicinhas. A cebola e o tomate são batidos no processador e despejados na panela onde são adicionados molho de tomate, sal, colorau e pimenta a gosto. Além disso, a comunidade adiciona também salsinha e cebolinha.
Depois de triturado, o tomate com cebola, salsinha e cebolinha são despejados em uma panela grande e são fervidos. Então, são adicionados quatro quilos de extrato de tomate e tudo é fervido por aproximadamente 40 minutos. Neste momento, são adicionados molho de pimenta, colorau e sal.
As linguicinhas, cozidas à parte, são retiradas da água e são cortadas nos nós para a separação. Em seguida, elas são adicionadas à panela do molho e são cozinhadas por mais 40 minutos.
Após finalizado, o molho fica reservado um pouco para esfriar na geladeira. Depois ele é esquentado novamente na hora de servir o cachorro-quente. Na comunidade de Azambuja aproximadamente 15 pessoas preparam o alimento.
O historiador explica que, nos próximos anos, o modo de fazer do tradicional cachorro-quente pode mudar. Antes, conforme ele, o próprio Santuário de Azambuja fazia os pães. Agora, como são vendidos mais de 20 mil cachorros-quentes em um único período festivo, os pães são comprados de uma padaria local.
“A ideia é fazer um registro, que é renovado a cada dez anos, porque a própria dinâmica da comunidade se renova. O importante é o processo, que vai se alterando ao longo do tempo. Pode ser que daqui eles voltem a fazer o próprio pão, ou que acabe. Mas o processo de registro é para marcar uma distinção e fazer um reconhecimento daquilo que remete à memória e o afeto dos brusquenses”, completa.
Como o processo está aberto para consulta pública, os interessados em fazer alguma manifestação podem realizá-la até 5 de dezembro. A manifestação deve ser protocolada na Sala dos Conselhos Municipais, no 2º andar da Prefeitura de Brusque. Ou pode ser feita de forma on-line, ao enviar um e-mail para [email protected] no prazo estipulado.