Aproveito a sugestão e a assessoria técnica do engenheiro Armando Micelli, leitor assíduo desta coluna, para refletir sobre um tipo específico de “aliciamento”, no qual nossas cidades tendem a cair: a ideia de que uma cidade desenvolvida é a que tem grandes edifícios.
Lembro-me de como essa ideia era fixa na minha cabeça, quando eu era garoto. Ressentia-me de que as cidades vizinhas tinham prédios altos e a minha não. Era quase como um tipo de humilhação.
A imagem de grandes e prósperas cidades com seus arranha-céus é um lugar comum na nossa imaginação, mas é um erro histórico, no qual não precisamos cair hoje.
Recentemente, a cidade de Itajaí viveu um debate assim, quando discutia seu plano diretor. Mas os argumentos econômicos prevaleceram, e o centro e a Praia Brava estão se tornando um amontoado de prédios, como há muito já é Balneário Camboriú. E é incrível como os estudos técnicos que chamavam a atenção para os problemas dessas edificações concentradas foram simplesmente ignorados. Afinal, um grande edifício é, acima de tudo, um grande negócio. Cada andar a mais representa mais apartamentos a serem vendidos. Enquanto essa lógica prevalecer, as cidades vão acumular problemas em nome de resultados econômicos imediatos para uma minoria. Basta ir a Balneário Camboriú – mesmo fora do verão – para perceber os problemas que tantos prédios juntos trazem.
É claro que a demanda por moradia exige esse tipo de construção, mas é preciso planejar com cuidado, e deixar quem entende do assunto definir o que pode ou não pode ser feito. Um edifício de dez ou doze andares já é suficientemente alto. Querer aumentar demais esse número é comprar problemas de toda ordem. Entre eles, podemos destacar a sombra indesejável e a desvalorização dos imóveis no entorno. Não são poucas as moradias que recebem a luz solar em quantidade insuficiente, e algumas mal têm um vislumbre do sol em algum momento do dia. Além disso, a quantidade de dejetos é multiplicada numa mesma área, o que polui e sobrecarrega as redes de esgoto, quando elas existem. Num prédio de 26 andares pode-se ter 600 pessoas num espaço onde, naturalmente, viveriam 24. A desproporção é absurda. O trânsito fica congestionado, as pessoas ficam espremidas a um espaço imensamente menor que o que seria natural, a segurança diminui. Ou seja, um prédio alto demais é uma montanha de problemas acumulados.
Mas o curioso é que vamos nos “acostumando“ a essas alturas e , assim, a quantidade de andares vai aumentando na medida da nossa tolerância estendida. É hora de revermos nossas prioridades. A conveniência de hoje pode ser o caos do futuro.