Mulheres de Brusque superam barreiras e iniciam primeira faculdade depois dos 40 anos
Para cuidar da casa e dos filhos, elas deixaram o sonho da faculdade em segundo plano
Para cuidar da casa e dos filhos, elas deixaram o sonho da faculdade em segundo plano
O sonho de ter um diploma e seguir a profissão que sempre quiseram motivou três mulheres de Brusque a retornarem aos estudos depois de anos afastadas.
Elas se viram obrigadas a parar de estudar pelo mesmo motivo: casaram e tiveram filhos. Conciliar a vida estudantil com a familiar ficou difícil, mas elas nunca desistiram de voltar à vida acadêmica.
Com os filhos crescidos e encaminhados, uma nova chance apareceu: elas agarraram com unhas e dentes a oportunidade de retorno e hoje estão realizadas.
Elas se juntaram a um grupo cada vez mais comum: os que iniciam a vida acadêmica mais maduros. Hoje, por exemplo, cerca de 10% dos alunos da Unifebe, no primeiro semestre deste ano, têm entre 30 e 60 anos.
Maria Margarida Tormena, popularmente conhecida como Dona Margarida, de 60 anos, parou os estudos quando trocou as alianças com o esposo. Depois disso, vieram as responsabilidades da casa e com os filhos, e ela não conseguiu concluir o Ensino Médio. Foram 44 anos longe da escola.
Para ingressar na faculdade, era necessário que Margarida concluísse o período escolar. Por isso, há dois anos ela voltou às aulas e se formou. Assim que recebeu o diploma, iniciou a faculdade de Psicologia, na Unifebe.
“Concluí o segundo grau no início do ano justamente com esse objetivo, de seguir em frente em alguma coisa, em algum curso ou faculdade”, explica.
Dona Margarida não tinha certeza se um dia voltaria a estudar, mas já tinha o curso escolhido. “Eu sempre pensava em fazer Psicologia. Eu não imaginava que isso se concretizaria, porque eu estava muito longe e ainda tinha que fazer o segundo grau.”
Hoje aposentada, ela ainda trabalha na empresa da família, mas não está presente em tempo integral para se dedicar às leituras e aos trabalhos da faculdade. “Eu estou na empresa, mas não ficarei por muito tempo porque meus filhos já tocam com muita qualidade e segurança. Já posso me ausentar mais e focar nos meus estudos.”
Por estar apenas no primeiro período, ela ainda acha tudo muito novo, mas afirma que está gostando da experiência. “A cada dia que a gente sai de casa e vai pra faculdade é um desafio. Estou gostando muito, está agregando muito na minha vida.”
No entanto, ela ainda não tem planos para depois do diploma. “Eu quero viver um dia de cada vez, eu vou deixar isso acontecer. A cada semestre que vai passando eu acho que as coisas vão clareando.”
Caso trabalhe na área, Dona Margarida não pretende fazer algo remunerado. “Eu faria como voluntária, com mais qualidade. Um voluntariado com mais conhecimento, para ajudar as pessoas que necessitam de uma ajuda psicológica.”
Silmara Delcy Moreno Novo, 44, está cursando o 6º semestre de Ciências Contábeis, na Uniasselvi/Assevim. Hoje realiza o sonho de obter um diploma junto com a filha Beatriz Moreno Ferreira, 18, que iniciou neste ano no curso de Arquitetura e Urbanismo, na mesma universidade.
Ela afirma que estudar junto com a filha é tranquilo, e por serem amigas, as duas fazem muitas coisas juntas. “É muito legal estudar no mesmo tempo que ela, eu a incentivo e ela me incentiva.”
Silmara não conseguiu fazer um curso superior na juventude por dificuldades financeiras. No entanto, ela sempre soube valorizar a importância da faculdade e, quando percebeu que precisava de mais conhecimento, fez a matrícula.
“Sei da importância tanto para a vida pessoal como para o mercado de trabalho, mas a maior motivação foi que senti que precisava me atualizar, buscar novos conhecimentos. Mudou tanta coisa da minha geração para essa nova geração, eu não podia ficar para trás”, afirma.
Quando iniciou os estudos, Silmara trabalhava em uma empresa que apoiava a formação dos funcionários. “Só comecei porque eles pagavam a metade do curso e a outra metade eu ganhei uma bolsa.”
Durante a maior parte da vida, ela trabalhou no setor financeiro de empresas. Isso chegou a causar um impasse na estudante durante esse semestre. “Vejo que o que eu tenho aprendido, consigo aplicar também no financeiro, então pretendo ficar na mesma profissão e aplicar alguns conceitos que a contabilidade dá pra área financeira.”
Faltando dois semestres para ter o diploma em mãos, Silmara acredita que o apoio da família é essencial. “A minha filha diz que eu sou corajosa, que ela tem muito orgulho e admiração por estarmos estudando juntas.”
Neide Neckel Amancio, 45, concluiu o curso de Pedagogia pela Uninter, em setembro de 2017. Durante quatro anos ela acordava às 5h30, pegava os livros da faculdade e estudava até as 6h30, quando precisava se arrumar para trabalhar. Como a faculdade foi à distância, ela teve que adaptar as leituras à sua rotina.
“Muitas vezes eu fiquei até meia-noite fazendo trabalho. No fim de semana, que era pra estar com a família, eu estava estudando.”
Neide era professora no Paraná, onde nasceu, mas só possuía o magistério. Ela pensava em fazer a faculdade, mas com as dificuldades da época, deixou o sonho para mais tarde. “No tempo certo eu não tive oportunidade. Onde eu morava não tinha faculdade. Quando mudei pra cá eu já pensava em voltar a estudar, mas, como comecei a trabalhar em uma firma, demorou um tempo.”
Quando saiu do antigo emprego, ela começou a trabalhar como monitora em escola de Brusque e conseguiu ingressar na faculdade. “Eu sempre tive vontade de fazer Pedagogia, mas como lá não tinha e eu morava no sítio, era difícil ir até a cidade. Mas eu sempre tive esse sonho”, relembra.
No processo da graduação, ela contou com o apoio do esposo Airton e dos filhos para dar conta dos estudos. Por não ter carteira de habilitação, o esposo a levava para as aulas presenciais. A filha Aline Neckel, 21, que também estava na faculdade, ajudou a mãe principalmente com a formatação dos trabalhos.
Ela finalizou a faculdade em setembro do ano passado, mas a colação de grau veio apenas em abril deste ano. Após concluir a faculdade, ela começou os estudos na pós-graduação ainda em fevereiro. O curso tem curta duração e é focado na Educação Infantil.
A professora pretende levar os estudos mais adiante. “Ainda tenho vontade de fazer o mestrado. Fazer fora de Brusque fica difícil porque tenho família e eu não teria como ir, mas se abrir aqui, eu tenho vontade.”
Atualmente, Neide atua com os bebês de seis meses a um ano, no berçário, chamado de B1. Nos anos anteriores, ela trabalhou com o B2, o infantil e o pré-infantil. “Eu gosto também de anos iniciais, primeiro, segundo ano, mas a preferência é para Educação Infantil.”