“Não podemos retroceder e voltar ao papel”: brusquense criador da urna eletrônica fala sobre segurança do voto
Ex-desembargador Carlos Prudêncio também comenta sobre a polarização política do país
Ex-desembargador Carlos Prudêncio também comenta sobre a polarização política do país
Em entrevista ao jornal O Município, o ex-desembargador Carlos Prudêncio, comentou pensamentos e opiniões sobre os bastidores de mais um ano político.
Conhecido por ter realizado a primeira experiência de votação digital do país, com uso de microcomputadores, o brusquense, que é tido como criador da primeira urna eletrônica, faz uma defesa do sistema de votação por ele desenvolvido e posteriormente aprimorado.
Questionado sobre as dúvidas que as pessoas levantam sobre a segurança da urna eletrônica, a qual ajudou a criar, Carlos Prudêncio comenta que a tecnologia é segura e que voltar ao papel seria retrocesso.
“Quando fiz o projeto em 88, eu já previa a auditabilidade do voto. Naquele ano eu permiti que todas as pessoas viessem testar aquilo que fizemos para o futuro. Eu já provei que ela era segura em 1989”, diz o ex-desembargador.
Com relação à segurança, ele explica que a cada ano, novas camadas são adicionadas. Além disso, afirma que, se forem necessárias, mais camadas serão feitas.
“Sou obrigado a ter confiança na tecnologia, o que me permite dizer que não há necessidade de papel. Se for para ter mais segurança, coloco mais uma camada, até cinco se precisar. O que não posso é retroceder, voltar ao papel”, afirma.
Durante a entrevista, Prudêncio relembra fatores decisivos e importantes para que a urna eletrônica se tornasse o que ela é hoje.
“O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de todo o Brasil veio aqui em agosto de 1989, inclusive, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da época veio até aqui para certificar que a urna era boa”, relembra.
Questionado sobre os testes funcionais feitos na época, Carlos diz que a eleição municipal de 1992 aconteceu em Brusque com todo o acompanhamento necessário.
“Após as aprovações, a urna passou a ser utilizada em todo o Brasil. Posso dizer que a primeira eleição feita com urna é a de 1989, em Brusque e Santa Catarina. São 33 anos de emissão eletrônica e Brusque é protagonista nesta história”, conta.
“Temos que livrar nossa cabeça de poluição de derrotismo e retrocesso, não podemos voltar para um sistema que o brasileiro não aceita. São 48 países que usam urna eletrônica, diferente de só três, como afirmam negacionistas”, complementa.
Com as eleições se aproximando, o ex-desembargador admite que as conversas, debates e ataques estão mais acalorados, embora, segundo ele, não seja um motivo de grande preocupação.
“Não vejo qualquer tipo de ruptura democrática. Eu acredito e confio naquilo que está na Constituição. Temos que continuar acreditando que tudo vai dentro de uma normalidade. Honestamente, não vejo possibilidade de alguém se eleger e realizar uma ruptura. Hoje, temos uma grande quantidade de jovens debatendo política e isso é ótimo. Tudo aquilo que for feito de debate, acredito ser em prol da democracia”, afirma.
Especificamente sobre os ataques registrados entre políticos e parlamentares dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), Prudêncio diz que seria melhor se (os ataques) fossem evitados.
“Temos como princípio, o respeito da instituição. Antes de atacar, é preciso entender a independência dos poderes. Eu não deveria ofender um dos três poderes gratuitamente, é preciso que políticos e parlamentares tenham isso em mente”, conclui.