O Brasil que eu quero
Numa de suas canções, Carlinhos Vergueiro fala de uma mulher da geração educada para o casamento, criada para enfrentar o fogão, o tanque de lavar roupas, para passar a noite na costura, agulha e linha nas mãos submissas. Também para cuidar dos filhos e, claro!, do marido, chefe soberano da família. Porém, nem sempre o destino se cumpre. A canção continua para dizer que uma súbita paixão fez a recatada dona de casa largar marido e filhos para fugir com o vendedor de enciclopédia. Num tempo de casamento fechado a sete chaves, foi um tremendo escândalo, uma tragédia familiar impensável. E, no refrão, a indagação: “o que aconteceu à Leonor? Foi ousadia e tirania ou a Janete Clair fez a cabeça desta mulher”?
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Certamente, a famosa novelista ajudou, sim. Mas não foi a única responsável pela virada de cabeça ou de arreio da, até então, bem comportada esposa. A Globo, com suas novelas, bem elaboradas, bons e bonitos atores, temas e cenas que afrontam o costume conservador, é que faz a cabeça de muitas mulheres e homens, há muitos anos em frente da tela mágica da TV global. Falamos mal da Globo, mas continuamos jantando o seu cardápio de novelas, noticiários e outros programas. Na verdade, quem não está na Globo parece não existir e, assim, a emissora continua fazendo a cabeça dos brasileiros.
É o caso do quadro “O Brasil que eu Quero”: chato, enfadonho, uma baboseira repetitiva que o espectador parece abominar. Nas redes sociais, circulam mensagens, vídeos e piadas ridicularizando aquelas cenas de gente simples, pose de político em palanque de campanha eleitoral, bradando contra a corrupção, clamando por uma nação sem governante desonesto, com segurança de se deixar a porta da casa aberta, com saúde pública de causar inveja a europeus, com educação e justiça para todos.
É assim. Criticamos a emissora, mas todos querem aparecer na Globo. É gente de todos os tipos e de todos os cantos. Até de minha cidade natal, Tijucas, tem um desses vídeos da esperança sem limite, da cafonice sem desconfiômetro. Em frente ao Casarão Gallotti, o conterrâneo bairrista de quatro costados, desejando que todos os brasileiros tenham a mesma disposição dos tijucanos para trabalhar e para enfrentar os problemas. Sou tijucano, gosto muito da minha terra, mas tenho dúvida se a receita é a melhor para o povo brasileiro.
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Nas redes sociais, circulou um outro vídeo. É montagem, mas mostra bem o que queremos em pensamento e o que somos, de fato, na prática cotidiana. Um velho sem camisa, posando para entrevista, dizendo que quer um Brasil com gente mais educada, quando passa um gaiato e o manda calar a boa. A reação foi imediata. O “bem educado” idoso manda o engraçadinho tomar naquele lugar.
Sem dúvida, não é esse o Brasil que queremos. Mas, certamente, é o que temos!