Se podemos fazer um diagnóstico da atual crise no governo é o de total incapacidade da presidente Dilma para recuperar a autoridade e credibilidade necessárias à governabilidade. Dilma só conseguia manter algum prestígio enquanto gastava o capital político que Lula lhe transferiu. Sozinha, não é capaz de articular sequer uma reforma ministerial e só atiça a repulsa do sistema político e a desconfiança do empresariado.
A estratégia articulada por Lula e pelo PMDB – de distribuição de cargos para os futuros algozes – é a tentativa desesperada de salvar os últimos momentos de uma administração já desacreditada e desarticulada, pela total inabilidade da presidente em estruturar a coalizão de que necessita para governar. Nesse impasse, aparentemente irreversível, o PMDB se aproveita da fragilidade do governo para alçar cargos, ministérios e sugar até a última gota do que resta dessa administração e da coisa pública.
Praticamente todos os esforços da presidente nesses últimos meses foi a de fazer alianças para tentar salvar o governo. Escalados por Lula, entraram no time Temer, Renan e agora Cunha.
Com Cunha acuado, Dilma vai conseguindo evitar o processo de impeachment enquanto o presidente da Câmara tenta salvar a própria pele. É incrível quando opositores reconhecem a necessidade de trégua para encobrir a corrupção alheia e pessoal. Com essa aliança, portanto, o governo continuará agonizando, mas será precariamente mantido.
O pior da análise é o fato de que Dilma só não caiu ainda porque não há no país quem apresente um projeto de governo alternativo minimamente satisfatório. Nessa análise, erra ainda quem pensa que a vulnerabilidade do governo decorre da oposição, que é fraca e inepta. O governo está mal por conta dos sucessivos erros de gestão: corrupção, pedaladas fiscais, má-condução da economia, arrocho fiscal. O resultado disso gerou o preço que o PT pagará: o legado da perda de governabilidade por corrupção e incompetência.
Hoje o governo Dilma está amparado por Eduardo Cunha, um laço frágil e provisório. Só isso já basta para atestar o prognóstico de um fim caótico. A queda será inevitável.
O que nos assusta é que não há direita, esquerda ou partido que tenha apresentado, até o momento, um plano – um esboço talvez – de política econômica que tenha credibilidade e que mesmo encampando os cortes bruscos e necessários, possa catalisar novamente o desenvolvimento econômico e que mantenha, obviamente, uma agenda inclusiva e progressista necessária ao país. De qualquer forma, o melhor programa social é uma economia que gere riquezas e oportunidades, e que faça diminuir a dependência em relação ao governo.
Continuamos acompanhando o desenrolar da tragicomédia do planalto central.