Há alguns dias estava eu zapeando pelos canais da TV e me deparei com um trecho do programa “O maior Brasileiro de Todos os Tempos”, do SBT, apresentado pelo jornalista Carlos Nascimento. Pois bem, no dia em que assistia, a disputa na semifinal era entre o médium Chico Xavier e o piloto Airton Senna. Sem desconhecer nem menosprezar a importância de ambos, causou-me estranheza que, num estágio tão avançado do programa, estivessem esses dois personagens, afinal tratava-se de escolher o maior brasileiro “de todos os tempos”, e não aquele de quem se tinha mais lembrança por ser dos “últimos tempos”. É aí que o desconhecimento da história nos deixa de calças curtas. Pelo site do programa, vi que Chico Xavier e Santos Dumont já são finalistas, aguardando uma disputa entre a Princesa Isabel e Getúlio Vargas pela última vaga na grande final. Bom, menos mal que Getúlio Vargas esteja numa semifinal, e seria o cúmulo se ele vier a perder essa disputa para a Princesa Isabel. Sim, na minha concepção, Getúlio merece ser um dos três semifinalistas, porque seus muitos anos à frente do governo mudaram o Brasil. A princesa? Só porque ela assinou um papel que lhe foi entregue pelos deputados abolicionistas? Só mesmo quem apenas decorou o fato de que a Lei Áurea foi assinada pela Princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888 poderia votar nela contra Getúlio Vargas. O mérito da abolição não é da princesa. Se alguém devesse aparecer aí no lugar dela, pela luta em favor da abolição, é Joaquim Nabuco. Além de grande intelectual e jurista de renome, lutou com afinco para que a escravidão fosse abolida. A participação da princesa nesse fato é apenas um detalhe, porque, naquele momento, na ausência de D. Pedro II, ela tinha a caneta imperial, e assinou o papel que seu pai jamais assinaria, pois seu apoio político vinha dos fazendeiros escravocratas.


Mas quem acompanha meus artigos deve imaginar quem é o meu escolhido para levar esse título, com muita vantagem sobre o segundo colocado: Irineu Evangelista de Souza, O Barão de Mauá. Esse sim dedicou a sua vida para transformar o Brasil e fazer de uma nação atrasada e escravocrata um país industrial, desenvolvido, dinâmico, moderno. Seus empreendimentos são inigualáveis, mas teve o supremo azar de viver numa época em que o Brasil era governado por uma elite atrasada, que fez de tudo para derrubá-lo. Além do seu espírito empreendedor e de tudo que fez, lutou também para transformar o comportamento moral do brasileiro, para acabar com o “jeitinho”, para estabelecer a honestidade e a honra nos negócios. Bem se vê que, nesse quesito, teve menos sucesso que na industrialização. O maior brasileiro de todos os tempos precisa ser aquele que fez mais para transformar o Brasil. Getúlio merece ser finalista exatamente por ter retomado a tarefa do Barão. Um programa como esse tem ao menos uma serventia: a de mostrar que sabemos muito pouco de história e, quem sabe, nos incentivar a estudá-la um pouco mais. [Recuso-me a comentar o fato de Michel Teló figurar em 72º lugar, à frente de Garrincha e Tom Jobim!]