José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

O triturador de talentos

José Francisco dos Santos

Mestre e doutor em Filosofia pela PUC/SP, é professor na Faculdade São Luiz e Unifebe, em Brusque e Faculdade Sinergia, em Navegantes/SC e funcionário do TJSC, lotado no Forum de Itajaí/SC.

O triturador de talentos

José Francisco dos Santos

Adriano Leite Ribeiro, conhecido como “Adriano Imperador”, tem 37 anos de idade. Quem o viu jogar no seu auge, entre 2001 e 2005, mais ou menos, certamente se lembra do seu enorme talento como atacante. Unia porte físico avantajado, força, arrancada, boa colocação na área e muita habilidade com a bola nos pés.

Na Internazionale de Milão, tinha enorme prestígio. Mas quem se lembra do último jogo dele em alto nível? Ora, o rapaz tem apenas 37 anos, e começou a entrar em decadência já antes dos 30, quando os grandes jogadores estão no auge físico e técnico.

Ronaldo de Assis Moreira, o Ronaldinho Gaúcho, nasceu em 1980. Está para completar 39 anos. Bem mais ainda que Adriano, seu talento encantou o mundo. Os analistas de futebol realmente acreditavam que, se continuasse no nível em que estava, poderia fazer sombra a Pelé. Sua passagem pelo Barcelona foi fenomenal, e fez parte daquele ataque memorável da copa de 2002, com o outro Ronaldo e Rivaldo.

Mas ele, igualmente, começou a decair quando deveria se aproximar do auge. Teve um lampejo de grande jogador no Atlético Mineiro, que ganhou a Libertadores de 2013, mas já não era nem reflexo do gênio do Barcelona.

O que aconteceu com esses dois craques? A resposta é triste e trágica: ambos se afundaram na “curtição”, perderam o foco. Festas, farras, bebedeiras…é muito difícil para um ser humano conciliar esse tipo de exacerbação do prazer sensorial com o desenvolvimento do talento esportivo, intelectual, artístico, ou simplesmente da vocação comum de sermos humanos.

Se quiséssemos falar de música, ao invés de futebol, teríamos Janis Joplin, Jim Morrison, Elvis, Michael Jackson. Todos foram engolidos pela máquina trituradora de talentos, morrendo muito mais cedo do que seria o natural e com uma vida pessoal atormentada, para além da bajulação dos fãs e da vida “fake” de celebridades.

Mas não é preciso ser gênio ou craque para entrar nessa esparrela. Não importa quanto talento eu tenha. A vida exige de mim uma resposta adequada, para que eu possa trabalhar, conviver, me divertir, produzir, usufruir com qualidade, sob pena de incompetência crescente e continuada. Nossa natureza é tal que precisamos impor, pela razão, os limites que o corpo e a sensibilidade não possuem naturalmente.

Pais e educadores precisam transmitir isso às crianças, criando nelas o hábito do limite, do sacrifício, pois, deixadas a si mesmas, engalfinhar-se-ão em todas as atividades que lhes causam prazer imediato. Incapazes de renunciarem à “curtição”, matarão seus talentos e possibilidades.

A tendência é ampliar sempre essa área de curtição, e as drogas são apenas um passo a mais. Nossa natureza livre e aberta para o que nos transcende exige um preenchimento espiritual, que não é dado naturalmente.

Quando não há religião, valores superiores, desafios de evolução, a tendência é mergulhar no prazer e na inércia, num processo de esvaziamento autodestrutivo. Nossa sociedade está, perigosamente, nessa linha de fogo. Precisamos reverter essa tendência, ou teremos eternamente talentos enterrados e pessoas vivendo num nível muito abaixo da capacidade que lhes foi dada.

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