Tudo indica que a obesidade seja a primeira doença metabólica conhecida da espécie humana. Peças arqueológicas da idade de pedra com uma antiguidade de 25 mil anos representando figuras femininas de formas voluptuosas indicam que já naquela época o sobrepeso e a obesidade faziam parte dessas sociedades primitivas.

Considerando as grandes dificuldades para conseguir alimentos na época dessas sociedades de caçadores-coletores é dado como certo que a obesidade era uma raridade. Alguns antropólogos consideram que essas figuras de pedra retratando mulheres gordas mais do que representar uma realidade significaria o culto à própria maternidade, o culto à própria vida.

A mais famosa dessas figuras é a chamada Vênus de Willendorf, exposta no Museu de História Nacional de Viena, foi encontrada no ano de 1908 na Áustria mas tudo indica que viajou por mais de 650 km desde o norte da Itália (lago Garda) onde se encontra o tipo de rocha em que foi esculpida.

Para o antropólogo espanhol Juan Luis Arsuaga, o ser humano moderno paga com a obesidade o preço de carregar durante 3,8 milhoes de anos a necessidade permanente de procurar alimentos então escassos e que quando encontrados em abundância determinavam sua ingestão exagerada porque não sabiam quando teriam a próxima oportunidade de matar a fome.

Conservamos então até agora essa necessidade de nos fartarmos dos mais diversos tipos de comidas e bebidas mesmo que hoje em dia não exista escassez de alimentos. Não é nada fácil deixar de lado um comportamento que nossa espécie tem carregado por milhões de anos. Carregar genes que facilitem o depósito de energia em forma de gordura e dessa forma estar preparados para períodos de falta de alimentos virou uma vantagem biológica.

Aquilo que naquela época ajudava na sobrevivência hoje em dia pode ser prejudicial encurtando nossa vida. Isso porque comprovadamente o sobrepeso e principalmente a obesidade estão associados a um risco aumentado de doenças cardiovasculares, osteoarticulares e metabólicas como o diabetes.

Se considera que ao redor de 60% da população brasileira está acima do peso, desse grupo 20% preenchem os critérios para obesidade. Se considera obesa toda pessoa que tenha um Índice de Massa Corpórea (IMC) superior a 30. O índice é calculado dividindo o peso da pessoa em quilos pela altura (metros) ao quadrado.

Quando o IMC é de 40 ou mais há indicação de cirurgia bariátrica, o mesmo acontece quando o IMC é superior a 35 com doenças associadas como diabetes ou hipertensão arterial.

Muitos pacientes conseguem uma perda significativa de peso aderindo a um programa de reeducação alimentar supervisionado por nutricionista associado a um programa de atividade física sob os cuidados de um profissional da área.

Embora existam medicamentos que possam auxiliar na perda de peso agindo por vários mecanismos, é bem conhecido o chamado efeito rebote que consiste no ganho acelerado de peso semanas após ter parado de usar a medicação. O efeito rebote acontece também com o medicamento de moda e atualmente o líder de vendas no Brasil, o Ozempic. A grande maioria dos usuários de Ozempic tem apenas um sobrepeso, tem um IMC entre 25 e 30.

Justamente este grupo é o que pode perder esses quilos em excesso com um programa de atividades físicas e reeducação alimentar em poucos meses.

Há que lembrar também que o uso de Ozempic não traz os benefícios que a atividade física regular e uma alimentação saudável e equilibrada trazem para a saúde. O Ozempic tem suas indicações clínicas e seu uso deve ser determinado e acompanhado por profissional médico. b

Sabemos que a obesidade é um problema que geralmente tem vários fatores causantes ou agravantes. Além de uma predisposição genética e fatores metabólicos e hormonais, existem os fatores emocionais, quantidade de estresse, qualidade do sono e doenças concomitantes.

Nos Estados Unidos 20% da população entre 2 e 19 anos de idade são portadores de Obesidade, no Brasil a percentagem de obesidade nesta faixa etária é de 6% porém está em franco aumento.

Se estima que em 2030 Brasil terá um 30% de obesos na sua população, isso porque a obesidade tem aumentado muito principalmente na população urbana e de renda mais baixa que tem acesso apenas a alimentos mais baratos, altamente calóricos e pobres em nutrientes. Essa alimentação altamente calórica associada ao sedentarismo é o principal combustível para o ganho progressivo de peso.

Enfrentar a obesidade não é uma questão simples, é um problema complexo que deve ser encarado com a seriedade devida.

Há necessidade de aumentar a oferta pública e privada de serviços de saúde especializados no tratamento da obesidade que além do atendimento médico proporcione acompanhamento com nutricionista, psicólogo e educador físico.

Além do atendimento individualizado, são importantes as políticas públicas que estimulem a pratica de atividades físicas na população.

Nossos bairros se caracterizam pela falta de espaços públicos que facilitem a prática de atividades físicas ao ar livre, não temos praças, quadras poliesportivas, ciclovias, calçadas em bom estado e seguras para os pedestres.

Está demonstrado que todo investimento público nessas áreas tem um compensatório retorno em termos de saúde populacional, é o melhor investimento possível em termos de medicina preventiva quando associado a programas populares que estimulem a prática de atividades físicas e esportes em todas as idades.

Ao final das contas o melhor que toda cidade pode ter é seu capital humano e uma população sem saúde é uma população triste e de baixa produtividade.