OPINIÃO: “Vacinação tornou-se uma gincana em que o país precisa vencer etapas”
Editorial: A Gincana da Vacina
Alguns temas são predestinados a serem polêmicos e a vacina contra a Covid é um deles. Sua trajetória mais parece uma daquelas gincanas, cheias de provas e desafios cujo prêmio é a imunização.
E como toda boa gincana, as equipes são colocadas à prova para testar suas habilidades físicas e mentais em provas extravagantes e muitas vezes sem utilidade prática.
Nesta analogia, poderíamos elencar algumas das principais provas pelas quais estamos passando nesta pandemia e que precisamos vencer para sermos imunizados.
Desconfiança – tão logo os primeiros anúncios das vacinas foram noticiados no ano passado surgiu também a desconfiança na sua eficácia. Um estudo global divulgado em setembro do ano passado no periódico Lancet, por exemplo, mostrou a diversidade de opiniões na ocasião.
Nos 149 países pesquisados o percentual de pessoas que concordavam com a vacinação variou de 26% na Albânia a 95% no Iraque. É claro que no Brasil também tivemos embates, levando em conta o tipo da vacina, a nacionalidade e até a bandeira política de quem a estava comprando e vendendo.
Obrigatoriedade – E nem bem resolvida a primeira etapa começou outra, a da obrigatoriedade ou não do brasileiro ser vacinado. O principal embate foi entre o governador de São Paulo, João Doria que era a favor da obrigatoriedade e do presidente Jair Bolsonaro, que era contra. O movimento ganhou adeptos de um lado e de outro, passou pelo congresso nacional e em dezembro foi parar no STF, que decidiu que a vacinação deveria ser obrigatória, mas não forçada.
Aprovação – Em meados de dezembro, quando as primeiras vacinas começaram a ser aplicadas em outros países, começava por aqui as discussões para aprovação das vacinas pelos órgãos reguladores. Depois de um mês do brasileiro ficar doutorado em tipos e fases de vacina, foi aprovada, em 17 de janeiro, o uso emergencial das primeiras vacinas contra a Covid-19.
Compra – Nesta etapa a gincana pegou fogo com as equipes dos poderes federal, estadual e municipal disputando a competência e a urgência da compra de vacinas. A competição foi parar de novo no STF que decidiu, em 23 de fevereiro, que os três níveis do poder executivo poderiam comprar e fornecer à população as vacinas.
Aplicação – A cobrança em torno de um plano nacional de imunização foi uma das últimas etapas desta gincana, que tem como oriente o governo federal, mas tem nas esferas estaduais e municipais estratégias diferentes.
Brusque poderia ser pioneira neste quesito e vencer esta gincana maluca, sendo a primeira cidade do Brasil a vacinar integralmente sua população
A aplicação está diretamente ligada à compra e sua efetividade pode gerar bons louros políticos para as próximas eleições. Assim há um cruzamento de interesses para compra pelas esferas de governo, bem como há movimentos de estados e municípios para comprar de outros fornecedores.
Nesta etapa há também o envolvimento da sociedade civil, que quer ter o direito de comprar e aplicar vacinas. Neste sentido chamou a atenção a matéria que publicamos semana passada sobre a autorização judicial que a Oregon (empresa ligada a FIP) consegui para comprar vacinas e imunizar seu quadro de funcionários.
Outro empresário local que tem sido destaque nacional na defesa da compra de vacinas pelo setor privado é Luciano Hang. Ele defende, junto com outros empresários, a compra de milhares de vacinas para imunizar paralelamente ao sistema SUS.
Mas na quarta-feira a regra do jogo mudou novamente, com o TRF1 derrubando as autorizações para importação privada de vacinas contra Covid-19 fazendo com que todo este esforço fosse em vão.
Desinformação e fake news – E para deixar esta gincana pela vacinação ainda mais difícil, em todas as etapas a desinformação por parte das autoridades e a disseminação de notícias falsas fizeram muitas pessoas perderem o rumo e a razão, deixando o clima ainda mais tenso.
Imunização – A última etapa desta competição pela vida é conseguir imunizar toda a população e para isso a vacina está sendo aplicada de acordo com grupos prioritários e disponibilidade de vacinas.
Com todo esforço que o governo municipal, entidades e empresários estão empenhando neste sentido, bem que Brusque poderia ser pioneira neste quesito e vencer esta gincana maluca, sendo a primeira cidade do Brasil a vacinar integralmente sua população. Fica posto o desafio.