Nos táxis de José Cavichioli, o Nene, e Luiz Gamba Neto, há muita história para contar. Ambos ainda trabalham como taxistas em Brusque após décadas de atuação no ramo. Eles acompanharam o crescimento da cidade, as mudanças no trânsito e a evolução dos veículos.
Entre o tempo do carro de mola até os automóveis mais recentes e repletos de tecnologia, a cidade passou por grandes modificações, todas acompanhadas pela dupla. Os dois taxistas com mais tempo de atuação na cidade fizeram do carro um meio de vida desde jovens, e incontáveis passageiros já confiaram seus destinos aos motoristas.
60 anos de estrada
Aos 79 anos, Nene é o taxista mais antigo de Brusque. Sua primeira experiência conduzindo passageiros foi com o já extinto carro de mola, ou carruagem, com tração animal, que seria o precursor do táxi. Muito utilizado até os anos 1950 para conduzir pessoas do interior até o Centro, conhecido vulgarmente à época como ‘cidade’, o veículo exigia a força de bois ou cavalos para o transporte.
Após 60 anos de estrada, Nene segue levando a vida como motorista. O primeiro automotor ele não esquece: um Simca Chambord 1961, veículo francês charmoso e cobiçado no início dos anos 1960. “Era um carrão naquele tempo. Tinha gente com modelo 65 e 63 trabalhando no ponto, a minha era 61, mas nem por isso deixava de ser bonita”.
No começo, Nene dividia a função com trabalho em fábrica. Depois, no início dos anos 1960, já com o seu Simca, decidiu trabalhar no ponto da praça Barão de Schneeburg, e em 1972 optou por ficar apenas no táxi. Em 1982 conseguiu ser o titular de um ponto, onde é o responsável e trabalha até os dias de hoje: o das Casas Bahia.
Para o taxista, o trânsito brusquense teve uma drástica e repentina mudança, que acompanhou o crescimento populacional do município. “Quando eu comecei a cidade contava com cerca de 30 mil habitantes, hoje já tem mais de 100 mil. Hoje em dia a gente tem que cuidar com tudo, o trânsito ficou mais complicado e cheio de carros”, explica.
“Já penso sim em parar, mas enquanto ainda conseguir dirigir eu sigo trabalhando. O que eu vou ficar fazendo em casa, parado?”, José Cavichioli, o Nene, taxista mais antigo de Brusque
Às portas de completar 80 anos, Nene cogita largar a profissão, interrompendo assim uma longa e reconhecida carreira como motorista, mas não tem pressa para isso. “Já penso sim em parar, mas enquanto ainda conseguir dirigir eu sigo trabalhando. O que eu vou ficar fazendo em casa, parado?”, completa.
Do caminhão para o táxi
Luiz Gamba Neto, de 67 anos, é motorista há tanto tempo que não consegue lembrar quando começou a dirigir. Seu pai era caminhoneiro, e desde que consegue recordar ele também exerce a função. Era de um tempo diferente, sendo que aos 12 anos tinha a responsabilidade de dirigir um Chevrolet 62 repleto de lenha.
Natural de Itajaí, ele veio para Brusque em 1972 para trabalhar e é o segundo taxista mais antigo do município. Naquele ano conseguiu comprar um carro da época, um Opala 72, para ser a sua ferramenta de trabalho.
Desde seu início em Brusque, há 45 anos, Gamba Neto trabalha no mesmo ponto, em frente ao Hospital Azambuja. Acompanhou as mudanças e ampliações do complexo de saúde, e também do trânsito, que, para ele, ficou mais complicado com o tempo.
“Era tudo mão dupla. Você ia e vinha do mesmo lugar, principalmente no Centro. Depois complicou tudo”, afirma.
“Antes todos se conheciam, havia mais segurança. Agora não, já fui assaltado sete vezes. Isso que não trabalho à noite, foi tudo em pleno dia”, Luiz Gamba Neto, o segundo taxista mais antigo de Brusque
Além disso, como já sentiu na pele, a mudança da cidade interiorana para um ambiente mais cosmopolita trouxe também a criminalidade. “Antes todos se conheciam, havia mais segurança. Agora não, já fui assaltado sete vezes. Isso que não trabalho à noite, foi tudo em pleno dia”, conta.