Filosofia e amizade social
O Texto-Base da CF2024 faz ligeiro resumo da visão filosófica da Amizade social. Da Filosofia Ocidental que tem suas raízes, sobretudo, na Grécia e nos valores cristãos (Evangelho). Já, a Filosofia Oriental tem outras raízes e outro desenvolvimento. No Ocidente, na comunicação humana existem palavras e expressões difíceis de se comunicar em um ou poucos conceitos. Entre elas, pode-se situar o termo Amizade. Também, acontece, com frequência, que conceitos são mal-usado perdem a capacidade de comunicar o que realmente significam. Fraternidade é um deles. Por isso, convém buscar sempre as raízes dos conceitos para recuperar o seu verdadeiro significado.
A amizade para os clássicos gregos estava relacionada a fraternidade. “A Amizade no mundo clássico tem um papel central. É o modelo de todas as reações humanas pessoais familiares políticas e espirituais. Os gregos consideram a amizade como hoje consideramos o amor”.
Todos os pensadores clássicos gregos refletiram e escreveram a respeito da amizade. Cada um com alguma peculiaridade. Todos valorizam esse sentimento humano. Homero, por exemplo, acentua que a amizade é “ a relação humana que possui um vínculo de eleição e afeição recíprocas, fundado na confiança e na lealdade, com fortes traços rituais e institucionais”. Com Sócrates (470-399ª.C.), “a amizade ganha contorno pessoal e se restringe ao âmbito humano”.
Platão (428/427- 348/447), na sua célebre obra – Diálogos -, “compreende a amizade em sua dimensão transcendental, como abertura das pessoas que se relacionam para o belo, o bom e o verdadeiro”. Para ele, “a amizade é uma estrutura basilar, sua função é primordial para a reorganização sociopolítica de uma comunidade, servindo como tecido social que possibilita o fortalecimento de uma comunidade…” Enfim, para Platão “amizade é a forma fundamental de toda a comunidade humana que não seja puramente natural, mas sim uma comunidade espiritual e ética. ”
Aristóteles (384-322 a. C.) foi o que mais refletiu a respeito da amizade de maneira orgânica e sistemática. Para ele, “a amizade é o vínculo social por excelência, que mantém a unidade entre os cidadãos de uma mesma cidade ou entre companheiros de um grupo, ou entre os membros de uma empresa”. Para ele, porém, “a amizade verdadeira não provocada por uma paixão, mas motivada por um ato de eleição, ou seja, uma escolha da vontade que se segue à deliberação da inteligência. Esta amizade é caracterizada pela sinceridade, pela fidelidade e pelo desinteresse, é oposta ao egoísmo, ao orgulho e a adulação. Amizade é amar o outro por si mesmo, por aquilo que ele me pode oferecer”.
Com a Encarnação de Jesus Cristo, isto é, com a entrada na História humana do “Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) a História humana tem outro conteúdo e sentido. Com o anúncio do Reino de Deus, que tem como centro e fundamento, “o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo”, todos os relacionamentos humanos passam por esse filtro. Desta forma, o amor que se manifesta, social e comunitariamente, como amizade social, recebe uma dimensão e um sentido que vai além dos que clássicos gregos e latinos haviam refletido e proposto.
A partir dessa nova realidade, os pensadores cristãos, tendo como pano de fundo o pensamento grego-clássico e a proposta do Evangelho elaboram toda uma reflexão a respeito da amizade social. Esta servirá, em grande parte, como fundamento para as relações socioculturais das comunidades e sociedades até o advento da Modernidade, quando veremos uma grande transformação no relacionamento humano. Isto, porém, veremos no próximo artigo.