Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

O que é o que é?

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

O que é o que é?

Pe. Adilson José Colombi

É uma das primeiras questões que o ser humano tenta fazer, desde muito cedo. Sim, a criança quase ainda no colo da mãe e ainda com fraldas, começa a querer saber o que são as coisas que vê. E a mãe ou quem está por perto tenta descrevê-las e mostrar a diferença entre elas. O que faz que uma coisa seja diferente da outra, embora possam ser semelhantes. Assim, vai a criança diferenciando e se relacionando de modo diferente com as realidades concretas que a cercam. Desta forma, vai perceber que uma cobra é diferente de um galho de árvore ceco bem reto, esticado no jardim de sua casa ou uma estátua do cachorro, no jardim, é diversa do cão que circula no mesmo jardim.

Desta forma, as coisas não são, na realidade concreta, o que “parecem” ser. Ou, como nos dizia já o velho Aristóteles, há quatro séculos antes de Cristo, que cada coisa tem sua “substância”, que determina o que ela é e não pode ser outra. Tudo o mais ele chama de “acidente”, por exemplo, seu tempo de existência, localidade, sua cor, seu tamanho, sua altura, etc. As “coisas”, portanto, segundo ele, têm “substância” e “acidente”. O que a identifica, poderíamos dizer, seu “DNA, é a substância. Não o “acidente”.

Tendo presente isso, que a criança vai aprendendo a distinguir como escrevíamos acima. E muitas coisas não precisam de muito raciocínio do ser humano para fazer essa operação mental. A nossa linguagem se serve em grande parte, desse procedimento para nos comunicar por meio da linguagem falada ou escrita. Desta maneira, minha mãe que era uma pessoa que não teve a oportunidade, em sua infância e adolescência, de frequentar uma escola, sabia muito bem fazer um saboroso pão, com todos os ingredientes praticamente orgânicos, de vários sabores no forno apropriado à lenha, fora de casa.

Mais tarde, o forno foi desativado de sua finalidade de fazer pão. Mas, ficou lá com a sua “boca” aberta e uma gata prenhe foi dar sua cria dentro dele. De repente, descobriu-se, no forno que tanto pão tinha dado chance de sustentar uma grande família, deu outra coisa que não pão. Nem por isso, a mãe confundiu gato com pão, por ter acontecido o “evento” da cria no forno que foi construído para fazer pão.

Por que estou escrevendo toda essa arenga? Bem, ela tem uma finalidade para prestarmos muita atenção, todos nós, com a linguagem que nos servimos em nossa comunicação. Não só prestar atenção, mas tentar compreender o “espírito” ou “intencionalidade” do “falante” (daquele que fala, escreve, legisla…), além de todo o “contexto” da fala. Isso, a grosso modo, denomina-se Exegese, Hermenêutica, Heurística, segundo a perspectiva que se pretende encontrar no texto.

Parece-me que, segundo minha humilde opinião, não foram aplicados esses “cuidados” todos no sábado, 28, em Botuverá. Não vou repetir toda a história do fato ocorrido. Mas, segundo o que percebi, tudo girou em torno de uma palavra do comunicado do Decreto do Estado e da Vigilância Sanitária: a palavra “evento”. Esqueceu-se o mais elementar, nem todos os “eventos” são o que “são” pelo que “são” (sua substância, segundo Aristóteles), não pela sua “localização” (seu acidente, também segundo Aristóteles). Assim, o “gatinho” nascido no forno, será sempre “gato”, embora tenha nascido no forno.

Confundiu-se um “evento” (Culto Religioso católico, Missa que tem sua identidade própria) equiparando a outro, por exemplo baile, exemplificação usada, com propriedade pelo Arcebispo Arquidiocesano, autoridade máxima no âmbito religioso católico na Arquidiocese de Florianópolis. Baile também tem sua identidade própria, independentemente da localização). Por isso, há eventos e eventos, sua “identidade”, independe do local, onde acontecem ou estão.

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