Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Os vários rostos da fome

Pe. Adilson José Colombi

Professor e doutor em Filosofia - [email protected]

Os vários rostos da fome

Pe. Adilson José Colombi

Quando escutamos ou lemos a palavra fome, logo nos vem à mente a fome fisiológica. Sim, aquela que brota do instinto natural e poderoso de sobrevivência em todos os seres vivos. É um fenômeno biológico que todo organismo vivente manifesta. Desconforto, sinal de que o organismo necessita de alimento. Este é o rosto da fome mais conhecido. Todavia, não é o único. A fome tem outros rostos tão importante e até mortais, quanto esse. Por isso, na reflexão e na ação, não podem ser ignorados, menos ainda desprezados ou tidos como se fossem um luxo, algo supérfluo.

Sem dúvida, a fome fisiológica é repudiada por ser uma afronta direta e imediata a todos os princípios da Doutrina Social da Igreja (DSI), destacando-se a destinação universal dos bens. Por esse princípio afirma-se que o mundo criado é uma propriedade de Deus e não do ser humano, de ser humano algum. Como seres humanos, somos seus colaboradores e administradores dos bens, na construção do bem comum de todos, sem exceção. Desta forma, o uso egoísta e exclusivista dos bens, ignorando os irmãos, não é compatível com a fé cristã. A solidariedade (partilha) e fraternidade são corolários deste princípio fundamental dos bens, criados por Deus.

A fome fisiológica, em nossos dias, é um contratestemunho que não reconhece, de forma prática, a dignidade integral do ser humano. Contudo, o ser humano não tem só fome de comida saudável e nutritiva; tem outras fomes que são necessárias para viver a integridade de sua dignidade de pessoa humana.

São os outros rostos da fome. Vamos enumerar alguns: o ser humano tem fome de justiça, necessita de relacionamentos justos que possam lhe garantir a sobrevivência; fome de cidadania, exercida com liberdade e responsabilidade, garantida pela Carta Magna do País, portanto, quer ser respeitado como cidadão (ã), tendo seus direitos e sua participação na vida sociocultural garantidos; tem fome de viver num ambiente natural e sociocultural saudável, livre de poluição, em harmonia com o meio ambiente e com convivência social pacífica e ordenada; um ambiente sem violência, com segurança.

Além dessas, podemos continuar elencando outras, tão necessárias quanto essas: fome que sacia a fome interior, aquela que satisfaz a nossa interioridade, como a beleza, podendo contemplar o belo por meio das artes, como música, pintura, escultura, artes ciências… inclusive simples paisagem natural; fome de sentido, de encontrar razões para viver, de compreender as razões dos acontecimentos da sua vida e da história da humanidade, a fim de direcionar suas ações; e, ainda mais, tem fome de transcendência, não se contenta, por sua própria natureza incompleta, com as realidades terrenas, deseja o infinito, “tem sede de Deus” (Sl 41, 3).

Na verdade, portanto, não só de pão vive o ser humano. Tem fome de mais realidades. Algumas não são fáceis de encontrá-las. Exigem cooperação e auxílios de outros (solidariedade, fraternidade, partilha). Outras, porém, dependem, em grande parte, do esforço próprio (sair da passividade, da acomodação, resignação…). Para quem crê, sabe que nosso Deus, como Pai, sempre está pronto a prover seu filho ou filha, com o necessário para viver como filho (a) seu (a).

(N.B. Esta coluna já foi publicada, mas pensei que seria útil revê-la, no início desse novo ano. Porque as fomes, ao menos algumas, aumentaram entre nós).

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