Patrimônio histórico: Desmistificando o tombamento – Parte III
Fechando a sequência de publicações sobre patrimônio histórico, hoje vamos falar sobre a Villa Renaux, imóvel que ainda abriga a casa onde o Cônsul Carlos Renaux passou seus últimos anos de vida, e onde desviveu em janeiro de 1945. A Villa Renaux, assim como outros imóveis de interesse histórico, está incluída no Inventário do Patrimônio Urbanístico de Brusque.
O tombamento dos imóveis do Complexo Renaux
O tombamento pode ser um instrumento de defesa da comunidade contra o excesso de demanda do capital ou das pressões demográficas. E, no caso do Complexo Renaux, a história começou quando, em julho de 2013, o município de Brusque notificou a Massa Falida da Fábrica de Tecidos Cônsul Carlos Renaux sobre o início do processo de Tombamento de parte dos imóveis de interesse histórico de propriedade da Massa Falida, localizados à avenida 1º de Maio.
Dentre os imóveis com processo de tombamento, encontramos a chaminé; duas construções; a Associação Atlética; a residência do Diretor da Empresa (Villa Ida) e a residência do fundador Cônsul Carlos Renaux. Apesar da manifestação contrária formulada pelo administrador da massa falida, o município de Brusque entendeu que as alegações formuladas na impugnação não se qualificaram suficientes como matéria de defesa administrativa, e a impugnação foi rejeitada. O processo de tombamento prosseguiu.
Casa do Cônsul não integra o conjunto de bens adquiridos pela Brashop
Em relação ao processo de tombamento da casa do fundador Carlos Renaux, foi necessário notificar também a ocupante do imóvel, visto que o processo de usucapião já estava ajuizado. Segundo o instituto do usucapião, em 2013 a casa já pertencia a Maria Luiza Renaux, (se procedente a ação), restando apenas a devida transcrição.
O imóvel possui matrícula própria no Cartório de Registro de Imóveis e não integra o conjunto de bens da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux que foram adquiridos recentemente pela Brashop (empresa ligada à Havan). A posse da Casa do Cônsul pertence, por herança, a Vitor Renaux Hering, filho da finada Bia Renaux, que tem mantido o imóvel em perfeitas condições e permitido que pesquisas históricas-cientificas se desenvolvam na Villa Renaux, dando continuidade ao legado da mãe.
A Casa do Cônsul
Projetada pelo arquiteto alemão Eugen Rombach, a construção foi iniciada em 1932 e finalizada em 1935. Denominada originalmente de Villa Goucki (em homenagem à terceira esposa), foi construída para ser a residência do Cônsul no seu regresso de Baden, Alemanha. Somente por este fato, a casa já representa um marco para a história da região de Brusque e de Santa Catarina.
A casa foi implantada sobre uma elevação e era completamente visível da rua. Hoje a casa do Cônsul já não pode ser vista da via principal, pois a fachada está encoberta pela vegetação contemporânea, dando a sensação de que é um mundo próprio, um refúgio. No jardim aos fundos da casa, encontramos um pequeno Mausoléu construído pelo Cônsul para abrigar os restos mortais de sua terceira esposa, a Goucki, que ainda está sepultada lá.
O legado de Bia Renaux e a preservação da vasa
Nas últimas décadas, quem residiu na casa do Cônsul foi sua bisneta, a historiadora Maria Luiza (Bia) Renaux, a quem coube manter o uso residencial da edificação e a preservação dos espaços tal como foram concebidos pelo arquiteto, fazendo da casa um museu. A atenção e esforço da finada Bia pela preservação da ambientação da época chegou aos mínimos detalhes, com resgate de mobiliário e peças originais, tais como louças e objetos de decoração. O trabalho de Bia Renaux é o testemunho inconteste de que a preservação é eficaz e efetiva e se vincula a valores de outra ordem em uma sociedade.