O ser humano sempre fez inúmeras perguntas e propôs inúmeras respostas, tentando entender a si mesmo e ao universo. As grandes descobertas da física, da química e da biologia têm, em grande parte, sua origem em questionamentos que remontam aos gregos antigos, ou ainda antes deles. As ciências de hoje são os desdobramentos de questões antigas, acrescidas das novas realidades.
Quem trabalha cotidianamente com ciência sabe o quanto é complicado chegar a alguma descoberta nova, e o quanto as respostas são provisórias. Mas a maioria de nós ainda tem uma visão de cientistas e criadores de teorias como se fossem uma espécie de divindade infalível, como se suas ideias fossem definitivas. Mas mesmo nas ciências naturais, essas descobertas são sempre passíveis de correção. Aliás, nosso conhecimento só evolui em relação a um assunto quando a teoria que aceitamos já não de mostra suficiente para explicá-lo.
Em se tratando de ciências humanas, como a psicologia, a sociologia, a educação, o estado do nosso conhecimento é inda mais precário e provisório. Não obstante, impressiona-me a devoção que intelectuais dessas áreas costumam ter em relação a certos teóricos.
É incrível como, em pleno século XXI, o chamado “materialismo histórico”, de Karl Marx, ainda faça tanto sucesso no meio acadêmico, a despeito dos erros grotescos e das consequências catastróficas das ideias do filósofo alemão. O mesmo vale para teorias psicológicas de grande renome.
Determinados autores e suas respectivas teorias, num determinado momento, ganham enorme relevância. O sucesso faz com que muitos professores desenvolvam pesquisas de mestrado e doutorado a partir dessas teorias. Até aí, tudo bem, afinal esse é o protocolo.
O problema é que essas pessoas tendem a ver tudo sob a ótica da teoria que estudou, esquecendo-se que se tratava apenas de uma tentativa de responder aos problemas que se colocavam à época em que a teoria foi criada. Assim, não fazem mais perguntas, apenas repetem as respostas que aprenderam.
É por isso que devemos estudar tendo em vista os problemas e não as respostas. Se entendermos bem os problemas que nos circundam numa determinada área de conhecimento, poderemos analisar as diversas teorias que tentam resolvê-los, avaliá-las e até adotá-las provisoriamente, mas deixando a mente aberta para que a investigação continue. Afinal, nenhum autor consegue responder a todas as perguntas, e suas respostas são, necessariamente, provisórias. Não fosse assim, nós nunca evoluiríamos e a roda ainda seria quadrada.
Preocupo-me com o ensino universitário muito centrado no aprendizado de teorias prontas. Falta um espírito filosófico, que recoloque as perguntas antigas e faça novas, forçando nossa mente a ir além dos horizontes que já estão definidos.