Policiais de Brusque que atuaram na Força Nacional durante a Olimpíada relatam experiências
Seis militares participaram, por 90 dias, da Olimpíada e Paralimpíada no Rio de Janeiro
Seis militares participaram, por 90 dias, da Olimpíada e Paralimpíada no Rio de Janeiro
Entre experiências positivas e dificuldades de trabalho, os seis policiais militares de Brusque que participaram da Olimpíada e Paralimpíada no Rio de Janeiro retornam ao patrulhamento da cidade. Foram 90 dias de missão na Força Nacional, atuando diretamente nos eventos olímpicos, com cargas horárias excessivas e ao mesmo tempo compensadoras.
De Santa Catarina, 200 militares foram selecionados e representaram o estado durante três meses. A soldado Caroline Vieira da Cunha, a Caroline II, foi a única mulher de Brusque a participar. Para ela, a experiência foi extremamente importante. “Participei do maior evento esportivo do mundo. Tive contato com muitos atletas e com várias delegações. Tive oportunidade de assistir muitos jogos de diferentes modalidades. E na Paralimpíada também foi muito bacana, por ver a superação dos atletas”, descreve.
Para Caroline, o trabalho de mulheres e homens é igualitário na Força Nacional. “Todo mundo faz o mesmo trabalho. Não é dado nenhuma prioridade por ser mulher, é tudo bem padrão”, conta.
Carga horária
Durante o período olímpico e paralímpico, os policiais enfrentaram jornadas de trabalho puxadas, em que chegavam a trabalhar de 10 a 15 horas por dia. Porém, antes, depois e no intervalo entre os eventos, a escala era igual a rádio-patrulha de Brusque, ou seja, 12h x 24h por 12h x 48h. “Então tínhamos uma folga e dava para descansar e conhecer os pontos turísticos do Rio de Janeiro”, conta Caroline.
Entre as dificuldades encontradas durante a missão, ela afirma que a distância do conforto de casa foi o que mais atrapalhou. Na Força Nacional, ela teve a companhia do marido, o policial Wagner Rocha Garcia, que também atuou durante os dois eventos. “Por ter ele por perto, isso já amenizava um pouco, mas conviver em uma cidade com uma realidade completamente diferente, inclusive na questão de segurança, foi bem complicado”, diz.
Superação dos atletas
O soldado Everton Souza da Silva relata que o mais marcante durante o período no Rio de Janeiro foi a Paralimpíada. “A superação dos atletas é incrível. Enfrentam tudo com todas as dificuldades, e muitas vezes nós colocamos empecilhos nas coisas que vamos fazer. O evento é bem menos visto que o olímpico, mas traz uma experiência extraordinária”, afirma.
Além da distância da família, a maior tristeza para o soldado foi saber que a missão acabaria e teria que voltar. “A experiência não tem como comparar com um evento que participamos no estado, por exemplo. Provavelmente nunca mais na minha vida verei um evento desse porte acontecer no Brasil. Só veio para somar na vida profissional”.
O cabo Éder Volmar Gomes afirma que retornou ao estado com a certeza da missão cumprida. “Tivemos contato com as polícias de todos os estados do Brasil, observamos in loco uma grande diversidade étnica cultural e diferentes realidades no campo da segurança pública, o que nos proporcionou importante conhecimento profissional jamais vivenciado”.
Além deles, também atuaram na Força Nacional os policiais Thiago Gabriel Schlindwein Schmidt e Marcos Alessandro Carvalho Urach.
Morte abala policiais
Para os policiais que participaram da missão, o ponto negativo da atuação nos eventos foi a perda de um colega de trabalho. Segundo o soldado Souza, o policial fazia patrulhamento, errou uma rua e acabou sendo morto por um tiro de fuzil.
A soldado Caroline ressalta que mesmo sem ter contato com o policial assassinado, o fato deixou todos muito abalados. “Poderia ser com qualquer um de nós, mas sabíamos que corríamos esse risco”.
Ela acrescenta que, apesar da perda, tiveram diversos momentos marcantes durante a atuação no Rio de Janeiro, especialmente o carinho das pessoas pelos policiais da Força Nacional. “Muitas pessoas pediam para tirar foto com a gente, as crianças também vinham abraçar. Éramos meio que os heróis para eles”, lembra.
Estrutura precária
A Força Nacional disponibilizou para os policiais que participaram da missão prédios na Vila Carioca, complexo semelhante ao Residencial Sesquicentenário, do bairro Limeira, em Brusque. Em cada apartamento, com dois quartos, sala/cozinha e banheiro, ficavam seis policiais. A divisão do local era feita conforme a chegada por voo.
Porém, em conversa com os superiores da Força Nacional, as seis policiais mulheres de Santa Catarina conseguiram ficar juntas. “Quando chegamos no apartamento não tinha nada, nem lâmpada, e tivemos que arrumar. Ganhamos apenas sacos de dormir. Então compramos geladeira, fogão e depois de um mês ganhamos colchão e beliches”, conta Caroline.
Ela ressalta que no começo enfrentaram alguns problemas, principalmente com a estrutura dos apartamentos, como vazamentos. “Foi difícil, mas nada também que tenha sido horrível. Inclusive, vazaram algumas fotos na mídia que não eram verídicas, pois eram do Panamericano [Rio 2007]”, diz.
Para o soldado Souza, apesar das dificuldades iniciais, o alojamento foi bom, ainda mais por não precisarem pagar a moradia, nem energia e água.
Técnicas operacionais
Os policiais que participaram da missão afirmam que durante os treinamentos tiveram conhecimentos importantes para a vida profissional.
Caroline, por exemplo, conta que aprendeu a utilizar armamentos diferentes, que nunca havia tido contato. “Apesar de ser um armamento que só o grupo tático usa e não usarei durante meu trabalho na rádio patrulha, foi muito bom, pois aprendi várias técnicas e sempre que possível colocarei em prática no cotidiano”, diz.
O soldado Souza reforça que o contato com os outros policiais também foi importante, pois com as trocas de informações conseguiu adquirir conhecimentos aplicáveis em Brusque.