População de Brusque reage com violência a tentativas de assalto
Especialistas alertam para perigos de “fazer justiça com as próprias mãos” durante ações criminosas
Especialistas alertam para perigos de “fazer justiça com as próprias mãos” durante ações criminosas
A criminalidade que preocupa os moradores de Brusque tem deixado a população intolerante aos criminosos e, como se viu na última semana, com o desejo de fazer “justiça com as próprias mãos”. Prova disso é que os dois casos mais recentes de tentativas de assaltos terminaram com os acusados presos em flagrante e detidos pelas próprias vítimas.
No primeiro episódio, um grupo de cinco amigas reagiram a um assalto na noite do dia 22 de novembro. Na sexta-feira, 25, os funcionários e clientes da loja Milium, no Centro, também detiveram um rapaz após ter anunciado o roubo.
Por sorte, em nenhum dos dois crimes os acusados estavam armados, o que evitou uma possível tragédia. Assim que os suspeitos foram detidos, houve agressão por parte da população e, nas duas ocorrências, os criminosos foram amarrados até a chegada da Polícia Militar.
O promotor de Justiça e professor aposentado, João José Leal, comenta que a vontade ou impulso para reagir por conta própria contra as agressões e ofensas é um sentimento que acompanha o ser humano desde a sua origem. “É natural que a primeira reação seja a de querer revidar a agressão de que somos vítima. Mas, esse fenômeno da vingança privada, da justiça pelas próprias mãos, já foi superado há muito tempo”, analisa.
Para ele, numa sociedade civilizada em que a convivência das pessoas deve ser pautada pelo respeito às leis estabelecidas pelo poder estatal, ninguém tem o direito de agir com violência. “Se isso acontecer de forma frequente, em vez da desejada e merecida paz social, vamos conviver com a desordem e a violência sem limite. Cada um vai reagir conforme a sua escala de justiça e será o caos”, avalia.
Leal ressalta que é preciso lembrar que, num estado de Direito, a função de garantir a segurança coletiva é dever do poder público. “Só o poder público, por maior dificuldade que tenha para exercer essa função, pode manter a ordem legal de forma satisfatória”, afirma.
O presidente da Comissão de Direitos Criminais da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Brusque, Gilvan Galm, diz que a sensação de insegurança em que se encontra o país faz com que a população reaja de maneira violenta. “A mídia expõe diversas falhas do poder público, omissões, falta de comprometimento das autoridades que usam os cargos para proveito próprio e não para legislar ou operar em função da comunidade. Isso gera revolta”, diz.
Porém, ele salienta que a situação é preocupante, pois com as pessoas com “nervos à flor da pele”, a reação pode criar uma convulsão social de grandes proporções. “Até porque os Direitos Humanos estão trabalhando para os ‘Direitos dos Manos’ e esquecendo de trabalhar para quem realmente trabalha, para quem sustenta uma família, para quem tem um lar, que é decente”, critica.
Vítimas não devem reagir
O comandante da Polícia Militar, tenente-coronel Moacir Gomes Ribeiro, destaca que a orientação que a PM repassa é de nunca reagir, pois a possibilidade da tentativa falha é grande. Ele explica que o criminoso tem mais experiência na “malandragem”, pois a vida dele é essa: praticar crimes. “Ele não tem muito a perder, não tem história familiar, social e nem um nome a preservar. Se alguma coisa der errado, o máximo que vai acontecer é ficar preso por um tempo”.
O mais importante durante um assalto, segundo o comandante, é ter calma, seguir as orientações do criminoso, e em seguida, repassar as características precisas para a PM, para que os policiais possam fazer uma busca e deter o criminoso. “Quanto menos tempo levar para informar a polícia e mais detalhes do agente tiver, mais chance de sucesso se terá na captura do criminoso”, diz Gomes.
Galm, da OAB, acrescenta que a sociedade está numa situação extrema onde não consegue conviver mais com os crimes. “Porém, a reação nunca deve ocorrer. Esses casos foram situações isoladas que não devem se repetir para a segurança das próprias vítimas, pois o bandido entende que é a profissão dele e, se estiver atrapalhando, se acha no direito de agredir”.
Punição aos agressores
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Criminais, o ditado popular de que o “feitiço pode virar contra o feiticeiro” pode fazer sentido nas situações em que o criminoso for agredido pela população. “Se a pessoa tomar a atitude de autodefesa é uma coisa, mas se ela passar do limite da autodefesa pode responder por lesão corporal, agressão. Enfim, há toda uma legislação específica se a pessoa ultrapassar o limite”, explica.
Ele lembra de outros casos em que ocorreram no país, em que a população praticamente linchou o bandido. Nessas situações, os responsáveis pelas agressões podem ser responsabilizados legalmente. “Ainda mais hoje em dia, em que todo mundo tem um celular na mão pronto para filmar e documentar as cenas. Por isso, é importante lembrar que o excesso de autodefesa também é punível”, alerta Galm.