Poupança tem maior retirada da história
No entanto, Caixa de Brusque diz que há aumento de depósitos nas últimas semanas
No entanto, Caixa de Brusque diz que há aumento de depósitos nas últimas semanas
Março registrou a maior retirada líquida de dinheiro da poupança da história do país. Os brasileiros sacaram R$ 11,44 bilhões a mais do que depositaram na caderneta de poupança, de acordo com o Banco Central (BC). Trata-se, de longe, da maior retirada de recursos da mais tradicional modalidade de investimentos do país para todos os meses. A série histórica da autoridade monetária tem início em janeiro de 1995.
Em Brusque, na Caixa Econômica Federal, também houve uma queda na poupança, mas com menos vigor.
Para especialista, o movimento do mercado é resultado da situação econômica nacional, que tem de buscar nas suas economias mais recursos para saldar dívidas. Segundo números do Banco Central, em janeiro, os brasileiros tinham retirado R$ 5,53 bilhões a mais do que depositaram na aplicação financeira. Em fevereiro, os saques superaram os depósitos em R$ 6,26 bilhões.
Jairo Romeu, economista e professor da Univali, avalia esta questão por dois ângulos. O primeiro é com relação à inflação no país: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) dos últimos 12 meses acumula inflação de 8,41%, acima do teto da meta do governo federal, que é de 6,5%. “A inflação muito alta causa a perda de poder aquisitivo e quem tem dinheiro na poupança corre para tirar para complementar a renda”, diz.
O endividamento dos consumidores, com a perda do valor de seu dinheiro, também tem influência na retirada de dinheiro da poupança. No mês passado, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Santa Catarina (Fecomércio) divulgou a pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor. A média estadual de pessoas endividadas registrou alta de cinco pontos percentuais em comparação com o mesmo mês de 2014.
Outro ângulo avaliado pelo economista é com relação à perda de interesse pela poupança. O governo federal tem utilizado a Selic – taxa básica de juros – para conter a inflação. De acordo com as regras atuais, quando a Selic está acima de 8,5% – hoje ela é de 11,75% -, rende 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Acontece que, por exemplo, em março, a inflação do mês ficou em 1,5%, e em janeiro e fevereiro ela se manteve acima de 1,1%.
Romeu afirma que a poupança, o investimento preferido dos brasileiros, não está garantindo rentabilidade. “Com os juros altos, quem tem poupança não está tendo rendimento. Quem tem mais dinheiro na poupança está investindo em títulos públicos que rendem mais”, avalia o economista.
Na Caixa de Brusque, movimento é inverso
O gerente geral da Caixa Econômica, Ademir Luiz Scanagata, afirma que a retirada de dinheiro da poupança em março em Brusque foi sentida, mas não com tanta intensidade.
Além disso, Scanagata afirma que nas últimas semanas ele tem percebido o movimento inverso na agência de Brusque da Caixa Econômica, com mais depósitos sendo realizados. Na avaliação dele, a segurança da poupança, apesar do baixo rendimento, ainda agrada aos brasileiros.
Diferentemente de outros investimentos, a poupança garante a retirada de todo o dinheiro investido, mesmo que seja antes do previsto, sem perdas. O Banco Central também garante o retorno de até R$ 250 mil em qualquer conta poupança, de qualquer banco. Isso quer dizer que se um banco quebrar, o BC promete devolver até este valor para os clientes da poupança da instituição. No caso da Caixa, não já limite, o seguro é total.
Scanagata ainda faz uma leitura diferente do economista Jairo Romeu. “Estamos passando por um momento diferente. Muitas pessoas cortam o supérfluo e resolvem guardar dinheiro na poupança como garantia”, afirma.
Os bancos Itaú, Bradesco e Banco do Brasil foram procurados pela reportagem, mas não quiseram se manifestar.
Poupança custeia a habitação
Parte do dinheiro depositado na caderneta de poupança é direcionado, por lei, para os programas de habitação do governo federal, explica o gerente geral da agência de Brusque da Caixa. Ou seja, quanto mais depósitos, mais dinheiro a Caixa e o Banco do Brasil têm para emprestar em financiamentos habitacionais a custos mais baixos.