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Prefeitura de Brusque e Hospital Azambuja divergem sobre motivos de demora no pronto-socorro

Na sexta-feira, corpo clínico do hospital emitiu uma carta manifestando descontentamento e preocupação com a situação

Na última sexta-feira, 31, o corpo clínico do Hospital Azambuja emitiu uma carta manifestando descontentamento e preocupação com as recentes situações envolvendo a instituição e o atendimento à população.

Na carta, os médicos dizem que “atualmente ocorre um desvirtuamento da função do pronto-socorro”. Segundo o texto, 75% dos atendimentos do setor não são de urgência e emergência.

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Além disso, dizem que “quando os pacientes são confrontados sobre a necessidade de procurarem o serviço médico de urgência, a resposta é unânime, de que não há outro local onde possam ser atendidas suas demandas de saúde”.


Sob essas condições, o corpo clínico pede algumas mudanças para que a situação normalize.

A primeira delas é a revisão do modelo assistencial de saúde do município, para que as Unidades Básicas de Saúde “possam oferecer maior resolução das demandas clínicas da população”.

O segundo pedido é “retomar o projeto de criação de Unidades de Pronto Atendimento (UPA)”. O corpo clínico acredita que haverá diminuição da demanda no hospital para casos que não exijam atendimento hospitalar.

Seguindo na linha de aliviar a demanda de consultas hospitalares, os médicos também pedem a criação de um ambulatório de ginecologia e obstetrícia.

A última solicitação é a contratação de um pediatra para o pronto-socorro. No texto, o corpo clínico ressalta que um quarto dos atendimentos realizados são pediátricos e não há um especialista trabalhando no setor. “O pediatra que fica de plantão no hospital tem que prestar atendimento exigido no berçário, sala de parto e pacientes internados, além de realizar pareceres solicitados”.

Motivação
Em entrevista a O Município, o diretor clínico do hospital, Charles Machado, explica que a decisão de enviar o comunicado à imprensa veio em função dos últimos acontecimentos envolvendo, principalmente, o pronto-socorro.

O médico afirma que as chefias dos setores decidiram se reunir e escrever o texto mostrando a preocupação dos médicos da instituição com relação à saúde do município.

“Precisa se desarmar, acabar com essas discussões e tomar uma atitude para que todos saiam ganhando, principalmente aqueles que precisam de uma assistência pública de saúde. Temos que unir essas pontas, por isso, apontamos algumas questões. Acreditamos que é preciso rever o modelo de atendimento da saúde de Brusque”, diz.

No último mês, a superlotação do pronto-socorro do Hospital Azambuja gerou discussões e trocas de farpas entre a instituição e a Secretaria de Saúde. A situação se agravou quando, no início do mês, uma mulher foi atendida por um bombeiro dentro do pronto-socorro, já que o local estava cheio.

Naquela ocasião, o hospital afirmou que a falta de resolutividade das unidades básicas de saúde do município era o principal motivo para a lotação do pronto-socorro.

Este também foi um dos principais pontos levantados pelo corpo clínico no comunicado. Charles Machado afirma que é preciso conscientizar a população sobre a necessidade de procurar os postos de saúde antes de ir ao hospital.

“Quando o paciente não precisa de atendimento emergencial vai buscar o pronto-atendimento, mas está tirando as vagas de urgência de quem tem mais necessidade. Hoje a população não entende esse fluxo. É importantíssimo estimular a população a procurar as unidades básicas”, diz.

Machado afirma que todo o corpo clínico do hospital está interessado em resolver e melhorar a situação, principalmente porque a maior beneficiada será a população.

“É importante que a população compreenda que o médico está ali para ajudar, queremos o bem da população e todas essas discussões que aconteceram são importantes para que haja um entendimento e todos saiam bem. O maior beneficiário será aquele paciente que precisa, vai procurar o hospital e merece ter um excelente atendimento”.

“São queixas de processos de trabalho interno, não externo”

Na sexta-feira, O Município procurou o secretário de Saúde, Humberto Fornari, para comentar a carta divulgada pelo corpo clínico do Hospital Azambuja. Para ele, não há nenhum tipo de atrito entre a secretaria e o hospital.

“Continuamos com passe livre no sentido de progredirmos na questão da saúde pública. É óbvio que em momentos de maior estresse vão surgir embates por ambas as partes, é uma consequência normal de todo o trâmite de negociações”.

Sobre a nota do corpo clínico, o secretário diz que entende e apoia, mas para ele, vários pontos levantados pelos médicos devem ser discutidos e resolvidos internamente entre corpo clínico, direção técnica e hospitalar. “São queixas de processos de trabalho interno e não de trabalho externo envolvendo a Secretaria de Saúde”.

Por sua vez, o administrador do hospital, Evandro Roza, discorda. Para ele, os pontos levantados pelos médicos da instituição também são de responsabilidade da Secretaria de Saúde. “É uma pena que o secretário pense desta forma”, diz.

Atendimento das UBS x atestados

Fornari afirma que desde o dia 24 de maio o processo de atendimento das unidades de saúde já foi reformulado. Foi emitida uma circular para as equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que aponta a necessidade de um volume maior de atendimento.

O secretário diz que agora todas as unidades de saúde do município têm a obrigação de atender 16 consultas por período, sendo 12 espontâneas, que são aqueles pacientes que chegam passando mal, com algum tipo de dor, e outras quatro, agendadas. “Flexibilizamos essa estratégia de atendimento. É um processo que precisa ser reavaliado. A nossa expectativa é que essa reorganização vá também trazer um impacto positivo dentro do hospital”.

Fornari afirma que a secretaria trabalha no credenciamento das unidades de saúde do Limeira e Jardim Maluche em um novo programa do Ministério da Saúde, que prevê a ampliação do horário de atendimento. De acordo com ele, essas unidades foram as escolhidas porque já contam com três equipes da Estratégia da Saúde da Família.

“Ao invés de trabalhar em horário comercial, ampliaremos esse atendimento até as 20h abrindo também aos sábados ou até as 22h. Estamos em fase de documentação e adequando as equipes. Ainda não há uma previsão para começar”.

Fornari diz que existem outras portas abertas para emergência no município além do Azambuja: 13h às 22h na Policlínica; 7h às 12h e 18h às 22h no Hospital Dom Joaquim.

Apesar dos projetos de reformulação das UBS, o secretário diz que parte do grande movimento no pronto-socorro do hospital se deve à emissão de atestados. “Isso é um apelo que já foi discutido em reunião interna com o hospital, no sentido que se forneça atestado somente para aqueles que o repouso é estritamente necessário e a prática hoje não é essa”.

O secretário classifica este como um problema sério e, por mais que o corpo clínico possa estar exposto à situação de risco dentro do pronto-atendimento por negar o documento, ele entende que esse não é motivo para que os atestados sejam facilitados.

“É mais fácil o empresariado se reunir, pagar um guarda, um segurança, alguém que imponha uma autoridade que os médicos possam atender adequadamente, sem intimidação. A própria diretoria do hospital pode fazer isso. Não tenho como interferir colocando um segurança ali, não é nós que administramos o hospital. Essa é uma das reclamações que, para mim, aparece nitidamente na carta”.

Para o secretário, ter um segurança no pronto-atendimento pode melhorar o fluxo de atendimento.

“Estamos providenciando uma pessoa aqui para a Policlínica para que os profissionais tenham segurança para dizer sim ou não para o atestado. Essa é a primeira posição que eu entendo que o hospital deve tomar. É uma sugestão, mas não é nós que vamos determinar. Não determinamos nada lá, o que podemos é forçar questões contratuais. Não temos gerência lá dentro”.

O que diz o administrador
Evandro Roza, administrador do hospital, afirma que a reformulação anunciada pelo secretário nas unidades de saúde pode amenizar a situação do pronto-socorro, entretanto, ele diz que é preciso ter um controle efetivo para saber se esses atendimentos extras serão mesmo realizados.

“Foi um passo, mas não adianta só na teoria fazer normativa. Eu sugiro que a secretaria faça um controle se realmente os médicos vão atender aquela demanda de procura espontânea e agendada. Se a população ver que tem esse atendimento rápido, sem dúvida vai refletir no pronto-socorro, mas só no papel não adianta, tem que ter cobrança”.

Sobre a questão dos atestados levantada pelo secretário, Roza diz que concorda em partes. “A administração do hospital já está pedindo para a coordenação do pronto-socorro para começar a trabalhar isso com os plantonistas, para mudar essa postura. A principal preocupação é a questão das ameaças aos médicos, é uma minoria, mas tendo um caso já preocupa”.

O administrador diz que já há um segurança no pronto-socorro em dias alternados para evitar os problemas com ameaças. “É uma questão cultural de Brusque os atestados. Estamos tentando mudar essa cultura e começar a diminuir os atestados, mas as pessoas procuram o pronto-socorro porque não tem resolução na unidade básica”.

Criação da UPA

Outro ponto levantado pelo corpo clínico na carta foi a retomada do projeto de criação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

Fornari diz que a questão da UPA, para ele, sempre foi uma situação bastante debatida. Ele afirma que se o município quisesse trabalhar com o sistema de UPA teria que retirar uma parcela do recurso destinado ao Hospital Azambuja, uma vez que se destina ao atendimento de urgência e emergência e a UPA tem essa finalidade.

“Fico até surpreso com essa sugestão do corpo clínico, uma vez que a direção do hospital e a administração sempre se mostraram contrários a essa proposição. É algo que ele têm que discutir internamente porque vai criar impacto dentro do processo hospitalar. Nossa proposta é que não seja retirado nada de recurso do hospital e que o local onde seria a UPA se torne um pronto-atendimento, mas não 24 horas, com atendimento de segunda a sábado, ainda estamos em estudo”.

O que diz o administrador
Roza diz que em nenhum momento a administração do Hospital Azambuja se manifestou contra a criação da UPA na cidade. “Vejo que os médicos colocaram a opinião deles, no sentido de que seria uma forma de resolver a saúde de Brusque porque o hospital está sobrecarregado”.

Evandro Roza afirma que a prefeitura pediu para o hospital fazer uma proposta de gestão do pronto-atendimento que será montado no Santa Terezinha no lugar na UPA 24 horas, em cima de um modelo pronto, mas para ele, o modelo proposto pela prefeitura não é resolutivo.

“Sugerimos fazer a proposta de atendimento das 8h à meia-noite, com atendimento de dois clínicos e um pediatra”.

Ambulatório de ginecologia e obstetrícia

No comunicado enviado pelo corpo clínico do Azambuja, os médicos solicitam a criação de um Ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia para aliviar a demanda de consultas hospitalares.

Humberto Fornari afirma que a Secretaria de Saúde já conta com um ambulatório da Policlínica para atender gestantes de maior risco. “Eles estão falando de algo que já existe. O médico geral que está na UBS é quem faz a referência desses pacientes, se tenho uma gestante grave, ele vai encaminhar para o ambulatório de obstetrícia e ela vai ser acompanhada pelo especialista”.

O secretário diz que o ambulatório funciona das 8h às 17h, de segunda a sexta-feira.

O que diz o administrador
Evandro Roza diz que já conversou com o secretário de Saúde sobre o assunto. Ele afirma ainda que o Hospital Azambuja atende, em média, 15 gestantes por dia que vão ao pronto-socorro para fazer procedimentos ambulatoriais.

“Se tem essa resolutividade na Policlínica porque cai no Azambuja? É preciso ver isso também. Eu não sei qual o modelo que tem na Policlínica, mas hoje eu comprovo com dados, temos uma média de 15 gestantes por dia que chegam no hospital, o clínico tem que encaminhar para o obstetra que está na sala de parto, aí gera demora. Tem a questão da definição de papéis. O número de gestantes que chega no hospital, muitas sem pré-natal, não é pequeno”.

Pediatra no pronto-socorro

O último ponto levantado pelos médicos do hospital é a necessidade de contratação de um pediatra especificamente para o pronto-socorro. Humberto Fornari também acredita que está é uma questão para ser resolvida internamente.

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“A realidade do SUS é trabalhar com a atenção básica e a partir dali, fazer a ramificação para as especialidades. Quem trabalha com o processo financeiro, gerencial, é o hospital. Não é a secretaria de Saúde, nós apenas repassamos os recursos, não temos poder para contratar um pediatra para o pronto-socorro”.

O que diz o administrador
Roza afirma que a obrigação do hospital é manter um pediatra para atender a sala de parto e a ala pediátrica.

“Estamos falando de porta de entrada, mas se o secretário acha que é nossa responsabilidade, vamos avaliar juridicamente com a coordenação médica para ver como podemos proceder. Talvez vamos tomar outra postura. Hoje temos dois clínicos no pronto-socorro e temos os pacientes pediátricos – até 14 anos – que chegam via SUS. Não entendo quando o secretário diz que não é responsabilidade do município. Hoje temos uma média de dez partos por dia, 20 internações pediátricas e em torno de 60 crianças por dia no pronto-socorro. Não tem como não ser responsabilidade da secretaria”.