Prefeitura de Brusque pretende revisar plano de cargos e salários
Medida está na pauta devido ao grande crescimento vegetativo da folha de pagamento do município
Medida está na pauta devido ao grande crescimento vegetativo da folha de pagamento do município
Conforme dados registrados até agosto deste ano, a Prefeitura de Brusque gastou 52,78% da sua receita líquida com a folha de pagamento. Isso está acima do limite prudencial estipulado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é de 51,30, e próximo do limite máximo de 54%.
A folha, conforme relatórios obtidos pelo jornal O Município, tem tido crescimento mês a mês, em que pese o número de funcionários variar pouco. Em média, tem sido gastos R$ 14,4 milhões mensais com a folha de pagamento do funcionalismo.
O Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC), inclusive, já fez alertas à prefeitura para que tome medidas para reduzir o tamanho da folha. A Controladoria-Geral do Município (CGM), no mesmo sentido, encaminhou memorando ao gabinete no qual recomenda que sejam aplicadas medidas para reduzir o gasto com pessoal.
Consultada sobre o assunto, a prefeitura informou que planeja ações de curto e médio prazo para reduzir o gasto com o funcionalismo, que incluem desde o corte de gratificações até uma revisão geral do plano de cargos e salários.
Um decreto está sendo preparado para acatar as recomendações da CGM. O documento, que será publicado ainda neste mês, estipulará a suspensão da concessão de gratificações aos servidores, assim como a suspensão da cessão de funcionários a outros órgãos, cujo salário é pago pela prefeitura.
Também não será mais feita, por tempo indeterminado, a concessão de diárias ou adiantamento de diárias, salvo houver expressa orientação do prefeito Jonas Paegle.
Ainda será suspensa a participação de servidores públicos em treinamentos, seminários e cursos. O governo também pretende limitar as horas extras ao mínimo necessário.
O decreto também contempla outras medidas que não se referem diretamente à folha de pagamento, mas à redução de outras despesas da prefeitura.
Conforme o texto, somente serão aceitas requisições de compras feitas até o dia 10 de novembro, e somente serão empenhadas e pagas as despesas cuja nota fiscal seja expedida até 30 de novembro.
“São ações de curto prazo, não vai resolver o problema [da folha de pagamento], mas vai servir para que a gente possa iniciar o trabalho e ter um tempo para discutir alterações e mudanças junto aos interessados”, afirma William Molina, secretário de Governo e Gestão Estratégica.
Segundo o secretário, reduzir o impacto da folha de pagamento demanda ações de médio prazo, e uma reestruturação no plano de cargos e salários do funcionalismo.
Molina diz que o atual plano de cargos e salários do município não está adequado à realidade financeira de Brusque. “Não que o servidor público seja o responsável por essa situação que se criou, na verdade ele é uma das vítimas deste sistema que não está adequado”, opina.
O que preocupa a prefeitura, ele diz, é o chamado crescimento vegetativo da folha: ou seja, ela aumenta mesmo que o número de funcionários esteja estagnado.
Ele explica que, este ano, por exemplo, todos os servidores tiveram reajuste de 5,19%, e, além disso, todos os que já completaram um ano tem o adicional por tempo de serviço (ATS) de 2% ao ano. Isso significa que o servidor que menos teve ganho salarial recebeu 7,19% de reajuste.
Além disso, existem as tabelas de aumento salarial relacionadas às progressões funcionais. Quando o servidor completa três anos, ele ganha mais 3%. Na prática, precisaria passar por uma avaliação criteriosa para receber essa promoção.
“Hoje não temos implantando um controle sobre a avaliação das carreiras, o servidor automaticamente recebe uma avaliação mínima de aprovação, para que ele possa ganhar esse aumento”, explica.
Um projeto de reestruturação da avaliação funcional, tornando-a mais criteriosa, será apresentado em breve pela prefeitura.
“Estamos trabalhando em um projeto para reestruturar esse mecanismo de avaliação da carreira, e isso tem que ser implantado o mais breve possível, porque aí vai impedir que aquele servidor que não mostra competência, dedicação, faça sua progressão na carreira, sem estar apto a isso”, avalia Molina.
Somado a isso, há também previsão, no plano de carreira, que os servidores que realizam cursos possam ter até 6% de adicional ao salário.
Para o governo, a arrecadação não comporta mais esse modelo, que terá que mudar.
Todos os adicionais, conforme o secretário, podem fazer com que um único servidor receba mais de 20% de aumento em um só ano.
“Como daremos conta se a arrecadação da prefeitura jamais vai chegar neste patamar de crescimento. Tem que começar uma revisão desta situação, para que a prefeitura não se inviabilize num futuro próximo”, explica.
A revisão do plano de carreira, diz, é o caminho para reduzir a folha, mas não é possível ser feita em curto prazo.
“Necessita de estudo e discussão com os envolvidos, os servidores, é o único caminho aceitável para que a gente possa fazer correções. Não digo que o plano precise ser anulado ou refeito completamente, ele precisa de correções”.
Ele explica que o objetivo é evitar que haja servidores no governo com salários muito elevados, de mais de R$ 30 mil, como existe hoje.
O que se vislumbra, por exemplo, é modificar os índices e os prazos do adicional de tempo de serviço, que hoje é de 2% ao ano. Molina diz que há prefeituras que trabalham com triênios, ou seja, 3% pagos a cada três anos.
O limite também está no centro da discussão: hoje o adicional pode chegar a 50% do salário. Molina diz que em muitas prefeituras o limite é de 15%, 20% e no máximo 30%.
“Um servidor ter 50% a mais no salário simplesmente pelo fato de ter permanecido um longo período, acredito que não se justifica, temos que reavaliar”.
Hoje são 197 comissionados, segundo a prefeitura, incluindo os efetivos que atuam em funções de confiança, por exemplo nos setores de Recursos Humanos e Orçamento.
O governo diz que que eles representam 4% da folha, em média, e mesmo que fossem todos demitidos, não resolveria o problema.
“E também e impossível que haja uma administração sem que o prefeito tenha à sua volta pessoas da sua confiança que possam executar o projeto de governo. Comissionados não foram criados agora, existem ha bastante tempo, não vamos resolver esse problema tirando todos os comissionados”, avalia o secretário.
O Observatório Social de Brusque (OSBr), a pedido do jornal O Município, realizou pesquisa no Portal de Transparência da Prefeitura de Brusque, referente ao salário médio dos diferentes cargos ocupados no paço municipal, em agosto de 2017.
Conforme a pesquisa, aparece como maior média salarial a dos médicos, com valor de R$ 15.208,48, e a menor média é a dos agentes comunitários de saúde, com o valor médio de R$ 1.594,91. A categoria mais numerosa é a de professor, com 983 profissionais, que tem salário médio de R$ 3.474,09.
O OSBr esclarece que os dados são totais, e podem incluir benefícios pontuais, bem como alguns funcionários estão ocupando cargos comissionados e recebendo valores bem maiores do que a função original, situações essas que podem provocar pequenas variações nos resultados finais da pesquisa.