Tomo emprestada a temática desenvolvida pelo desembargador Eduardo Mayr, diretor cultural do Instituto dos Magistrados do Brasil, no último informativo dessa instituição, para refletir sobre o problema nada novo que ele aborda.
O desembargador faz alusão a quatro mensagens que teriam sido expostas por um palestrante ao início de sua exposição. A primeira diz que “nossa juventude adora o luxo, é mal educada, caçoa da autoridade e não tem respeito pelos mais velhos”, e também que “nossos filhos são verdadeiros tiranos”. A segunda diz que não há “nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã”. A terceira diz que “o mundo atingiu o seu ponto crítico, os filhos não ouvem mais os pais” e ainda que “o fim do mundo não dever estar muito longe”. Por fim, a quarta diz que “nossa juventude está estragada até o fundo do coração”, que “os jovens são malfeitores e indolentes” e que “a juventude de hoje não será capaz de manter nossa cultura”.
O que surpreende é a revelação dos autores e épocas das respectivas mensagens. A primeira é atribuída a Sócrates, no século V a.C; a segunda a Hesíodo, poeta grego que viveu duzentos anos ainda antes de Sócrates; a terceira é de um sacerdote judeu do ano 2.000 a.C e a última é de um escrito da Babilônia do ano 4.000 a.C.
O texto me instigou. Como vemos, o conflito de gerações não é coisa de hoje, e o que poderia parecer um mero diagnóstico pessimista das questões educacionais e familiares atuais já fazia parte do cardápio de problemas de gerações muito mais antigas, em diversos tempos e lugares.
Essa reflexão nos ajuda a aliviar um pouco a carga de pessimismo em relação ao futuro, por conta dos graves problemas educacionais da atualidade. Não parece haver motivo para imaginar que o mundo vai acabar em duas décadas e, se isso acontecer, não podemos atribuir a culpa aos jovens, porque os que estão se esmerando em destruí-lo já estão bastante crescidos. Todos nós temos que melhorar muito para que o futuro seja melhor. Se queremos melhores filhos e alunos, temos que ser melhores pais e mestres. Como diz uma antiga canção do Pe. Zezinho, “há muitos jovens vazios, porque há poucos adultos transbordando”. Como a canção já tem algumas décadas, muitos de nós éramos ainda crianças quando ele reclamava dos adultos de então.
Toda geração tem seus defeitos. Nossa missão é superar os nossos e cuidar para que a próxima geração erre menos. Como se pode ver, esse é um desafio histórico.