Promotoria Pública – No tempo do distante Oeste
Época em que diploma de bacharel em Direito era privilégio de poucos, menos ainda eram os que manifestavam interesse em deixar a capital ou as cidades do litoral para trabalhar na desconhecida e isolada região oestina. Com certa arrogância, imaginava-se que, no litoral, estava o progresso, o bom da vida, enfim, a civilização. O fato é que poucos catarinenses litorâneos tinham pisado aquelas terras distantes, que pareciam ainda mais longínquas pela falta de integração política e administrativa. Os meios de comunicação eram precários e não havia sequer uma estrada asfaltada.
Na área da justiça, as poucas comarcas do Oeste permaneciam meses e até mais de ano sem juiz ou promotor. O salário era baixo e as comarcas da fronteira com a Argentina eram consideradas de “difícil provimento”, para fins de remuneração adicional. Porém, não adiantava. Parece que todos preferiam viver na orla litorânea a contemplar a beleza das ondas do mar se esparramando na praia e a se deliciar com a brisa refrescante do nordeste soprando da imensidão oceânica.
Não foi o meu caso. Decidi ser Promotor Público. Nomeado em maio de 1967, jovem e cheio de entusiasmo, fui iniciar minha carreira ministerial numa comarca oestina. A cidade de Palmitos tinha concessionária da Willys Overland e uma loja das Casas Pernambucanas. Então, seu comércio devia ser mais desenvolvido do que a maioria das cidades do litoral, cheias de história e tradição, mas economicamente empobrecidas. E, se lá se vendia jeeps e caminhonetas picape, é porque devia ser uma boa cidade para se viver e trabalhar.
Como quase todas os municípios do nosso Oeste, Palmitos havia sido fundada por colonos gaúchos, que trouxeram consigo uma cultura de ordem e de trabalho das suas cidades de origem. Era uma cidade dividida, demograficamente. Metade da população era de origem germânica.
Até então, pensava que nossa gente de origem alemã vivia unicamente no Vale do Itajaí e no norte catarinense. Assim, foi surpreendente ver famílias Müller, Trenepol, Fingenbaum, Engel, Berger, num município tão distante do Vale do Itajaí. Outra metade da população era de origem italiana, os Pazzettis, os Bridis, os Telós, os Luccas, os Tombinis, os Prettis, as famílias mais tradicionais, que lembro os nomes.
A rivalidade era grande. Alemães e italianos viviam em comunidades separadas. Respeitavam-se uns aos outros, a cidade era tranqüila e isso facilitou o meu trabalho de Promotor iniciante.