PT articula retorno à prefeitura em 2017
Depois de perder judicialmente o comando do município, partido se prepara para disputar eleição no próximo ano
Depois de perder judicialmente o comando do município, partido se prepara para disputar eleição no próximo ano
Depois de décadas com resultados inexpressivos, o Partido dos Trabalhadores (PT) finalmente conseguiu vencer uma eleição para a Prefeitura de Brusque, em 2008, com renovação do mandato em 2012. Mas, com seis anos e três meses de governo, a sigla foi obrigada a deixar a prefeitura, por força de decisão judicial que cassou o mandato do então prefeito Paulo Eccel.
Essa repentina ruptura nos planos obriga a sigla a reestruturar sua estratégia de campanha para 2016. Em vez da clássica campanha de continuidade de ações, o partido apostará no discurso de “reconstrução”. A expressão “desgoverno” tem sido cunhada insistentemente por lideranças petistas, para caracterizar a gestão interina de Roberto Prudêncio Neto (PSD).
Parte da estratégia também passa pela expectativa de um retorno do ex-prefeito Paulo Eccel ao cargo, o que depende da agilidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julgar o recurso. Até o momento, porém, a coisa anda a passos de tartaruga. “Obviamente, esperamos que este período de interinos acabe logo. Para nós é uma questão de fazer justiça e é um fator importante para o ano que vem”, afirma Cedenir Simon, ex-chefe de gabinete da prefeitura.
Enquanto há incerteza sobre os desdobramentos no tribunal, há certeza de que a sigla vai lançar candidato à prefeitura no próximo ano. “Se tínhamos um governo que estava tendo respeito com o cidadão, cuidando bem da cidade, creio que uma candidatura hoje do PT, tentando levar para a população aquele tipo de serviço que vinha sendo executado, é uma oportunidade”, avalia o presidente municipal da sigla, Felipe Belotto.
“Temos nomes e vamos defender, com certeza vamos participar do pleito. Era um projeto que vinha dando certo e que é uma pena ter sido interrompido injustamente”, afirma a líder do partido na Câmara de Vereadores, Marli Leandro.
“A população viu a mudança na nossa forma de governar. Os espaços para manifestações, debates, eram muitos. Hoje, se faz pacto sem conversar com ninguém. Brusque teve um serviço público e obras que nunca viu. Cabe a nós reavivar a memória de nossa população e continuar o caminho que o partido sempre trilhou com os parceiros que se mantiveram leais”, opina o vereador Valmir Ludvig, líder da oposição no Legislativo.
Partido evita falar em nomes
Embora a candidatura própria esteja quase certa, há um silêncio sepulcral de membros do partido, quando questionados sobre nomes aptos a disputar uma eleição.
Somente duas lideranças colocaram os seus à disposição para disputar o pleito: Cedenir Simon e o vereador Claudemir Duarte, o Tuta. “Como fui o vereador mais votado do PT, de repente possa a vir a colocar o nome à disposição”, diz Tuta, “mas tudo isso ainda vai passar por conversas internas”.
Os demais vereadores e o presidente do partido dizem que os nomes serão anunciados no momento oportuno, embora admita-se que já há conversações internas. “Um nome do PT tem que ser discutido com mais calma. Certamente tem quem lembre meu nome, isso também é natural, porque estou no governo desde o começo, ocupei secretarias importantes”, afirma Simon.
Possibilidades de coligações reduzidas
Desde fevereiro de 2014, quando houve racha com alguns partidos da base aliada, o PT viu ruir boa parte das possibilidades de coligação para a eleição deste ano. Problemas no relacionamento com o PP e o PMDB, maiores partidos da base, praticamente inviabilizam, hoje, uma reedição da coligação que foi vitoriosa em duas eleições seguidas.
Simon diz, porém, que o Partido Progressista (PP), embora flerte com o governo interino, também é uma das possibilidades de coligação com o PT em 2016. “O PP fez parte das duas últimas campanhas, fez parte do governo do Paulo e é um partido estratégico no debate de projetos. Ele contribuiu muito na criação deste projeto e teve espaços notáveis no governo”.
Belotto diz que a sigla não irá coligar com os partidos que estão juntos ao PSD, atualmente governando a cidade, opinião que é compartilhada pelos vereadores petistas. “Isso não está no nosso horizonte, porque nós fazemos oposição ao governo que está aí”, disse o presidente do partido.
Segundo o vereador Tuta, o partido tem mantido conversas, há bastante tempo, com partidos menores, e com o PP, o qual, diz ele, é o partido que está mais próximo do PT, entre os considerados grandes.
A influência da cassação de Eccel
Membros do Partido dos Trabalhadores, apesar dos pesares, acreditam que todo o episódio envolvendo a cassação do ex-prefeito Paulo Eccel pode vir a ser um ponto positivo para sua campanha à prefeitura. O argumento é de que, com a interrupção do mandato e a entrada do governo interino, há dois modelos para serem comparados nas urnas.
“Os inimigos do Paulo, que se uniram para tentar inviabilizar o governo, a grande obra deles foi fechar a prefeitura metade do expediente. A experiência da volta ao passado que a cidade está vivendo vai ter um grande peso na eleição do ano que vem”, avalia Belotto.
“Existiam várias obras em andamento, e isso prejudica a cidade. A população vai analisar isso, ver como era administrado e como está agora”, afirma Tuta. Marli Leandro também ressalta a ideia de comparar gestões durante a campanha eleitoral, o que, para ela, dá vantagem ao partido. “A população, segundo as conversas e informações que estamos tendo, não aprova o que está aí; até o momento é só retrocesso”.
Para o vereador Vechi, o partido sairá fortalecido deste episódio. “Boa tarde da população entende que o Paulo foi injustiçado, já que outros prefeitos, pelas mesmas acusações, foram absolvidos. No meu entendimento, isso é uma perseguição até política”.
“A população viu e está vendo a injustiça e o golpe montado por algumas lideranças locais e estaduais. Paulo Eccel incomodou pela forma transparente e democrática de governar. Eles sabiam que ele ia ainda mais longe. Inventaram as mais variadas fofocas para derrubá-lo”, analisa Valmir Ludvig.
“Como não deu certo, inventaram outra história que foi desmontada e a (in)Justiça está com o pepino na mão porque não sabe como consertar a bobagem que fez, iniciada pelo TRE-SC. Se tiverem lucidez, Paulo volta. Independentemente disso, o partido vai para a eleição de cabeça erguida. Quem deve baixar a cabeça são os golpistas”, conclui Ludvig.
Reflexos do clima político em Brasília
O fato de que as coisas estão pegando em fogo em Brasília, com a oposição pedindo a cabeça da presidente Dilma Rousseff, para as lideranças petistas, não irá influenciar negativamente o eleitor local, o qual, em tese, trata a eleição municipal de forma diferente.
“É muito difícil estabelecer um clima nacional no município. Aqui as pessoas vão avaliar se elas estão bem, se a prefeitura dá conta das coisas, se aplica bem o dinheiro, a pauta é outra”, diz Simon. “É normal que se tente puxar as coisas negativas para cá. Quem for nosso adversário vai dar ênfase às coisas negativas [de Brasília]”.
Para Belotto, Brusque já deu demonstrações de que o eleitor separa o clima político nacional do municipal, mas acredita que a oposição ao PT tentará explorar os fatos de Brasília para desqualificar seus adversários locais.
“O eleitor de Brusque não faz essa mistura. Quem vai tentar fazer são os nossos adversários, que não querem fazer comparativo do nosso governo, nem com o governo deles, nem com o governo que nos antecedeu”, avalia o presidente do partido. “Para eles é necessário que tentem tirar o foco da nossa cidade, vão discutir qualquer outra coisa, inclusive o governo da presidenta Dilma”.
Já Valmir Ludvig acredita que a sociedade deve entender que a corrupção não está ligada estritamente a um partido político específico. “Espero que um dia a sociedade entenda que todos somos seres políticos e que o bem ou a corrupção não está concentrada apenas num espaço, num partido ou num governo. A pior corrupção que é a sonegação, no qual também a mídia está envolvida, é ainda pior do que as outras e todas as formas devem ser combatidas sem dois pesos e duas medidas. Combater de forma seletiva, é leviandade”, diz o vereador.