Quase 90% dos autistas estão sem terapias em Brusque
Pesquisa foi realizada pela AMA com as famílias cadastradas na entidade
Pesquisa foi realizada pela AMA com as famílias cadastradas na entidade
Em pesquisa realizada entre abril e maio deste ano, a Associação de Pais, Profissionais e Amigos dos Autistas de Brusque e Região (AMA) detectou que 88% dos autistas do município estão sem terapias ou com menos terapias do que o necessário.
A presidente da entidade, Márcia Graf Faria Gonzaga, explica que a pesquisa foi feita com as famílias cadastradas na AMA e que fazem parte dos grupos de WhatsApp da instituição.
O objetivo foi identificar as principais dificuldades das famílias em relação ao diagnóstico e ao tratamento do autismo na rede pública de saúde de Brusque.
Atualmente, a AMA tem 420 autistas cadastrados, mas a presidente destaca que o número é bem maior, já que o diagnóstico do transtorno é um processo longo, principalmente quando a família depende do SUS.
“Enviamos os formulários para as famílias e tivemos várias respostas. De lá pra cá, nada mudou e, provavelmente, os números aumentaram. Recebemos, diariamente, pais pedindo terapia”.
A entidade está em tratativas com a Secretaria de Saúde de Brusque para firmar convênio e, assim, possibilitar tratamento para 160 crianças autistas da cidade.
Atualmente, a AMA oferece tratamento para 20 crianças de Guabiruba, por meio de convênio firmado com a prefeitura da cidade. “Ainda não tivemos liberação de recursos do Fundo da Infância e Adolescência (FIA) de Brusque. Atendemos durante dois meses com recursos próprios, mas não demos conta. Tivemos que suspender até que o recurso do FIA seja liberado”.
Sobre o convênio que a entidade busca firmar com a Secretaria de Saúde, Márcia explica que o projeto foi apresentado para o Conselho Municipal de Saúde (Comusa), que solicitou algumas alterações, já realizadas pela entidade. Agora, a presidente aguarda uma nova reunião para oficializar a parceria.
“Esperamos que o convênio seja aprovado. Para este ano, sabemos que não tem como, mas esperamos que seja incluído no orçamento do ano que vem”, diz.
Márcia destaca que a falta de terapias é um problema sério, que impacta diretamente na vida dos autistas, das famílias e da sociedade em geral.
“Os números são alarmantes. Qual vai ser o futuro dessas crianças? Elas vão se evadir da escola, desenvolver depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Impacta também na taxa de suicídio, que entre os autistas é de quatro a 10 vezes maior do que na população não autista. O suicídio é a segunda maior causa de mortes entre autistas, por isso, a necessidade de que todos tenham acesso às terapias desde os primeiros anos”.
De acordo com a pesquisa da AMA, 69,4% dos autistas aguardam por fonoterapia. Em seguida, 61,1% esperam por psicoterapia, e 52,9% aguardam por terapia ocupacional. Os autistas do município aguardam ainda por psicomotricidade, fisioterapia, nutricionista e terapia comportamental.
O levantamento também revela que 94,8% já tiveram que pagar por terapia particular devido à demora ou a falta de profissionais no SUS, e que 43,1% dos pais já tiveram suas suspeitas ou preocupações relacionadas ao autismo invalidadas por profissionais do sistema de saúde público.