Que “imagem” você faz de Deus? (1)
É importante e necessário responder a essa questão, em nossa vida. Da resposta dada, depende nosso relacionamento com Deus. Dela, depende nosso seguimento a sua proposta de vida. Nossa obediência, nossa oração, nosso testemunho por palavras e atitudes. De fato, fazemos tudo de acordo com o modo que “imaginamos” a Deus, conforme a imagem prevalente dele que formamos e carregamos em nosso interior. Que tipo de “pessoa” que é a imagem básica de Deus? Ela será condicionante na relação vivida por uma determinada pessoa e Deus. E, também, com as demais pessoas e até com o mundo que nos cerca.
Quem vai nos auxiliar na reflexão é São Bernardo de Claraval (1090-1153), abade do mosteiro cisterciense de Claraval (em francês Cerveau). Foi um grande pregador e renovador da vida monástica. Deixou uma enorme coleção de escritos teológicos, filosóficos e de orientação espiritual.
Bernardo fala que tem três tipos básicos de seres humanos que dão respostas diferentes a essa pergunta: quem é Deus para você? E acentua que a resposta depende da “imagem” que se faz de Deus e de si mesmo. Assim, temos os que consideram Deus um potentado com força cega, onipotente e onipresente que tudo submete. Patrão dominador sou, então, um escravo (a), procuro de todos os modos não contrariá-lo. O segundo grupo são os (as) que constroem em si a “imagem” de um magnata riquíssimo. Para ter algo para mim de toda essa riqueza tenho que “barganhar”, negociar. Sou um comerciante, mercenário. O terceiro grupo já tem uma imagem que não é “fabricação própria”, mas lhe é revelada pelas Sagradas Escrituras e, sobretudo, por Jesus Cristo, o Deus-Conosco, que Deus é Pai e nós somos adotados como filhos (as) e irmãos (ãs) de Jesus.
Hoje, vejamos o primeiro grupo e sua maneira de servir a Deus. Boa parte das pessoas forma em si a “imagem” de um Deus que é basicamente uma força poderosa, bruta. Um potentado inacessível, mas atuante e presente. Uma energia carregada de uma onipotência cega, capaz de fazer o que quiser e de forçar sua vontade em todas as situações e sobre todos. Um “senhor absoluto”, um “patrão” implacável. Por correlação de imagens, então, faz surgir em nós a nossa “imagem” que fazemos de nós mesmos. Começamos a nos “ver” e a “agir” como “servos”, até “escravos”. Até fazemos esforço para amenizar um pouco. Mas, no fim fica a imagem básica com a relação colada nela. Um “senhor” que é poder supremo, fonte de todo o poder e contra o qual não é possível apelar.
Se experimento Deus a partir dessa situação: Deus como “Senhor” e eu “escravo”, qual será a emoção, a atitude que caracteriza minha obediência e meu seguimento a sua proposta de vida? Certamente, será basicamente medo, com boa dose de ressentimentos, resignação, talvez resmungos interiores. Uma submissão silenciosa, subserviente, sem significação positiva para minha vida. Vou segui-lo porque não há outra escolha. Não há dúvida, que a relação entre pessoas assim, será dura de viver, quem sabe, até terrível. Uma qualidade de vida nada confortável e amorosa.
Foi essa visão, que no século XIX, Ludwig Feuerbach e depois Karl Marx viram na vivência da religião em geral e, particularmente, no Cristianismo de então. De fato, se for essa a “imagem” de Deus, só tem que gerar uma “religião” do medo, da submissão tácita, da resignação, do fatalismo… Ou, gerar uma “religião” de fuga, de alienação, criadora de vida pessoal e social de alienação, de pobreza e de miséria. De exploração pelo “Senhor” do “escravo”, traduzido também nas relações interpessoais entre as pessoas na família e na sociedade, sobretudo, nas relações econômicas.