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Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brusque completa 30 anos; conheça a história e os desafios da instituição

Custear despesas e inserir pacientes na lista de prioridade de tratamento são o maiores desafios da entidade

No início da década de 1990, Miriam Evangelista Ribeiro trabalhava como técnica em raio-x no Hospital Azambuja, em Brusque. Certo dia, Lici Maria Wilrich, a primeira presidente da recém-fundada Rede Feminina de Combate ao Câncer a viu por lá e a convidou para ser secretária da entidade. Miriam aceitou e, por durante dois anos e meio, dividiu o dia entre o hospital e o novo cargo. Hoje, ela é a atual presidente da entidade, que, nesta quinta-feira, 4, comemora 30 anos de fundação.

No total, Miriam, hoje com 56 anos, soma 27 como voluntária. Ela foi empossada como presidente em 29 de janeiro deste ano e estará à frente da Rede Feminina até o fim de 2020. Além dela, a diretoria é composta por mais cinco integrantes, e, ao todo, são 51 voluntárias.

Luiz Antonello

Segundo Miriam, o trabalho na rede é intenso. “A gente se dedica muito, então quem vem para trabalhar de verdade em prol do outro é muito bem aceito”, conta. “Agora, se pensam que a entidade é só fotografia e rede social, estão muito enganados, não é brincadeira não, tem muito trabalho pra fazer”, completa.

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Atualmente, no local são atendidas cerca de 90 pacientes com câncer de mama e colo de útero. Destas, quase todas são atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A Rede Feminina não tem condições financeiras de bancar o tratamento. Podemos reclamar do SUS, mas é ainda o que dá o tratamento para elas”, explica Miriam.

Luiz Antonello

Dentre as atividades oferecidas pela entidade, são realizadas palestras, atendimentos com psicólogas voluntárias, jogo de bingo e trabalhos manuais.

A Rede Feminina também dispõe de atendimentos fisioterapêuticos, empréstimos de perucas, doação de lenços, sutiã e prótese de silicone externo mamário, cadeira de massagem, dança circular – em parceria com o Sesc, e transporte gratuito para consultas ou tratamento oncológico em Blumenau.

Apoio às mulheres

A vice-presidente da entidade, Sonia Maria Cadore Heinig, 59, é bancária aposentada. Em 2016, quando começou a ser voluntária na Rede Feminina, ela atuava como motorista.

“As pacientes nos ensinam muitas coisas. A minha maior felicidade era quando uma delas me contava que estava curada, é uma batalha que se tem pela frente”, relata.

Na busca pela cura, as pacientes são acolhidas e tem suporte emocional na Rede Feminina. Nas segundas e terças-feiras, acontecem os grupos de apoio na entidade. “Somos parte de uma família delas”, conta a vice-presidente.

“Às vezes até mais do que a família, a gente tenta trazer a família para acompanhar e ajudar a paciente. Metade do tratamento delas é psicológico”, complementa Miriam. Para ela, uma pessoa que está sem problemas psicológicos ou familiares consegue lidar melhor com a doença.

A psicóloga Maria Guadalupe Fuentes, 28, trabalha 40 horas mensais na entidade. É uma das cinco, entre duas profissionais formadas e duas estudantes, que ajudam no apoio às pacientes.

Luiz Antonello

Para Maria, o que mais impacta na vida das atendidas é a mastectomia, a remoções dos seios, que está diretamente ligada a identidade feminina das mulheres.

“Sozinhas, muitas delas não têm suporte. O maior desafio é a gente conseguir transmitir um serviço empático, e auxiliá-las a ressignificar a vida a partir da doença”, explica.

Segundo a voluntária Eulália Bado Walendowsky, 63, ou Lolita, apelido que carrega desde a infância, o trabalho feito na entidade reflete em toda a vida da paciente. “Aqui elas se sentem bem, elas podem se soltar, a gente ajuda a fazer brincadeira, é muito bom”, conta.

Desafios do dia a dia

“Todo dia que tu chega aqui, você se depara com um desafio a mais”, conta a presidente. Segundo ela, o custo médio para alguém com câncer é de R$ 25 mil, com quimioterapia e radiografia. O maior desafio é fazer que a pessoa, após descobrir que tem a doença, entre em tratamento em até 60 dias.

A referência é para o prazo estabelecido pela Lei 12.732, de 22 de novembro de 2012, que garante o tratamento gratuito pelo SUS a pacientes com neoplasia maligna, que é um tumor ou câncer.

“Mas está difícil de conseguir isso, porque hoje existe uma fila única e a gente precisa que essa paciente tenha prioridade na fila de prioridades”, conta.

A demora do atendimento também é o maior desafio para a brusquense Sônia Rieg Fischer, presidente da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Santa Catarina. Ela também esteve à frente da entidade brusquense durante duas gestões, entre 2013 e 2016. “O paciente já está debilitado, sem chão, está sabendo da doença, e ainda existe essa demora”, complementa.

Além disso, arcar com despesas mensais também preocupa a diretoria. “Nós não podemos deixar de arrecadar, porque temos despesas fixas”, explica Miriam.

Segundo a tesoureira da entidade, Sonia Regina de Araújo Francisco, 59, o gasto fixo mensal é de R$ 17 mil, e muitas melhorias precisam ser feitas.

Eventuais compras de materiais e medicamentos também podem interferir nas contas da Rede Feminina. Caso uma paciente precise de um remédio que o SUS ainda não liberou, por exemplo, a Rede Feminina arca com a despesa até o sistema garantir o medicamento, muitas vezes caríssimos.

A entidade conta com a colaboração de cinco funcionários: um médico ginecologista, uma enfermeira, uma fisioterapeuta, uma secretária e uma diarista. Uma estagiária auxilia a secretaria, e uma psicóloga é contratada como prestadora de serviços.

De acordo com a presidente da entidade, parte dos exames feitos por lá é vendido para a Secretaria de Saúde, como fisioterapia, trabalho de enfermeiras e médico.

O brechó da entidade é uma das principais fonte de arrecadação para a manutenção. Funciona na própria sede da entidade, de segunda a quinta-feira, das 13h às 17h, e nas sextas-feiras, das 8h às 12h e das 13h às 17h

Luiz Antonello

O restante do recurso é garantido com doações e eventos, como o chá, em maio, uma rifa de um carro, e o pedágio, dentre os eventos fixos. “Eu só tenho a agradecer a comunidade brusquense, porque os nossos pedágios são sempre um sucesso”.

Quando conseguem arcar com as despesas, fazem o bingo, macarronada, entre outros. “Os desafios sempre vão existir, mas a Rede Feminina de Brusque é muito bem reconhecida no município por ser bem transparente”, finaliza Sônia Rieg Fischer, explicando que isso facilita o contato com empresário na busca por doações.

História da instituição

Fundada em 4 de julho de 1989, a Rede Feminina de Combate ao Câncer em Brusque iniciou suas atividades em 10 de março de 1990, após a instalação oficial.

Segundo Lolita, nos primeiros anos era muito mais difícil, principalmente para conseguir recursos.

“O maior desafio, no início, era onde colocar o ambulatório. Não tinha dinheiro, ninguém tinha uma sala. A única coisa foi irmos atrás do padre Nélio”, relata.

O diretor administrativo do Hospital de Azambuja, padre Nélio Roberto Schwanke, ajudou ao ceder três salas, onde ficaram por sete anos.

Em 26 de maio de 1997, foi inaugurada a sede própria da Rede Feminina, na rua João Archer, 32. O terreno foi doado pelo estado e o trabalho foi concluído com o apoio das voluntárias e empresas privadas.

Rede Feminina de Combate ao Câncer/Arquivo

No início, a entidade somente realizava exames preventivos do colo de útero, e foi aumentando os trabalhos ao longo dos anos.

Hoje, são realizadas de 300 a 400 exames preventivos, 400 atendimentos de enfermagem e 200 atendimentos com o médico, que faz a entrega do preventivo e, quando necessário, encaminha para o tratamento.

Segundo Miriam, o objetivo para o futuro é a construção de outra unidade, já que esta está sobrecarregada de atendimentos.

Abrindo caminhos

A primeira presidente, de 1990 a 1991, foi Lici Maria Wilrich, faleceu de câncer de mama em 16 de janeiro de 2009. “Lici era uma pessoa alegre, sabe aquela pessoa que ri de tudo? Dá gargalhadas? Ela também era batalhadora”, recorda Lolita. ”Lutou muito pelas mulheres, na busca por direitos, remédios, por pacientes carentes”, complementa Miriam.

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Nas lembranças, Lolita relembra que ela e Lici faziam parte do grupo internacional Soroptimistas, uma ONG internacional de mulheres com objetivo de tornar o mundo um lugar melhor para outras mulheres e meninas.

“Fomos convidadas para uma reunião, pois elas gostariam de fundar uma Rede Feminina em Brusque. Participamos da primeira reunião”, conta.

Na ocasião, escolheram a Lici como presidente, pois ela já tinha sido diagnosticada com câncer.

Rede Feminina de Combate ao Câncer/Arquivo

“Eu gostava muito dela, como pessoa e presidente. Não teria uma presidente melhor do que ela para ser a primeira”, complementa Miriam.

Sônia Rieg Fischer reforça de que é necessário lembrar daquelas que iniciaram. “A Leci, junta com várias outras, que tiveram a coragem. Garanto que não foi fácil, mas elas foram persistentes”, finaliza.

Lista de presidentes da Rede Feminina de Brusque

Lici Maria Wilrich (1990-1991)
Eulália Bado Walendowsky (1992-1993)
Hedwiges Stein Valle (1994-1995)
Solange Del Farra Dadam (1996-1997)
Lúcia Helena Valle Orthmann (1998-1999)
Marilda Olinger (2000-2001)
Marlene Boing (2002-2003)
Maria do Carmo Tomazoni Zen (2004-2005)
Lúcia Helena Borjas dos Santos (2006-2007)
Lúcia Helena Valle Orthmann (2008-2009)
Sirley T. Belotto dos Santos (2010-2012)
Sônia Rieg Fischer (2013-2014 e 2015-2016)
Sonia Marisa de Oliveira Zink (2017-2017)
Rainilda Lunardelli Zucco (2017-2018)
Miriam Evangelista Ribeiro (2019-2020)

Alteração: às 17h45, de 4 de junho de 2019, foi feita a alteração do penúltimo mandato da presidência da entidade, com a inserção de Rainilda Lunardelli Zucco (2017-2018).