Um projeto de lei em tramitação no senado, de iniciativa do professor Ernani Pimentel, propõe uma simplificação da ortografia da língua portuguesa. O professor Ernani pretende diminuir o número de horas utilizadas no ensino da língua pátria, das atuais 400 horas para 150 horas. Evidente que isso não poderá ser feito sem uma quase mutilação da língua portuguesa. Há opiniões para todos os gostos nos sites dedicados a essa discussão. Manifesto aqui o que penso sobre o assunto, ligando o tema às questões educacionais que costumo discutir.

Que a língua portuguesa está longe de ser fácil é óbvio. Mas podemos elencar três hipóteses para começar a discutir a necessidade de uma reforma da dimensão proposta pelo professor Ernani: a) a língua é complexa demais, não tem como aprendê-la; b) o brasileiro é pouco dotado intelectualmente, por isso não consegue aprender a língua pátria; c) o sistema educacional está eivado de concepções pedagógicas equivocadas, que pioraram muito o ensino da língua – e de todo o resto – nas últimas décadas.

É claro que a minha alternativa é a “c”. Tenho batido insistentemente nessa tecla e não vou parar de fazê-lo. Um dos problemas para que eu seja entendido é que as últimas pessoas que frequentaram a escola “de antigamente”, antes que a pedagogia fosse tomada pelas ideias políticas e métodos “modernos” já beiram os 50 anos. Isso significa que temos pelo menos duas gerações de professores que foram formados unicamente na mentalidade educacional mais recente. Portanto, elogiar a educação tradicional soa para essa gente como uma espécie de saudação nazista (aliás, os defeitos da educação tradicional também têm sido alvo frequente das minhas críticas).

Quanto mais retroagimos no tempo, mais qualidade encontramos na educação brasileira. Em currículos mais antigos, além da dificílima língua portuguesa, ensinava-se ainda latim, grego e francês. No Paraguai, as crianças são alfabetizadas em espanhol e guarani. E o que dizer das crianças japonesas e chinesas? Como conseguem ler e escrever naquela sopa imensa de símbolos esquisitos?

Não precisamos da reforma do Sr. Ernani Pimentel. Precisamos redescobrir como se ensina e aprende com eficiência, especialmente através da disciplina, da cobrança e da meritocracia. A reforma proposta me parece uma mutilação que, como dizem alguns críticos, transformará a escrita de hoje em língua estrangeira para as gerações futuras. Portugal desdenha dessas iniciativas e sequer adota, de fato, a última (inútil) reforma ortográfica. Estamos caminhando para oficializar um dialeto brasileiro e não para uma reforma da língua portuguesa.