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Resgate de criança feita refém pelo próprio pai marca carreira de policial militar em Brusque

Caso de resgate atendido por Joici Mari Meschke Muraro foi registrado no livro “Bope: Guardião de Missões Especiais”

Por Luiz Antonello
luiz@omunicipio.com.br

Com mais de 20 anos na Polícia Militar, a 2º sargento Joici Mari Meschke Muraro atuou em incontáveis ocorrências na região do 18º Batalhão da PM. Porém, o caso mais marcante para a brusquense de 42 anos foi o de um pai que fez o próprio filho de refém no bairro Limeira.

Era janeiro de 2015 e a policial recorda que trabalhava na rua com o colega Sedrez. Então, os dois receberam o chamado via 190 para conter o homem alcoolizado que estaria perturbando a vizinhança com gritos e ofensas. Alterado, o homem se trancou em um quarto com a criança de apenas 6 anos e colocou uma faca no pescoço dela.

Assista ao vídeo e conheça a história do resgate de uma criança feita refém pelo próprio pai:

No local, ela constatou que o homem se recusava a conversar com qualquer pessoa, seja policial ou familiar. “Comecei a conversar com ele, que respondeu aos meus questionamentos. Ele me disse ter se separado da esposa e queria que ela viesse ali para conversar com ele”, relembra.

Aos policiais, o homem pedia por mais bebida alcoólica. “Como ele se trancou no quarto, colocamos um espelhinho por debaixo da porta para ver o que acontecia lá dentro. Ele estava com o filho, com uma faca no pescoço. Ele dizia que mataria o filho e se mataria em seguida, caso a mulher não aparecesse”, continua.

Joici ficou por cerca de três horas conversando com o homem. “Não sei como, mas consegui acalmá-lo, para que ele não fizesse nada”, diz.

Nesse meio tempo, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) foi acionado. Quando o esquadrão chegou, Joici foi mantida como negociadora.

No momento certo, o Bope invadiu o local e resgatou a criança, que não se feriu. Ao tentar conversar com o menor, Joice viu que se tratava de um menino com autismo e dificuldade na fala. “Foi bem difícil. Ele estava com medo e traumatizado, era o próprio pai que manteve ele sob uma faca”, salienta.

Fotos: BOPE/Arquivo

Sobre essa ocorrência, Joici diz que não sabe quais foram os desdobramentos após o resgate. “A gente procura não saber muito, para não se envolver demais. Podemos tomar as dores e, às vezes, há uma decisão no processo que nos deixa com a sensação de injustiça. Não nos envolvemos muito por conta da saúde mental”, explica.

O caso foi registrado no livro “Bope: Guardião de Missões Especiais”. A publicação traz a história do batalhão por meio de ocorrências marcantes.

Em 24 de dezembro de 2010, homens invadiram uma casa enquanto a família confraternizava na véspera de Natal no bairro Dom Joaquim. O assalto foi anunciado e a família reagiu. Entretanto, os homens estavam armados e um senhor acabou sendo baleado.

“Fui a primeira guarnição a chegar no local. Os caras haviam fugido e prestei os primeiros socorros à vítima. A bala perfurou o intestino e ele quase morreu”, detalha.

Joici aguardou os bombeiros, que levaram o senhor ao hospital. Então, continuou as buscas pelos assaltantes, que foram presos cerca de três horas depois. “Eu me lembro que, alguns anos depois, continuava recebendo cestas de Natal e Páscoa do senhor, como forma de agradecimento. É gratificante ter uma pessoa que reconhece o que você fez”, completa, sorridente. Hoje, o senhor é vizinho de Joici.

Foto: Luiz Antonello/O Município

Em 2002, quando tinha apenas 20 anos, Joici foi convencida pelo namorado a fazer o concurso da polícia, pois ele também faria e os dois poderiam estudar juntos. Contudo, ela passou e ele não.

No início, Joici recorda que sentiu um pouco de medo, mas, com o apoio do então namorado, continuou. “Acho que, um ano e meio depois, o relacionamento acabou, mas a polícia ficou”, relembra, rindo.

Em 2017, ela começou a trabalhar na seção técnica da Polícia Militar. Então, Joici foi promovida a cabo e, em 2019, após dez meses em Florianópolis, ela se formou em curso de sargentos.

Hoje, ela continua na seção técnica. Apesar do foco mais administrativo, a policial ainda realiza serviços na rua, como sargento externo em operações. “É um ambiente totalmente masculino, então não tem como dizer que a gente não sofre nenhum preconceito ou somos tratadas diferente. Mas, por parte dos policiais, sou tratada com bastante respeito. Porém, na hora da ocorrência, a maioria delas envolve homens. Então, tem uma diferença, principalmente no físico. Nada do que a gente não consiga lidar”, finaliza.

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