Carta de Anita Garibaldi- Parte V Final
Em 1906, Olavo Bilac, o Príncipe dos Poetas, publicou que eu, Anita, não fui “apenas a amante e esposa do célebre guerrilheiro Giuseppe Garibaldi: fui a sua companhia de armas, a sua inspiradora, a sua amiga e conselheira, o seu bom gênio”. Olavo Bilac realmente sabia elevar dois sentimentos humanos comuns nas suas obras: o amor à mulher e a veneração à Pátria. Que bom, fiquei feliz por ter sido assim descrita pelo poeta mais lido do país nas duas primeiras décadas do século XX e idolatrado ainda em vida pelos brasileiros.
Por minha bravura, fui imortalizada como Anita Garibaldi, “a Heroína dos Dois Mundos”. Em minha memória ergueram-se vários monumentos no Brasil e na Itália, e meu nome é lembrado na denominação de dois municípios de Santa Catarina, Anita Garibaldi e Anitápolis. Meu nome também nomina praças e muitas ruas, tanto na Itália como no Brasil, e a ponte suspensa estaiada em Laguna, a segunda ponte estaiada em curva do Brasil.
Em 1972 foi criada, em minha homenagem, a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, uma honraria concedida pelo governo catarinense para pessoas físicas ou jurídicas, nacionais e estrangeiras, que, no campo de suas atividades, tenham se distinguido de forma notável ou relevante e tenham contribuído direta ou indiretamente para o engrandecimento do Estado. No anverso da medalha, gravada em relevo, entre palmas, está a minha efígie, segundo o modelo da estátua em minha homenagem implantada na praça que leva o meu nome em Laguna, onde nasci. A entrega da medalha acontece em solenidade pública, no dia 25 de novembro de cada ano, dia de Santa Catarina de Alexandria.
Em 2012, meu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília. Esse Livro registra, perpetuamente, os nomes de brasileiros ou de grupos de brasileiros que tenham oferecido a vida à pátria, para sua defesa e construção, com excepcional dedicação e heroísmo.
Também quero lhes contar um fato recente que me trouxe grande felicidade e orgulho. Agora, além de estar entre as palavras do poeta, de ser tema de músicas, filmes, peças teatrais e de novelas, de emprestar o meu nome para cidades, ruas, praças e pontes, de ter uma medalha em meu nome, e ter o meu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, recentemente o meu último vestido foi pesquisado e replicado por uma universidade catarinense muito conceituada. Entre os anos de 2022 e 2023, o lindo vestido preto, de seda, que eu havia recebido de presente das senhoras de Cetona pouco antes da minha morte, em 1849, foi objeto de estudo dos pesquisadores da Unifebe, em Brusque. Pois é. Quanto orgulho! As pesquisadoras Edinéia e Rosemari foram até a Itália e à República de San Marino pesquisar sobre os meus últimos dias de vida e sobre o único traje que me pertenceu e que ainda está preservado. Depois o estudo foi aprofundado em Brusque. E, entre os resultados da pesquisa, foi produzido um manequim que reproduziu com exatidão as medidas do meu corpo gestante nos meus últimos dias de vida, e a réplica fiel do meu vestido, tudo isso apresentado publicamente no final de 2023. Que honra poder servir à ciência e à humanidade!
E assim, nesta quinta publicação, finalizo o resumo da minha história, E, desta vez, a minha história, de uma vida de lutas pelas Repúblicas do Brasil e da Itália, uma história de glória que é de todos nós, foi contada por uma mulher, Rosemari Glatz. “Antes – como diz Lígia Fagundes Telles, em As Meninas -, a mulher era explicada pelos homens. Agora é a própria mulher que se desembrulha, se explica.” Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus Ribeiro, *Brasil, 1821. + Itália, 1849).