Ruído intenso é uma das causas de perda de audição de trabalhadores da indústria
Nos últimos anos, empresas e trabalhadores tiveram mais conscientização sobre importância da proteção auditiva
Quando se trabalha numa indústria, o funcionário está exposto, diariamente e por muitas horas, a ruídos que podem ser prejudiciais para a audição. Isso pode, inclusive, causar problemas, como a perda auditiva induzida por ruído (Pair), uma doença que se desenvolve lentamente e demora anos para apresentar os primeiros sintomas. Para evitar essa situação, o que as empresas e funcionários podem fazer é se conscientizar sobre a importância do uso de equipamentos de proteção.
A Pair tem como maior característica a degeneração das células ciliadas do órgão de Corti, que faz parte do ouvido interno. A lesão é, de acordo com o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva, sempre bilateral e com padrões similares, e costuma deixar de progredir com o fim da exposição ao ruído intenso. A presença da doença não deixa a audição mais sensível ao ruído, e a perda não costuma ser maior do que 40 decibéis nas frequências baixas e 75 decibéis nas altas.
A fonoaudióloga Morgana Mendes explica que todo trabalhador de indústria que estiver exposto a um ruído acima de 85 decibéis pode ter a audição prejudicada. Como medida preventiva, as empresas adotam os protetores auditivos como parte dos equipamentos de proteção individual.
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O presidente licenciado do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Brusque e Região (Sintimmmeb), José Isaías Vechi, afirma que, no passado, a Pair foi uma doença bastante preocupante. “Hoje as empresas utilizam protetores auriculares, isso inclusive é lei. Foi uma questão que o sindicato bateu muito em cima”, comenta.
Um trabalhador que apresenta Pair pode desenvolver intolerância a sons intensos e ter prejuízo na comunicação oral, queixando-se de zumbido e tendo dificuldade de compreender a fala. Também conhecida como perda de audição por pressão sonora elevada, a doença começa a aparecer após anos de exposição ao ruído: “Não é da noite para o dia. Com a exposição, os primeiros sintomas se manifestam depois de 10, 12, 15 anos, dependendo da sensibilidade do indivíduo”, diz a fonoaudióloga.
Segundo Vechi, a conscientização dos trabalhadores e das empresas aumentou muito nos últimos cinco anos: antigamente, ele conta, as indústrias não forneciam os equipamentos de proteção e, quando forneciam, os funcionários não os utilizavam.
O coordenador do Fórum Sindical de Brusque, Jean Carlo Dalmolin, comenta que, anualmente, é realizado o “Abril Verde”, mês dedicado à conscientização quanto às doenças do trabalho, com palestras e eventos que tratam do assunto. A utilização dos equipamentos de proteção é uma das maneiras de evitar que doenças como a Pair se desenvolvam.
Sintomas
Quando fica difícil compreender as conversas e a pessoa passa a pedir para os outros repetirem o que estão dizendo, pode ser um sintoma da doença.
Morgana afirma que casos comuns, como não diferenciar algumas palavras, é uma diferença auditiva: “Não entender se a pessoa disse faca ou vaca, por exemplo, é uma perda da distinção clara de sons. Muita gente pensa que isso não é auditivo, que pode ser decorrente de outros fatores”. Com a dificuldade em compreender e interagir com outras pessoas, mais sintomas podem se manifestar, como a depressão e o isolamento.
Enquanto o trabalhador industrial estiver exposto ao ruído, a perda é contínua. “Começa de maneira fraca e vai se intensificando. Existem outros fatores que causam perda auditiva, como o envelhecimento ou o trauma acústico, que é a exposição a um barulho muito forte. E sempre começa de onde parou”, diz a fonoaudióloga.
Isso significa que, se uma pessoa deixou de estar diariamente exposta a ruídos, a perda cessa. Mas, a partir do momento em que outra causa de diminuição da audição se apresente – como o envelhecimento -, a perda se intensifica, começando do ponto em que parou.
Prevenção
Segundo Morgana, a melhor prevenção para os trabalhadores é o uso do protetor auditivo. “Há outras medidas que as empresas podem tomar, como enclausurar máquinas, por exemplo. Mas é importante a conscientização quanto à prevenção e, se uma indústria fornece, é porque é necessário o uso”, pontua.
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“Nós do sindicato criamos um departamento de Saúde e Segurança no Trabalho para fazer a orientação, tanto aos trabalhadores quanto às empresas. Houve muita resistência ao uso, muitos alegavam que causa desconforto, mas, com o tempo, cada um foi se adequando e utilizando o tipo de protetor a que mais se adapta”, pontua o presidente licenciado do Sintimmmeb, José Vechi.
Os tipos mais comuns de protetores auditivos são o plug, que é inserido na orelha e tem níveis menores de proteção devido ao material de que é feito; e os abafadores externos, em forma de concha, que conferem mais proteção ao usuário. Eles inibem as frequências mais agudas, que são as que causam a Pair.
Como a perda não acontece rapidamente e só se manifesta após anos, pode parecer que está tudo bem nos exames de audiometria, mas a audição já está sendo prejudicada, como explica Morgana: “É como se fosse sujeira sendo colocada no lixo. Vai colocando, e uma hora a lixeira transborda, o problema vai aparecer.”