Se Edward Jenner, pai das vacinas, estivesse vivo, com certeza festejaria o lançamento da nova vacina contra a Dengue, em fase final de aprovação pela Anvisa. A vacina chamada de Butantan DV é o resultado de anos de pesquisas dos cientistas do Instituto Butantan em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos.

O Instituto Butantan é um dos centros de pesquisas mais importantes do país e no que se refere a produção de imunobiológicos é um dos mais importantes do mundo. O Instituto inaugurado em 1901 com o nome de Instituto Serumterápico inicia seus trabalhos com o desafio de ajudar no controle de uma epidemia de peste bubônica que acometia a cidade de Santos, naquela época o principal porto para a exportação de café, o mais importante produto para a economia brasileira da época.

Brasil tem um dos melhores programas de vacinação pública do mundo (se não o melhor) justamente porque existe o Butantan que é responsável pela fabricação de mais de 70 % de todas as vacinas do Programa Nacional de Imunização.

O Instituto fabrica 100% das doses de vacina contra a gripe aplicadas no SUS, uma das principais armas para proteger a população idosa das complicações e mortalidade que essa doença provoca principalmente nos meses de inverno.

A nova vacina contra a Dengue tem sido testada nos estudos de fase 3 em populações de 2 anos até 59 anos, mostrando um índice de proteção de 79,6%. O Butantan afirma que está se estruturando para poder fabricar 100 milhões de doses nos próximos três anos.

É uma excelente notícia, se a população colabora com a vacinação em poucos anos veremos cair o número de casos da doença, diminuição dos casos graves, menos sequelas e menor mortalidade. Para que essa colaboração aconteça é necessário um trabalho árduo para recuperar a credibilidade das vacinas.

A cobertura vacinal das nossas crianças que superava os 90 % hoje em dia é inferior ao 70%, existindo o risco do aparecimento de surtos de doenças infecciosas que já estavam controladas.

Trabalham no Instituto renomados pesquisadores brasileiros que trabalham em várias áreas de pesquisas, oferecem cursos de mestrado e doutorado muito disputados por formandos de todas as áreas das ciências.

Em 2020 o Instituto inaugurou um moderno laboratório para a produção de anticorpos monoclonais, que são um tipo de imunoglobulina específicas para combater doenças infecciosas, autoimunes ou neoplásicas.

Embora inicialmente focados na produção de anticorpos contra doenças infecciosas, nada impede que no futuro possa produzir anticorpos contra doenças de outra natureza. Atualmente muitas doenças que não respondiam adequadamente aos fármacos tradicionais são tratadas com medicamentos biológicos como é o caso destes anticorpos.

Muitos tipos de leucemias, linfomas, doença de Alzheimer e até a enxaqueca tem a possibilidade de serem tratadas com anticorpos específicos. Um dos grandes empecilhos para o uso destes biofármacos é seu alto custo, a produção deles em uma instituição pública pode facilitar o acesso a este tipo de medicamento no futuro.

É o que vai acontecer com a vacina da dengue do Butantan que tem algumas vantagens em relação à vacina japonesa Qdenga.