“A sensação foi de pânico e defesa”, relata motoboy que deu cadeirada em assaltante no Santa Rita
Tentativa de assalto terminou com criminoso machucado e preso
Tentativa de assalto terminou com criminoso machucado e preso
O expediente chegava ao fim na sorveteria Qmay na noite de domingo, 26 de dezembro, após o Natal, no bairro Santa Rita, em Brusque. Por volta das 21h, um homem de capacete entra no estabelecimento, segue até o caixa e anuncia o assalto. Segundos depois, ele é interrompido por uma cadeirada, dada pelo motoboy Márcio Pedro Correia, de 42 anos.
Márcio relembra que, quando o criminoso entrou no local, ele estava sentado perto da porta do estabelecimento, de costas para a ação. “Eu não percebi que tinha chegado esse sujeito, ele foi diretamente no caixa e eu estava no celular conversando com a minha filha combinando algo para a virada de ano. Ele anunciou o assalto, só que ele falou baixo. Aí teve um som de batida e eu percebi”, conta.
Uma câmera de segurança flagrou a reação de Márcio, que foi por trás do assaltante, pegou uma cadeira e atacou. Segundo ele, tinha uma criança no local e, por estar de capacete, o assaltante não viu a aproximação dele.
“Joguei o meu celular no chão, vi a questão da segurança da criança e reagi. Eu queria defender, principalmente a criança. Não me veio outra coisa na cabeça”, relata. “A sensação foi de pânico, eu achei que ele iria puxar uma arma de fogo, porque tinha um volume ali, a gente não esperava por aquilo”, completa.
O momento em que os funcionários detém o homem também foi registrado pela câmera de monitoramento. Quem estava no caixa era o vendedor Max Alves de Moraes, 32, irmão de Márcio. Ele foi ajudar o motoboy a imobilizar o assaltante até a chegada da polícia.
A tensão se instalou no local, pois os funcionários da sorveteria não sabiam se o assaltante estava armado. “Nós não sabíamos que ele tinha uma faca, só vimos depois que ele foi imobilizado, depois que batemos nele. A gente só queria defender mesmo, ficamos com medo por causa dos filhos. É uma empresa familiar, tinham clientes, estavam todos aqui”, continua Max.
Segundo Márcio, um cliente que estava na sorveteria com a esposa ajudou a desarmar o assaltante. Em seguida, outros também ajudaram, como o atendente Gabriel de Souza Correia, 19, sobrinho de Márcio.
O jovem conta que atendia um casal naquele momento. Ele viu de longe a ação do criminoso e avisou os clientes que se tratava de um assalto. “Aí ele bateu no caixa e o meu tio deu a cadeirada. Os clientes saíram assustados, a minha tia deu os meus primos para eu cuidar. Mas pensei que ele poderia ter uma arma e vim de volta ajudar”, complementa.
Após imobilizar o assaltante, a Polícia Militar chegou ao local. Segundo a PM, foi necessário conter as pessoas que estavam no local porque queriam linchar o homem. Ainda segundo a polícia, ele estava bastante machucado, recebeu voz de prisão, foi levado ao Hospital Azambuja e logo depois foi para a delegacia.
Aviso: cenas fortes.
A família é do interior de São Paulo. Antes de se mudar para Santa Catarina, Márcio chegou a trabalhar em uma plantação de cana-de-açúcar. Aqui no estado, eles buscaram criar o próprio negócio e, no final de 2017, abriram a Qmay Sorvetes.
Com 4 anos de estabelecimento, Max conta que a sorveteria nunca tinha sofrido um assalto até então. Tanto que, quando foi anunciado o assalto, ele achou que se tratava de uma brincadeira. “Nunca passou pela cabeça. Aí quando a gente percebeu que era um pouco mais sério veio o instinto de proteger a família, o local e os clientes”, comenta.
Segundo ele, o assaltante de 32 anos tinha 33 passagens pela polícia, sendo oito pelos mesmos atos: assalto com arma branca. “Complicado. Quantas pessoas ele já não fez de vítima? Quantas fizeram boletins e quantas não denunciaram?”, questiona.
Márcio, Max e Gabriel se machucaram ao tentar imobilizar o criminoso. Mais de uma semana após a tentativa de assalto, eles ainda carregam os ferimentos. Contudo, além dos arranhões e alguns hematomas, o que fica também é a sensação de insegurança.
“Hoje a gente fica bem ansioso e apreensivo, será que volta de novo? O que será que vai acontecer? A gente olha cada um que entra aqui e se olhar diferente pra gente já ficamos assustados. Já chegamos a chamar a polícia para fazer uma ronda aqui. Na verdade, tudo vai ser diferente depois desse fato”, finaliza Max.
Após a repercussão do vídeo da câmera de segurança, a família avalia a reação como instintiva. “Não é o certo, mas e aí? Se for para defender o que é seu, como vai ser a reação? Não tem como saber”, diz Max. “É coisa de momento, parece que é automático”, completa Márcio.
O comandante do 18º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Otávio Ferreira Filho alerta que, apesar da situação ter terminado bem para os funcionários, reagir a um assalto é muito arriscado.
“É algo que não se deve fazer, nunca se sabe se o assaltante está sozinho ou se tem outras pessoas com ele. Nunca se sabe qual tipo de armamento que ele, ou outras pessoas que estão junto, possam estar portando. Então, não vale a pena correr esse risco, pois a vida é uma só”, defende.
Otávio pondera que a reação de defesa da família foi impulsionada por estarem trabalhando em um domingo, após um feriado. ”Não tem coisa pior você estar trabalhando para ganhar o pão de cada dia e um bandido aparecer do nada querendo tirar tudo o que você arrecadou através do seu suor e da sua família”, diz. “Mas não é algo que se deva fazer. A orientação é nunca reagir, pois as consequências podem ser muito maiores e piores”, completa.
Portanto, o comandante reforça que nestes casos a polícia deve ser acionada tão logo possível, no telefone 190.
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