O fato mais interessante sobre o jogo do Brasil contra a Venezuela, em Fortaleza, pelas eliminatórias da copa, não tem nada a ver com futebol. É que os jogadores da seleção venezuelana aproveitaram a estada no Brasil para irem às compras. Mas não foram a lojas caras para esbanjar dinheiro, como costumam fazer os nossos jogadores. Foram a supermercados da cidade, para comprarem itens básicos de higiene, como escovas de dentes, dada a terrível crise de abastecimento por que passa seu país. A Venezuela é o país-sede de uma idiotice chamada “bolivarianismo”, capitaneada pelo falecido Hugo Chavez, um bufão que levou o país ao tal “socialismo do século XXI”. O passeio dos jogadores venezuelanos é a prova do sucesso do seu projeto, já que todo tipo de socialismo leva, inevitavelmente, à miséria coletiva (se alguém tiver um exemplo contrário, eu adoraria ficar sabendo!).
Chavez e seu sucessor, Nicolás Maduro, mergulharam a Venezuela numa crise sem precedentes. Por inveja de Cuba, eles também conseguiram deixar seus habitantes em filas de até cinco horas para comprar papel higiênico. A imprensa venezuelana não viajou para acompanhar sua seleção. Um repórter de lá disse que a passagem de avião custaria um ano inteiro de seu salário.
Além da miséria, o país vive uma ditadura implacável. O líder da oposição foi preso e condenado em julgamento prá lá de suspeito, já que no “socialismo do século XXI”, o judiciário está a serviço do poderoso chefão.
Mas o curioso é que, enquanto tudo isso acontece por lá, tivemos, nas duas últimas semanas, programas de TV de partidos políticos brasileiros pregando o tal “socialismo democrático”. Em pleno 2015, não consigo entender essa propensão absurda ao autoengano e à negação da realidade. Socialismo democrático é como círculo quadrado: uma contradição de termos.
Na América latina, já temos Cuba e Venezuela em situação calamitosa: um mistura indigesta de miséria econômica e escravidão política a um partido único. Mas esses países são os aliados de primeira ordem do governo brasileiro e destino de bilhões do BNDES para o financiamento de suas ditaduras. E nós ainda corremos o risco de nos aliarmos a eles também na miséria e na ditadura. A atual crise econômica já é um indício. Em termos de corrupção e incompetência já estamos empatados.
Resta confiar no que ainda não foi corrompido das nossas instituições e no senso crítico do povo – apesar de todo aparelhamento ideológico – enquanto ainda temos papel higiênico e escovas de dentes em relativa abundância.