Supremo Turismo ou GilmarPalooza
Presidido por Francisco Mendes, não o Chico da causa ambiental, mas o filho do ministro Gilmar Mendes, o Instituto de Direito Público realizou o Fórum de Lisboa. O evento teve como tema “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”. Não é pouca coisa para ser estudado e debatido em três dias. Como ninguém é de ferro, as noites lisboetas oferecem um excelente bacalhau às natas, embaladas pela nostálgica melodia do fado para renovar as forças e turbinar as fontes de inspiração
Cerca de 200 autoridades, ministros dos tribunais e do governo, parlamentares e governadores lá estiveram, sob olhar crítico da imprensa e da opinião pública. Ninguém entende a razão de se ir tão longe, do outro lado do Atlântico, a fim de discutir os nossos problemas em terras lusitanas. Porém, com passagens e diárias de elevado custo pagas pelo poder público, nenhuma autoridade desta saqueada República se nega ao heroico sacrifício.
Não se pode também desmerecer o prestígio de Gilmar Mendes. Fundador e grande sócio do IDP, um convite seu, mesmo que informal, leva o peso capa preta do STF. E isso soa como uma intimação para qualquer autoridade desta República de salamaleques se animar a participar do GilmarPalooza que, além das palestras sem qualquer proveito para os interesses nacionais, se transforma num irresistível festival turístico e gastronômico.
Da suprema corte, foram cinco ministros, quase a metade do tribunal, inclusive seu presidente, Luiz Roberto Barroso. Foram os mais criticados. Pela função que exercem, deveriam dar o exemplo em termos de austeridade. Ao contrário, são contumazes palestrantes de além-mar, deixando Brasília com frequência, às custas de recursos públicos. Há menos de um mês, alguns já haviam estado na Inglaterra participando de evento semelhante.
Um deles esticou a palestra para assistir a uma partida final da Liga dos Campeões. O capricho desportivo do grande magistrado custou aos cofres públicos mais de 90 mil reais em diárias para a sua Suprema segurança. O camarote nada custou ao bolso do povo. Foi patrocinado por um empresário brasileiro que, se já não foi, talvez um dia baterá às portas do STF. Em um país mais sério, esse magistrado já teria sido despido de sua negra toga.
É evidente que tudo isso tem um discutível custo de alguns milhões de reais. Os organizadores dizem que o evento conta com o patrocínio financeiro de empresas. E como não há festa de graça, diz a imprensa que essas empresas são autoras ou rés em processos que tramitam no STF.
Não se sabe quanto foi gasto com passagens, hotéis e comida para bancar essa febre patriótica dessas autoridades viajantes, a fim de debater as “soluções” para os grandes problemas nacionais, no estrangeiro. Segundo apurou o Estadão, o evento custou mais de um milhão e trezentos mil reais aos cofres dos três poderes da nação. Isso, arranha os princípios constitucionais da moralidade no trato dos recursos públicos. Mas, se os supremos magistrados lá estiveram, a capa preta da suprema justiça a todos haverá de acobertar.