Tensão marca audiência de suspeitos de integrarem organização criminosa
Forte aparato de segurança foi organizado pela polícia; 17 dos 20 réus estavam presentes
Forte aparato de segurança foi organizado pela polícia; 17 dos 20 réus estavam presentes
A audiência estava marcada para as 12h30 de ontem, mas bem antes disso, policiais militares e agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap), fortemente armados, organizavam-se para fazer a segurança do local.
Trata-se do início do julgamento de 20 acusados de integrarem uma organização criminosa na região de Brusque e em outras do estado, presos no ano passado durante operação denominada Opus.
Na sala da audiência no Fórum, 17 deles estavam presentes, além de familiares; outros dois estão soltos e um está foragido. O processo é longo: há mais de uma centena de testemunhas a serem ouvidas. Na frente do Fórum, policiais militares observavam atentos a qualquer movimentação suspeita.
O Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), órgão responsável pela acusação, havia pedido ao juiz do caso que a audiência fosse sigilosa, o que foi negado pelo magistrado. O MP-SC alegou que se trata de uma organização criminosa com tentáculos em todo o estado e, portanto, havia vários riscos, no caso de uma audiência pública.
Em petição apresentada ao juiz, a Promotoria informou que havia risco à segurança dos envolvidos, assim como de ataques de organizações rivais e, também, de tentativa de resgate de réus presos.
Por isso, um forte esquema de segurança foi mobilizado. Na entrada do Fórum, acesso controlado: só foi permitida a entrada de quem lá trabalha ou tinha compromisso marcado. Ainda assim, todos passaram por revista pessoal.
Antes mesmo do ato processual, boatos se espalharam via redes sociais. Mensagens no WhatsApp informavam que havia orientação para evitar a circulação no entorno do Fórum, o que foi desmentido pelo comando da instituição.
Na sala de audiências, o acesso foi liberado a familiares e testemunhas, também mediante senha e revista pessoal. Quem era liberado na portaria passava por uma segunda revista antes de entrar na sala da audiência. Ali, uma policial militar também utilizou o detector de metais.
Qualquer objeto que representasse risco era vetado. Um policial solicitou a um dos visitantes que deixasse na portaria um isqueiro, o qual trazia acompanhado de um maço de cigarros.
Pouco antes do início da audiência, havia bastante tensão nos olhares dos policiais militares e agentes do Deap envolvidos. A quantidade deles, aliás, se destacou. Tanto nos corredores do Fórum quanto dentro da sala, havia quantidade de policiais igual ou maior do que a de pessoas circulando.
Segundo o major Heintje Heerdt, da Polícia Militar de Brusque, 50 PMs foram designados para a segurança, a maioria deles de Brusque, mas também com apoio de policiais de Blumenau. Até o fim da tarde, nenhuma ocorrência havia sido registrada envolvendo a audiência.
A sala da audiência estava lotada. No espaço principal, conduzia os trabalhos o juiz Edemar Leopoldo Schlösser, da Vara Criminal de Brusque. Ao lado dele, a acusação, representada pela promotora Susana Perin Carnaúba. À direita e à esquerda do juiz, advogados de defesa dos réus.
Inicialmente, o magistrado leu o extenso relatório da acusação, contendo todos os crimes atribuídos aos 20 acusados. A lista é grande: tráfico de drogas, associação criminosa, corrupção de menores.
Os réus estavam algemados nas mãos e nas pernas e vestiam o tradicional uniforme laranja do sistema penitenciário catarinense. Policiais militares e agentes do Deap os circundavam. Não conversavam entre si, mas esporadicamente com os agentes penitenciários, servidores dos quais um pequeno número usava máscara para não ser reconhecido.
Primeiro a depor, o delegado da Polícia Civil, Alex Bonfim Reis, disse que se identificou que agentes públicos ligados à segurança estavam sendo vigiados por membros da organização.
Em algumas oportunidades, os réus solicitavam se ausentar da sala da audiência, possivelmente para ida ao banheiro. Quando isso acontecia, agentes próximos a ele colocavam-se em estado de atenção, prontos para qualquer eventualidade.
O primeiro depoimento, do delegado Alex Bonfim Reis, revelou a origem da operação. De acordo com ele, a Operação Opus teve início com a apreensão do celular de um dos réus, conhecido como Kamikaze, em outra ocorrência, de tráfico de drogas.
Ali, foram encontradas conversas via WhatsApp de meses anteriores à apreensão, as quais, analisadas pela Polícia Civil, revelaram a atuação de uma organização criminosa na região.
Nas conversas, diz o delegado, ficou claro que havia papeis definidos a diversos integrantes da organização, os quais foram identificados a partir das conversas de WhatsApp.
Um deles, relatou, utilizava até uma carteira assinada, para transparecer que possuía um emprego lícito, enquanto atuava no tráfico de drogas.
“Eu tô fazendo o que tô fazendo mas eu to trampando. Minha carteira é assinada, tá ligado?”, dizia uma das mensagens obtidas pela polícia, de acordo com a promotora Susana.
Antes de prestar depoimento, em entrevista, o delegado informou que a operação refletiu na melhoria dos índices de criminalidade de Brusque.
“Após a operação, o índice caiu na cidade, isso refletiu em uma série de outros delitos. Hoje o foco da Polícia Civil é o combate a essas organizações. A gente entende que isso repercute de forma muito positiva pra toda sociedade”.
A Operação Opus foi deflagrada em 23 de agosto de 2017, quando foram feitas diversas prisões de suspeitos de envolvimento com organização criminosa. Opus é o nome dado a um tipo de codificador de mensagens utilizado pelos réus.
Após o inquérito policial, o Ministério Público ofereceu denúncia contra os réus, que apresentaram defesa. A denúncia foi recebida pela Vara Criminal, que agora iniciou a instrução do processo, com audiências que vão ouvir os réus, testemunhas de defesa e de acusação.
Por fim, defesa e acusação apresentarão alegações finais e, de posse de todos os testemunhos e documentos, o magistrado irá proferir a sentença.