Trabalho feito a muitas mãos: brusquenses contam suas histórias de décadas de relação com o Sintrafite
Sindicato se consolidou e é respeitado na região por causa do esforço de muitas pessoas
Sindicato se consolidou e é respeitado na região por causa do esforço de muitas pessoas
Nos 90 anos do Sintrafite, milhares de pessoas deixaram sua marca como funcionários, membros da diretoria ou associados. Cada um deixou sua contribuição, seja grande ou pequena, para que o sindicato se consolidasse e se tornasse o que é hoje.
Um deles foi João Decker, 72 anos. Ele entrou na diretoria do Sintrafite em 1980. João foi convidado por duas chapas que disputaram a eleição, quando trabalhava na Renaux, e escolheu concorrer por aquela que acabou vencendo. A partir disso, foram quatro décadas fazendo parte da diretoria do sindicato.
Ele foi tesoureiro, secretário-geral, vice-presidente, secretário de assistência e também responsável pelo departamento jurídico. Na fábrica, ele era mecânico, mas desde que se afastou do trabalho na Renaux para se dedicar ao sindicato viu a necessidade de se especializar para dar um melhor atendimento ao associado.
Por isso, procurou uma formação. Primeiro, estudou Estudos Sociais. Depois, se formou em Direito e ainda fez uma pós-graduação em Direito Previdenciário.
“Me orgulho do trabalho que eu fiz. Fazer parte de uma diretoria de sindicato é algo muito sério, é uma grande responsabilidade. São 90 funcionários. É como se fosse uma empresa. Mas se fosse para iniciar de novo, faria a mesma coisa. Fiz faculdade com três filhos pequenos, minha esposa trabalhava como professora, e era uma responsabilidade muito grande. Mas eu sentia a necessidade”, conta.
A decisão de deixar o Sintrafite aconteceu após a morte de Luis Carlos Groh, o Finoca, que também fazia parte da diretoria, em dezembro de 2020. Desde então, João decidiu se dedicar mais à família e a si próprio. As memórias de momentos marcantes, porém, ficam para sempre.
“No dia do aniversário de Brusque, em 1984, marcamos uma assembleia no sindicato para reivindicar um reajuste para as fiandeiras. Mas a resposta foi negativa. Então, a assembleia, que estava lotada, resolveu entrar no desfile do município no Centro. E assim se fez. Na época, o prefeito era o Celso Bonatelli, muito amigo nosso, e entramos durante um intervalo, de surpresa. Estávamos com faixas e paramos em frente ao palanque para demonstrar nossa indignação pela negativa do sindicato patronal. O resultado da nossa manifestação foi 25% de aumento salarial para todos”, lembra.
Nesses 90 anos de história, em que João contribuiu ativamente por 40, ele acredita que sua principal contribuição foi o equilíbrio.
“Nós precisamos de equilíbrio e harmonia. Se estamos reivindicando, temos que respeitar os argumentos dos outros também. É importante as entidades existirem, é com diálogo que se transforma a sociedade”.
O Sintrafite se consolidou pelo trabalho que realiza na região e se tornou um dos maiores do estado, com muita credibilidade, no estado e fora dele. Para ele, a manutenção do sindicato forte se dá pela seriedade do trabalho realizado ao longo dessas nove décadas.
“O Sintrafite pode se orgulhar porque faz o papel que é dos governos. Além de reivindicar qualidade de vida para o trabalhador, segurança, salários, ainda está preocupado com a saúde. Feliz daquele que tem um sindicato para se apoiar”.
A trajetória da enfermeira Paula Tormena no Sintrafite começou há mais de quatro décadas. Em 1980, ela foi convidada para trabalhar na farmácia do sindicato, onde ficou poucos meses antes de ser transferida para o ambulatório, onde trabalha até hoje.
Apesar de ter se mantido no mesmo setor, Paula viu o sindicato se transformar. O prédio onde ela trabalha atualmente foi construído depois, por exemplo. Mas não foi só isso.
“As coisas foram muito modernizadas desde que eu comecei e rapidamente. As estruturas cresceram. Tinham também poucos associados, bem diferente do que temos hoje. Cada dia cresce mais e o Sintrafite também, está cada vez mais evoluído”, destaca.
Paula acorda todo dia às 4h para começar a trabalhar às 5h. Ela conta que, no seu setor, é uma “faz-tudo”. Atende na recepção, trabalha com os dentistas, é responsável pelo fichário, aplica injeção, faz curativos, mede a pressão. No que precisar, ela está pronta para ajudar. “Aqui, somos uma família. Funciona igual uma casa”.
Para Paula, o Sintrafite é como sua casa, e seus colegas de trabalho sua família. Desde que começou a trabalhar no sindicato, muito mudou também na sua vida. Ela casou, teve filhos e se sente muito grata por toda a sua trajetória.
“Me sinto triste que daqui a pouco terei que parar. Se pudesse, começaria tudo de novo. Adoro trabalhar aqui, adoro as pessoas. Minha vida toda praticamente foi aqui dentro”.
Luis Carlos Dognini, hoje com 61 anos, trabalhou por mais de 25 na Appel. Desde o seu início na empresa, ela faz parte do Sintrafite e, até hoje, segue como associado, mesmo já como aposentado.
Ele explica que sempre percebeu o bom serviço que o Sintrafite fornecia e, também pensando no futuro, se associou após um mês de trabalho. Desde então, ele segue sendo um membro ativo.
“Eu e minha esposa Maria de Fátima já queríamos ter filhos e, desde aquela época, já eram muitos os benefícios. Nunca deixei de participar das assembleias e nunca deixei de me manifestar, mesmo depois de me aposentar. Hoje, uso mais os serviços do Sintrafite do que quando eu trabalhava”.
Entre 2000 e 2003, antes de se aposentar, Luis fez parte da diretoria do Sintrafite. Nesta função, onde tinha o papel de representante do sindicato dentro da fábrica, foi muito cobrado pelos associados, mas também passou a valorizar ainda mais a função da entidade.
“A bandeira do Sintrafite é lutar pelos trabalhadores e seus direitos. Eu vi e participei de algumas paralisações buscando mostrar aos patrões que os funcionários também têm seus direitos. O sindicato sempre esteve ao lado dos funcionários, buscando melhores condições. O trabalhador não quer nada além de uma situação digna. Sempre digo que o Sintrafite é o associado. Se lutar pelo que é seu direito, o sindicato vai bem”.
Luis ainda lembra que vários serviços disponibilizados pelo Sintrafite atualmente vieram de solicitações que ele ouviu dentro da fábrica.
“Foi de lá que saiu a ideia do salão de corte de cabelo, do cardiologista, de ampliação da área de fisioterapia. São demandas que os trabalhadores trazem diretamente”.
O trabalho sério é o que mantém a relevância, a boa reputação do Sintrafite até hoje na opinião de Luis. Ele destaca também que o engajamento dos associados é essencial para que o sindicato continue firme nas suas lutas e na disponibilização de tantos serviços.
“Infelizmente, não são todos os trabalhadores e classes que têm um sindicato tão atuante. É difícil manter tudo isso, mas o Sintrafite, com um trabalho sério e com os pés no chão, fornece esses benefícios para os associados e dependentes”.