Tremor sentido em Brusque em abril é o segundo em cinco anos
Último sismo na cidade havia sido registrado em dezembro de 2013
Último sismo na cidade havia sido registrado em dezembro de 2013
Um terremoto de 3,6 graus na escala Richter causou abalos no solo em Brusque e região na sexta-feira, 13. De acordo com a Defesa Civil do município, houve quatro ocorrências registradas, mas nenhum dano ou vítimas. O sismo foi sentido em diversos bairros da cidade, e em Guabiruba, Botuverá, São João Batista e Nova Trento.
O geólogo Juarês Aumond diz que o abalo sísmico surpreendeu pela sua amplitude. Ele atingiu não só a Grande Florianópolis, mas também municípios mais para o interior do continente, como Blumenau.
De acordo com a Defesa Civil catarinense, há duas informações. Uma, do Centro de Sismologia da Universidade de Brasília (UNB) e do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP), dá conta de que houve um abalo sísmico de 3,6 graus a 35 quilômetros da costa de Santa Catarina.
Já o United States Geological Survey (USGS) apontou que houve um sismo de 3,2 graus, por volta do mesmo horário, em Santo Amaro da Imperatriz, na Grande Florianópolis. Para Aumond, existe uma possibilidade, numa análise preliminar, de que, tenha, de fato, acontecido os dois tremores, não apenas um.
Se fossem dois, haveria explicação para o grande raio de alcance do terremoto. As linhas pelas quais o abalo se propagou são difusas para serem de uma única fonte.
De acordo com Aumond, o terremoto deverá ser alvo de estudos de geólogos e outros profissionais nos próximos dias e meses.
Incomum
“Esse tipo de abalo é incomum no Brasil, e quando ocorre, é abaixo dos 3 graus”, diz Aumond. A explicação para a raridade em haver terremotos no país, sobretudo no Sul, é que a crosta terrestre que fica abaixo do continente é muito espessa.
O geólogo considera que é provável que tenha havido dois terremotos no estado – em Santo Amaro e no mar – porque a identificação do epicentro de um fenômeno é relativamente simples. O fato de haver duas informações de órgãos confiáveis difusas indica que podem existir dois tremores distintos.
Segundo o geólogo, um terremoto de 3,6 graus é considerado leve, já que a escala Richter vai até 10. Ele explica que o abalo percorreu um “pacote de rochas com cerca de 1 bilhão de anos”.
O abalo em Brusque aconteceu por volta de 9h30. Ele foi sentido em vários bairros da cidade. Kelly Penha, moradora da travessa Lagoa Dourada, no Souza Cruz, estava na cama, mexendo no celular, quando sentiu o tremor.
“Olhei e vi o guarda roupa tremendo e as toalhas que ficam penduradas nele estavam balançando. Foi quando percebi que poderia ser um terremoto talvez. Mas disse só comigo: não é possível. Foi tudo bem rápido, coisa de cinco ou dez segundos, por aí”, comenta.
“Quando desci da cama, o chão ainda tava vibrando. Foi bem rápido e parou. Fiquei apenas em alerta achando que poderia acontecer novamente. Ia descer, mas parou”, completa Kelly.
Joseane Ouriques Raulino, do bairro Primeiro de Maio, lavava louça quando a casa tremeu. “Eu estava lavando louça e senti que deu uma tremida tipo quando passa um caminhão. Mas aí pensei que, aqui em cima [a casa fica num morro], para acontecer isso, tem que ser caminhão muito grande”, diz.
O sismo também foi sentido no Águas Claras. A moradora Eloisa de Freitas estava arrumando a cama quando a sentiu chacoalhar. Ela chegou a pensar que havia alguém mexendo o móvel e se assustou.
Luciana Dias Torresani, do bairro Paquetá, também sentiu o abalo. “Estava deitada e senti a cama tremer, a casa estremeceu, as janelas fazendo barulho. Foi muito rápido. Fez um barulho assustador”, comenta.
No entanto, como foi de leve intensidade, o marido de Luciana, no quintal, não percebeu nada.
Região
Em Guabiruba, um leitor comentou no Facebook que sentiu o abalo no Lageado Baixo. Houve também relatos de que o tremor atingiu o Centro da cidade.
Suelen Graf sentiu o tremor no bairro Águas Negras, em Botuverá, no trabalho. Ela conta que os patrões também estranharam a trepidação, que durou poucos segundos. O prefeito José Luiz Colombi, o Nene, também escreveu no Facebook que o abalo foi sentido no município.
A Comunidade Bethânia, em São João Batista, também foi abalada. Segundo relatos, o tremor chegou a balançar as prateleiras e chamou atenção dos funcionários.
Em nota oficial, a Defesa Civil estadual informou que o terremoto de 3,6 graus foi o de maior intensidade registrado em Santa Catarina nos últimos dois anos. “Ressaltamos que eventos dessa natureza são atípicos para a região sul do território brasileiro”, disse, no comunicado.
O órgão estadual informou que investigará se as duas informações sobre o abalo são verdadeiras, ou se é apenas uma. Segundo a Defesa Civil, o abalo no mar ocorreu provavelmente “por uma possível acomodação da placa tectônica sul-americana, a qual encontra-se localizada entre outras placas tectônicas, com destaque para as placas tectônicas de Nazca e Africana, no contato oeste e leste, respectivamente”.
Já com relação ao possível abalo na região de Santo Amaro da Imperatriz o órgão não se pronunciou. Isso deve ser averiguado de forma mais profunda por geólogos nos próximos dias.
O jornal O Município noticiou um terremoto que atingiu o bairro Thomaz Coelho em 23 de dezembro de 2013. Segundo os arquivos, o sismo, à época, provocou rachaduras nas residências.
De acordo com relatos dos moradores à reportagem, a trepidação foi sentida, principalmente, nas ruas TC-011 e Angelo Lussoli. Foram dois eventos, um às 5h10 e outro às 6h09, sem grande intensidade. O tremor causou rachaduras, sem gravidade, em garagens e residências.
O geólogo Juarês Aumond esteve também em Thomaz Coelho na época, logo depois do terremoto. Ele conversou com moradores e avaliou de forma detalhada a ocorrência do terremoto.
Paralelos
Na época, o motivo do terremoto foi o contato entre duas rochas, com idades de 600 milhões e 1 bilhão de anos. São muito antigas, mas ainda assim podem provocar terremotos, como destaca o geólogo.
Juarês diz que, desta vez, o terremoto tem características similares. A princípio, também foi provocado pelo movimento de placas tectônicas. Somente uma análise profunda e embasada em dados confiáveis determinará com 100% de exatidão o fator que causou o tremor.
“Os terremotos provocados por placas tectônicas são os grandes terremotos, mas desta vez a intensidade foi baixa”, diz o geólogo.
Berço dos terremotos
Segundo o geólogo, Brusque já havia registrado terremoto semelhante no século 19. Ele destaca que até mesmo placas tectônicas muito antigas podem provocar abalos.
Aumond volta a repetir aquilo que falou a O Município por ocasião do abalo em Thomaz Coelho. “Podemos sugerir que Brusque, além de ser conhecida turisticamente como o Berço da Fiação e da Fenarreco, pode também ser conhecida como a cidade catarinense dos terremotos”.