João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Um discurso de louvor ao trabalho

João José Leal

Promotor de Justiça, professor aposentado e membro da Academia Catarinense de Letras - [email protected]

Um discurso de louvor ao trabalho

João José Leal

Desde que cheguei a esta cidade, passei a admirar o espírito de trabalho do povo brusquense. Há poucos dias, li um discurso pronunciado há um século, numa festa do Clube Esportivo Paysandu para a entrega do título de Presidente Benemérito ao industrial Carlos Renaux, grande benfeitor do clube e cujo estádio leva o seu nome. Pela leitura, ficou claro que essa cultura de ordem e trabalho vem de longe na história da nossa comunidade.

Pela importância do homenageado, que se destacara como o principal personagem da vida econômica e política da cidade, figura estimada pela grande maioria dos brusquenses, é provável que até torcedores do clube rival estivessem presentes ao evento esportivo de gratidão.

Como em todo ato solene, é claro que discursos não faltaram. O orador oficial, o jovem Adolfo Silveira, caprichou nos elogios e louvores, aplausos e exaltações ao principal capitão da atividade industrial brusquense. Começou dizendo que a simplicidade da homenagem não estava à altura de quem recebia o título, um brusquense com uma história de vida que deveria ser “venerada e perpetuada”, para que as “futuras gerações” pudessem dispensar-lhe “a necessária gratidão”.

Continuou dizendo que não era ao político que se estava prestando homenagem e, sim, ao “industrial, ao trabalho que abre as portas da riqueza e da felicidade, que nos curvamos reverentes com a alma em festa”. Para o orador, “a obra do industrial é imorredoura, pois o trabalho vive eternamente. É um edifício firme e indestrutível”. Enaltecendo de forma exagerada o valor e as maravilhas do trabalho, afirma que este “é a vida e a alegria; é a felicidade do pobre e o bem-estar do rico”.

Sua crença no milagre do trabalho parece não ter limites. Com palavras candentes, bradou que tudo o que existe, “desde o pequeno berço em que se balança a inocente criança até os grandes e luxuosos palácios; desde o templo onde se prega a fé e o amor ao próximo até as usinas onde se constroem as armas de guerra que espalham a morte, a dor e a destruição”, tudo isso, é obra do trabalho ao qual “devemos amar, venerar e render o nosso culto”.

Finalizando, o orador dirige suas palavras ao Coronel Renaux, em quem reconhece “a personificação de um trabalho inteligente e produtivo”, que sempre triunfou apesar dos obstáculos para “espalhar, às mãos cheias, a alegria e os meios de subsistência da classe trabalhadora”. Para o jovem tribuno, o homenageado seria o verdadeiro protótipo do “homem trabalhador que, apesar dos seus 60 anos, ainda luta incansavelmente pelo progresso e desenvolvimento da indústria que hoje conduz toda a vida e o progresso de Brusque”.

O futuro a Deus pertence, dizem uns. Outros, apontam para o Diabo. Apesar dos rasgados e merecidos elogios do jovem orador à capacidade empreendedora do industrial Carlos Renaux, suas empresas que durante um século foram o esteio da economia brusquense, não resistiram ao tempo e, tristemente, acabaram fechando suas portas.

 

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