Quem está próximo ou já passou dos cinquenta anos deve se lembrar com nostalgia do que era chamado de “método tradicional de ensino”, que era aplicado tanto nas escolas quanto nas famílias. Nós (embora não pareça, também faço parte desse grupo!) somos um elo que está quase se extinguindo, mas que ainda pode conectar os tempos atuais àqueles de outrora.
A partir da década de 1960, os métodos tradicionais passaram a ser alvo de críticas duríssimas. Quem nasceu em décadas posteriores ou conheceu pouco ou sequer ouviu falar do que era aquele modelo não tem um parâmetro adequado para julgar a Educação atual. Criticar esta Educação atual com base em valores tradicionais parece quase uma aberração, um “clamor no deserto”.
Não se trata, obviamente, de esconder os defeitos daquele tipo de Educação. O autoritarismo, um defeito facilmente derivado dela, nem sempre era educativo. A obediência que dele derivava muitas vezes era dissimulada. Embora autoridade e obediência sejam ingredientes essenciais ao processo educativo, essa relação é sempre delicada. O educador deve sempre cuidar para que o que ensina seja transmitido de tal forma que possa se tornar parte integrante da alma de quem aprende. Para tanto, deve-se exercer uma autoridade competente, firme e terna, que transmita confiança, e não apenas exerça o terror para obrigar um comportamento externo duvidoso. É claro que isso dificilmente acontecia de modo perfeito, e as falhas, tanto de pais e professores quanto de filhos e alunos (estes nem sempre de prontidão para fazer os esforços necessários ao seu desenvolvimento intelectual, afetivo e moral), deixavam muita margem a críticas.
A pedagogia que se estabeleceu nas últimas décadas, como reação aos métodos tradicionais, se caracteriza por um decréscimo constante da autoridade de pais e professores, uma tolerância crescente aos “jeitos individuais de ser”. Um dos resultados disso é que não é raro ler erros grosseiros em textos de universitários que acreditam piamente que podem escrever “do seu jeito”. A mesma tendência se verificou no comportamento moral, cada vez mais permissivo. Mesmo as regras básicas de boa educação têm sofrido horrores com essa tendência.
A Educação está numa encruzilhada. Há muita gente desencantada e pensando em desistir do ofício. No caso das escolas, arrisco-me a dizer que a questão salarial já nem é tão relevante, diante da indisciplina crescente, e de um entendimento equivocado dos direitos da criança, que torna os educadores cada vez mais reféns.
O fato é que a maioria dos educadores de hoje foram educados nos padrões “modernos’, as universidades continuam e continuarão insistindo em autores e práticas que reforçam essa tendência e nós continuaremos a parecer velhos retrógrados clamando no deserto. Mas não devemos jogar a toalha. Em algum momento no futuro essa tendência terá que ser revertida. E certamente o passado será olhado com mais atenção e carinho. Não para repetir os seus erros, mas para aprender com suas inúmeras virtudes.